sábado, 11 de fevereiro de 2012

O mesmo filme, de novo?

por Guilherme Scalzilli


Sindicatos e militantes de esquerda unem-se a lideranças demotucanas e à mídia empresarial para disseminar a falácia de que nas concessões de aeroportos pelo governo Dilma há remota semelhança com a privataria operada nos anos FHC. Todos sabem que o processo atual possui características muito próprias (na estrutura jurídica, nos valores envolvidos, na participação estatal, nos prazos, nas contrapartidas, nas reais necessidades que os motivaram), mas cada qual tem motivos para fingir o contrário.

Imprensa e oposição conservadora precisam criar fatos que abafem o escândalo suscitado por “A privataria tucana”, antes que eles ganhem interessados no Ministério Público e no Congresso. O objetivo é impedir uma longa e desgastante averiguação das denúncias, que chegue à campanha presidencial de 2014 na fase dos indiciamentos.
Os representantes dos trabalhadores dizem temer demissões e perda de direitos, mas nada permite garantir que isso ocorrerá. Pelo contrário, a tendência é de acréscimos em investimentos e contratações. O que deve acontecer, de fato, é um golpe nos esquemas de apadrinhamento para a distribuição de cargos nas estatais que administram os aeroportos. Muita gente perderá benesses agradabilíssimas com a mudança.

No fundo, em sua luta para marcar posição antagônica à dos adversários, parte da esquerda cai na armadilha de lhes fornecer um trunfo político-eleitoral e um antídoto para as necessárias críticas à sanha privatista da direita. O melhor caminho seria enriquecer o debate apontando as flagrantes diferenças entre os dois procedimentos e rechaçando esse dilema retórico. Aliás, mesmo que prevalecesse uma posição crítica, seria obrigatório embasá-la com argumentos minimamente sólidos.

Também existe ali um coro dissimulado de fracassólatras ávidos para comprovar suas tenebrosas adivinhações acerca da Copa do Mundo brasileira. A participação privada nos diversos setores que suportam o evento é uma das poucas chances de evitar o (ainda previsível) colapso, por exemplo, dos transportes aéreos. Mas é curioso como a defesa da soberania de repente se transmuta num discurso depreciativo sobre o país.

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