Ex-governador faz exigências para concorrer à Prefeitura de São Paulo, mas não assume a candidatura oficialmente e deixa mais uma vez o PSDB e aliados a reboque.
Pedro Marcondes de Moura
No dia 1o de fevereiro, o PSDB divulgou um vídeo institucional exaltando a realização das prévias para a definição do candidato tucano à Prefeitura de São Paulo. Nas imagens, fundadores da sigla enalteceram a chance de poder escolher democraticamente o seu candidato e ainda criticaram o modelo adotado pelo PT, dizendo que o ex-presidente Lula atropelou a militância e usou sua influência para impor o nome de seu escolhido, o ex-ministro da Educação Fernando Haddad. “O PSDB mais do que nunca se abre para a sociedade”, diz um dos participantes. Só que, ao mesmo tempo que a gravação era assistida por milhares de pessoas, cardeais tucanos já negociavam uma fórmula para contornar as prévias e definir o nome de José Serra como candidato do partido à prefeitura paulistana.
A principal negociação se deu a portas fechadas no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo do Estado de São Paulo. Para não se expor, Serra enviou como emissário o ex-vice-governador Alberto Goldman para o encontro reservado com Alckmin. Sem rodeios, segundo líderes tucanos ouvidos por ISTOÉ, foi apresentada uma lista com quatro condições de Serra para sair candidato. Em primeiro lugar, não ter de disputar a vaga com nenhum outro membro da sigla, o que na prática significa sepultar as prévias, marcadas para o dia 4 de março. Em segundo, apoio total do governador em sua campanha, atraindo partidos da base aliada e participando ativamente de atos públicos. Terceiro, liberdade para escolher o seu vice, o que na prática lhe dá a possibilidade de colocar alguém de confiança para que possa partir, em 2014, para outros projetos, como a Presidência da República. E, por fim, o controle da turbinada secretaria estadual de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia.
Embora tucanos ainda neguem a candidatura de Serra, ela já é considerada praticamente um fato consumado. O fortalecimento das negociações entre o PSD, do prefeito Gilberto Kassab, e o PT teria sido determinante para o ex-governador José Serra, após refutar diversas vezes, reavaliar a possibilidade de ser candidato. A única questão ainda pendente seria a data em que o ex-governador assumirá sua candidatura. Alckmin tem pressa, já Serra não pretende se manifestar tão cedo. O problema é que, ao não oficializar sua candidatura, Serra mais uma vez deixa o PSDB e aliados reféns da sua decisão. “Do Serra você pode esperar tudo e você pode esperar nada”, diz o líder do PSD, Guilherme Campos (SP). “Acabar com as prévias agora é assinar o atestado de óbito do PSDB”, critica o presidente estadual do PSDB, Pedro Tobias. Ao agir de maneira errática, Serra também lança dúvida sobre suas reais intenções eleitorais e reaviva na memória do eleitorado o ano de 2004, quando ele assinou um documento se comprometendo a não abandonar a Prefeitura de São Paulo, caso eleito, e depois deixou o cargo em 2006 para concorrer a governador. A história pode se repetir, se o tucano mantiver sua intenção de disputar novamente a Presidência da República em 2014.
Ao não confirmar sua candidatura de maneira oficial, Serra ainda coloca Kassab em uma situação complicada. Principalmente porque as conversas entre Kassab e o PT já estavam muito avançadas em torno da candidatura de Haddad. Algumas pessoas do PSD ouviram do prefeito que, a essa altura, ele poderia se sentir desobrigado de apoiar Serra. De outro lado, o eleitorado poderá não digerir tão facilmente um eventual gesto do prefeito de virar as costas para quem o alçou ao atual cargo. A mudança no tabuleiro passa também pelo DEM, que não faz questão de esconder que, mesmo com o ex-governador no páreo, a escolha de um eventual vice do PSD empurraria a sigla para a base de apoio de Gabriel Chalita (PMDB). Como se vê, a novela das eleições de São Paulo promete capítulos animados.
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