(*) Por: Paulo Sckromov - Via: Ivan Sckromov
Eis uma foto rara e preciosa, que mostra Mário Pedrosa no ato
de filiação ao PT, em 10 de fevereiro de 1980 (Eu, na foto, pareço distraído,
olhando de lado, mas, na verdade, estava feliz em poder viver aquele momento
histórico) . Filiações como essa, como a de Antonio Cândido, Sérgio Buarque de
Holanda, e, Paulo Freire, arrastaram muitas outras rachando virtuosamente a
intelectualidade que naquele momento iludia-se com os rompantes aparentemente
criativos de FHC.
Mário Pedrosa, filiado número um do PT, foi o intelectual
brasileiro que, mais que qualquer outro, marcou o século vinte . Procurem ler
sobre ele. Em 1927, com 27 anos, ele, militante do PCB, viajou para a União Soviética.
Queria conhecer Trotsky e outros líderes bolcheviques pessoalmente. Mas adoeceu
no meio do caminho, na Alemanha, onde companheiros da esquerda do PC Alemão
aconselharam-no a não seguir adiante, relatando-lhe que com a morte de Lenin
(assassinado por Stalin, segundo Krupskaia, esposa de Lenin). Iosif Dzhugashvil
- Stalin tomara de assalto o poder e desencadeava ofensiva repressiva e
desmoralizante contra os principais dirigentes da Revolução de Outubro.
Voltando ao Brasil, Pedrosa, reuniu um núcleo que logo depois
formaria a Oposição de Esquerda do PCB, fato que lhe valeu a expulsão do
Partido, que não mais tolerava tendências.Aos 35 anos, participou ativamente
dos confrontos com os integralistas (fascistas brasileiros) na Praça da Sé,
onde na mais dura batalha de rua, saiu ferido a bala. Exilado durante a
ditadura Vargas, foi para os EUA, onde ajudou na mobilização para que Trotsky a
obtivesse asilo no México. Tornou-se interlocutor do grande líder russo,
frequentando sua casa/bunker no bairro de Coyoacan. Em agosto de 1938, em
Périgny, França, participou da fundação da IV Internacional, sob o pseudônimo
Lebrun, sendo eleito para o seu Comitê Executivo. Aos 40 anos foi chamado as
pressas para a cidade do México para o enterro de Trotsky, assassinado pelo
agente stalinista Ramon Mercader.
Ao retornar ao Brasil, no final da ditadura Vargas, que
anistiara os militantes do PCB, Pedrosa reune um grupo de jovens intelectuais,
entre os quais Antonio Cândido, Patrícia Galvão, Hilcar Leite e funda o jornal
Vanguarda Socialista, que pretendia resgatar os valores revolucionários dos
bolcheviques, “conspurcados pela direção stalinista”.
Nos anos 1950, Mário dedicou-se principalmente as artes
plásticas e a poesia das quais era o crítico mais respeitado e incentivador.
Convivera pessoalmente com grandes muralistas mexicanos Diego Rivera e Frida
Kahlo, e com o poeta e escritor surrealista Frances André Breton. As Bienais
Internacionais de SP, ganharam qualidade e atração sob sua orientação. A
valorização da arte dos chamados povos primitivos e dos internos em Manicômios,
foi puxada por Mário Pedrosa. A discussão pública e fraterna que manteve com
Celso Furtado foi impressionante pela clareza de ideias, ajudando o grande
economista e amigo a melhor entender nossa burguesia e seus limites. (Eu
conheci Furtado na casa de M. Pedrosa, em 1979).
Com o golpe de 1964, Pedrosa exila-se no Chile e participa da
campanha vitoriosa de Salvador Allende, morto pelos militantes no golpe de 11
de setembro de 1973. No governo Allende, Pedrosa fundou o Museu da
Solidariedade e formulou aspectos da política cultural do governo socialista.
Em julho de 1979 participou comigo e com demais sindicalistas
criadores do Movimento pelo PT, de nossa primeira reunião pública, em que
reunimos uns mil operários na subsede do Sindicato dos Metalúrgicos de BH e
Contagem.
E na fundação, em 10/02/1980, Mário Pedrosa fez parte da mesa
honorária, ao lado de Sérgio Buarque de Holanda (Lélia Abramo e Apolônio de
Carvalho) a quem filiara ao Partido, que, por sua vez arrastou depois o filho
famoso: Chico Buarque de Holanda.
Em fins de 1981, Mário, mestre e inspirador, meu, de
Florestan, de Paul Singer e tantos outros lutadores, faleceu no RJ, sendo
enterrado com a bandeira vermelha e ainda sem manchas do PT, como pedira ao seu
secretário voluntário Darle Lara.
(*) Paulo Skromov foi presidente do Sindicato dos Coureiros
do Estado de São Paulo e participante do movimento sindical brasileiro desde a
década de 1960 e um dos articuladores e fundador do Partido dos Trabalhadores.
(**) Este blogueiro, teve a honra e a oportunidade de
conhecer e conviver com Paulo Sckomov e Mário Pedrosa, durante todo o processo
de organização e fundação do PT. Mário
era uma figura ímpar, que sobre a composição de seu nome, gostava de brincar
dizendo que seu nome significava: "Mar, rio, pedra e rosa"
Publicada por Paulo Cavalcanti
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