segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

MÁRIO PEDROSA O PRIMEIRO FILIADO DO PT


(*) Por: Paulo Sckromov - Via: Ivan Sckromov

Eis uma foto rara e preciosa, que mostra Mário Pedrosa no ato de filiação ao PT, em 10 de fevereiro de 1980 (Eu, na foto, pareço distraído, olhando de lado, mas, na verdade, estava feliz em poder viver aquele momento histórico) . Filiações como essa, como a de Antonio Cândido, Sérgio Buarque de Holanda, e, Paulo Freire, arrastaram muitas outras rachando virtuosamente a intelectualidade que naquele momento iludia-se com os rompantes aparentemente criativos de FHC.
Mário Pedrosa, filiado número um do PT, foi o intelectual brasileiro que, mais que qualquer outro, marcou o século vinte . Procurem ler sobre ele. Em 1927, com 27 anos, ele, militante do PCB, viajou para a União Soviética. Queria conhecer Trotsky e outros líderes bolcheviques pessoalmente. Mas adoeceu no meio do caminho, na Alemanha, onde companheiros da esquerda do PC Alemão aconselharam-no a não seguir adiante, relatando-lhe que com a morte de Lenin (assassinado por Stalin, segundo Krupskaia, esposa de Lenin). Iosif Dzhugashvil - Stalin tomara de assalto o poder e desencadeava ofensiva repressiva e desmoralizante contra os principais dirigentes da Revolução de Outubro.
Voltando ao Brasil, Pedrosa, reuniu um núcleo que logo depois formaria a Oposição de Esquerda do PCB, fato que lhe valeu a expulsão do Partido, que não mais tolerava tendências.Aos 35 anos, participou ativamente dos confrontos com os integralistas (fascistas brasileiros) na Praça da Sé, onde na mais dura batalha de rua, saiu ferido a bala. Exilado durante a ditadura Vargas, foi para os EUA, onde ajudou na mobilização para que Trotsky a obtivesse asilo no México. Tornou-se interlocutor do grande líder russo, frequentando sua casa/bunker no bairro de Coyoacan. Em agosto de 1938, em Périgny, França, participou da fundação da IV Internacional, sob o pseudônimo Lebrun, sendo eleito para o seu Comitê Executivo. Aos 40 anos foi chamado as pressas para a cidade do México para o enterro de Trotsky, assassinado pelo agente stalinista Ramon Mercader.
Ao retornar ao Brasil, no final da ditadura Vargas, que anistiara os militantes do PCB, Pedrosa reune um grupo de jovens intelectuais, entre os quais Antonio Cândido, Patrícia Galvão, Hilcar Leite e funda o jornal Vanguarda Socialista, que pretendia resgatar os valores revolucionários dos bolcheviques, “conspurcados pela direção stalinista”.
Nos anos 1950, Mário dedicou-se principalmente as artes plásticas e a poesia das quais era o crítico mais respeitado e incentivador. Convivera pessoalmente com grandes muralistas mexicanos Diego Rivera e Frida Kahlo, e com o poeta e escritor surrealista Frances André Breton. As Bienais Internacionais de SP, ganharam qualidade e atração sob sua orientação. A valorização da arte dos chamados povos primitivos e dos internos em Manicômios, foi puxada por Mário Pedrosa. A discussão pública e fraterna que manteve com Celso Furtado foi impressionante pela clareza de ideias, ajudando o grande economista e amigo a melhor entender nossa burguesia e seus limites. (Eu conheci Furtado na casa de M. Pedrosa, em 1979).
Com o golpe de 1964, Pedrosa exila-se no Chile e participa da campanha vitoriosa de Salvador Allende, morto pelos militantes no golpe de 11 de setembro de 1973. No governo Allende, Pedrosa fundou o Museu da Solidariedade e formulou aspectos da política cultural do governo socialista.
Em julho de 1979 participou comigo e com demais sindicalistas criadores do Movimento pelo PT, de nossa primeira reunião pública, em que reunimos uns mil operários na subsede do Sindicato dos Metalúrgicos de BH e Contagem.
E na fundação, em 10/02/1980, Mário Pedrosa fez parte da mesa honorária, ao lado de Sérgio Buarque de Holanda (Lélia Abramo e Apolônio de Carvalho) a quem filiara ao Partido, que, por sua vez arrastou depois o filho famoso: Chico Buarque de Holanda.
Em fins de 1981, Mário, mestre e inspirador, meu, de Florestan, de Paul Singer e tantos outros lutadores, faleceu no RJ, sendo enterrado com a bandeira vermelha e ainda sem manchas do PT, como pedira ao seu secretário voluntário Darle Lara.
(*) Paulo Skromov foi presidente do Sindicato dos Coureiros do Estado de São Paulo e participante do movimento sindical brasileiro desde a década de 1960 e um dos articuladores e fundador do Partido dos Trabalhadores.
(**) Este blogueiro, teve a honra e a oportunidade de conhecer e conviver com Paulo Sckomov e Mário Pedrosa, durante todo o processo de organização e fundação do PT.  Mário era uma figura ímpar, que sobre a composição de seu nome, gostava de brincar dizendo que seu nome significava: "Mar, rio, pedra e rosa"
Publicada por Paulo Cavalcanti

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