Delúbio Soares (*)
“Na última década, o progresso alcançado pelo povo brasileiro
inspirou o mundo.
Mais da metade desta nação é hoje considerada de classe
média.
Milhões saíram da pobreza.
A esperança está voltando aos lugares em que o medo
prevaleceu”
Barack Obama, em discurso no Rio de Janeiro (2011)
O Brasil assistiu o surgimento de uma nova classe média,
embalada pelos programas sociais do governo do presidente Lula e retirando 40
milhões de brasileiros da pobreza. Não só se fez redistribuição de renda, como
se redesenhou o mapa econômico-social do Brasil. Reduzimos fortemente as
desigualdades e solidificamos as bases de um país democrático, competitivo e
que assumiu definitivamente suas responsabilidade sociais.
Programas como o Bolsa Família, o Pro-Uni, o Pronaf, o Minha
Casa, Minha Vida, dentre outros, foram combatidos de forma radical por setores
atrasados da oposição e da imprensa, mas promoveram a mais profunda
transformação social já vista na história brasileira. A nova classe média é uma
das melhores facetas do Brasil atual, tendo sido a grande responsável pelo
sucesso de nossa economia e já tendo alcançado 46,6% do poder de compra dos
brasileiros em 2011, superando a abastada classe A e a poderosa classe B.
Um dos mais talentosos economistas brasileiros, o renomado
professor Marcelo Neri, lançou recentemente um dos mais interessantes livros da
atualidade, “A Nova Classe Média – O lado brilhante da base da pirâmide” (Ed.
Saraiva, 312 páginas), onde Neri, chefe do Centro de Políticas Sociais (CPS) da
Fundação Getúlio Vargas, analisa com competência e comprova com vasto material,
autêntico fenômeno de um novo país que se alicerça numa classe emergente e
fortíssima.
Marcelo Neri, conseguiu compatibilizar sua sólida formação
acadêmica com visão lúcida dos problemas nacionais e aguda sensibilidade
social, gerando um excelente e respeitável trabalho de ánalise indispensável
para o conhecimento e debate de um país que, definitivamente, deixou o círculo
da pobreza endêmica que nos atrasava secularmente. Após viajar pelos países
parceiros do Brasil no BRICS, Neri atesta que aprendeu, como economista social
brasileiro, que “o Brasil vai melhor para os brasileiros do que para os
economistas“.
Em sua indispensável obra, Marcelo Neri revela dados
auspiciosos, que por sí só atestam a força da verdadeira revolução social que
mudou a face do Brasil e o transformou em país mais justo e equânime. A renda
dos analfabetos, por exemplo, cresceu 47%; o Brasil se tornou “investment
grade” nas avaliações das importantíssimas agências internacionais de avaliação
e risco; a ONU nos reclassificou e agora o Brasil é “IDH alto“, ou seja, nossos
indicadores de desenvolvimento humano nunca foram tão bons; os pobres países do
BRICS (aí incluídos os do Brasil) são mais da metade dos pobres do mundo, mas
eles multiplicarão por sete, até 2050, sua relação de renda gerada pelos países
ricos do G7!
O desemprego caiu de forma definitiva, com a absorção da
mão-de-obra em praticamente todos os setores da economia brasileira. De 2003,
com a chegada ao poder de Lula, do PT e das forças de sua base aliada, os
programas sociais, com a distribuição de renda para os pobres, gerou um ciclo
virtuoso em nossa economia, favorecendo a indústria, o comércio, a construção,
os serviços e, por conseguinte, a forte diminuição das taxas de desemprego. Se
nos anos duros da ditadura militar, o próprio general Garrastazu Médici
comprovou, de forma surpreendente, que “a economia vai bem, mas o povo vai
mal“, com o estadista Lula o Brasil passou a ser um país onde a economia vai
bem e o seu povo, idem.
Para Marcelo Neri, existem poucos símbolos mais fortes do
surgimento da nova classe média brasileira do que a multiplicação das carteiras
de trabalho, observada desde 2004. Milhões de trabalhadores foram absorvidos
pelo mercado de trabalho de uma economia que voltou a crescer, que não foi
sequer arranhada pela crise norte-americana de 2008 e as posteriores crises que
debilitaram ricos países europeus. Enquanto verdadeiras ilhas de calmaria
econômica, como a Islândia e a Irlanda, além de integrantes da zona do Euro,
como Portugal, Espanha e Grécia, mergulham em cenários de forte depressão
econômica, com sérios reflexos em sua tecitura social, o Brasil e o continente
latino-americano dão mostras de superação de pobreza e considerável subida nos
indicadores econômicos e sociais.
O Brasil de Lula fez escola: no Chile, a então presidenta
socialista Michele Bachelet implementou vigorosos programas sociais baseados no
experimento brasileiro. E o seu sucessor, o mega-empresário Sebastián Piñera,
elegeu-se com o apoio forças de direita, mas assumindo o compromisso de
continuar tais programas e “ampliá-los ainda mais”. No Perú, Allan Garcia
deixou uma economia em ascenção para nosso companheiro Ollanta Humala, que não
só tem mantido as políticas econômicas como iniciou programas de distribuição
de renda e de apoio às classes populares baseados nos que Lula, vitoriosamente,
consagrou em seus dois excelentes mandatos presidenciais e no governo de Dilma,
que os tem aprimorado e estendido a mais brasileiros.
Em 13 dos 17 países do continente houve acentuada redução das
desigualdades sociais, como nunca dantes. Em todos eles, sem sombra de dúvida,
a marca inequívoca da influência do sucesso das políticas sociais do Brasil de
Lula e Dilma. Se nos anos de chumbo a ditadura militar exportava torturadores e
métodos de suplício na tristemente célebre “Operação Condor”, e se FHC e seu
governo neoliberal atrasaram a queda do ditador Fujimori ao forçarem a OEA na
aceitação da fraude eleitoral de sua re-releição, agora o Brasil de Lula e
Dilma exporta a vitoriosa receita de transformar pobres em cidadãos de classe
média, dando um rosto mais humano e feliz ao sacrificado continente.
O sonho de reduzir a desigualdade de renda, de forjar uma
sociedade mais justa e solidária, de unir o continente por laços sólidos de
atividades econômicas sustentáveis, tem sido conseguido com evidente êxito. O
Brasil capitaneou essa mudança para melhor. A América Latina, como também os
nossos parceiro no BRICS, vivem um momento excepcional, praticamente alheios à
dêbacle do velho mundo, onde consagrados modelos de economias pretensamente
sólidas caem de forma inapelável.
Não há dúvidas de que a base desse Brasil moderno e
vitorioso, com as desigualdades reduzidas e com as melhores chances de
firmar-se entre as quatro maiores economias mundiais em poucos anos (já somos a
sexta, tendo ultrapassado a sólida Inglaterra), é sua classe média. E ela foi
acrescida de mais 40 milhões de homens e mulheres, jovens e idosos, brancos e
negros, do interior e das capitais, de sul à norte de nosso imenso território
continental, analfabetos e nordestinos, justamente os mais marginalizados, os
que mais sofreram nos anos em que a coalização PSDB/DEM tentou parir um país para
uma elite de apenas cerca de 30 milhões de brasileiros, com uma Bélgica no topo
da pirâmide e uma Biafra na base.
Somos hoje um país que, ainda, se debate com vários poblemas,
mas superamos o mais vergonhoso deles: a miséria. Há um compromisso com a distribuição
de renda, a estabilidade democrática e o desenvolvimento econômico e social. O
Brasil ocupou o lugar que lhe cabia no cenário internacional, recuperando a
respeitabilidade perdida, conquistando novos mercados, merecendo a admiração
dos demais países, mostrando ao mundo o seu imenso valor.
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