Detesto Carnaval. Provavelmente porque desde que eu deixei de
frequentar os bailes de salão da adolescência e passei a não ter dia e hora
marcados pra entrar numa folia, só vi Carnaval na TV, nas madrugadas insones
dos intermináveis 5 dias da jornada, quando a outra opção era pastor
evangélico. E não tem coisa mais chata no mundo que assistir o Carnaval na TV.
Para meu alívio e de muitos, hoje temos a Internet e a TV por assinatura que,
embora seja dominada pela Globo, vende alivio nestes dias. Então, como não
assisti, ouvi dizer e li algumas coisas sobre o Carnaval deste ano.
Antes de mais nada vou logo admitindo: tenho pré-conceitos a
respeito da Globo. Na minha opinião, a emissora sempre será culpada, até provar
sua inocência. Tudo que apresenta em sua grade de programação envenena a mente
e o corpo do telespectador. A leitura dos fatos que escolhe veicular em seus
telejornais é distorcida, serve a interesses de uma elite decadente. A Globo tem
as mãos sujas de sangue por ter apoiado todos os golpes militares na América do
Sul – a começar pelo nosso que, em troca, deu-lhe concessão e financiamento.
Resumindo: as vezes a emissora manipula a opinião pública, noutras também.
Qualquer brasileiro minimamente antenado percebe que a Globo
odeia o PT de cabo a rabo, desde a sua fundação até os dias de hoje. E neste
ódio, há muito mais preconceito que diferenças ideológicas. Portanto, mesmo que
seu público mais rentável na programação esportiva, seja o torcedor corintiano,
era de se esperar que a emissora boicotasse a Gaviões da Fiel este ano, por
conta da homenagem que a escola anunciou que faria ao torcedor mais ilustre do
Corinthians.
A troca de última hora de dois dos jurados que avaliam o
desempenho das escolas, foi tão obviamente suspeita e por isso mesmo
teoricamente improvável, que até passaria batida, não fosse o fato de que,
justamente Mary Dana, introduzida de última hora no grupo, desse à escola a
menor nota (8,9) entre todas no tal quesito “evolução” – o que foi
aritmeticamente determinante para que a Gaviões despencasse para o sétimo lugar
na classificação geral. Assim, a escola não participou do desfile das campeãs
de ontem, quando Lula teria 99% de chances de ser liberado pelos médicos para subir
ao carro a ele reservado para o desfile. Impedir mais essa consagração do
presidente mais popular da história do Brasil foi uma questão de honra para a
Globo.
Por curiosidade, pesquisei e encontrei um número
impressionante: segundo o IBOPE, o Corinthians coleciona 25,8 milhões de
torcedores no Brasil – o equivalente à soma das populações de Portugal, Suécia
e Suíça! 14,4 milhões desses loucos – como eles mesmos se denominam, no bom
sentido, é claro – vivem no estado de São Paulo. Significa dizer que um em cada
três torcedores paulistas, é corintiano.
Sei o quanto é duro, caro e sacrificante para uma escola de
samba e seus componentes montar o desfile e imagino o quanto doeu terem sido
trapaceados. Então, viajei na maionese: a chamada “nação corintiana” é capaz de
eleger um prefeito sozinha! Talvez tenham sido determinantes nas vitórias
eleitorais de Lula e Dilma – já que ambos receberam algo em torno de 40% dos
votos válidos do estado de São Paulo. (Este potencial, claro, é tão fenomenal
quanto perigoso…) Mas será que essa nação tem noção de que corintiano unido
pode jamais ser vencido? Será que a Globo tem noção de que a trapaça que armou
não foi só contra a Gaviões, mas contra o Corinthians como um todo e contra o
próprio Carnaval paulista? Será que os dirigentes do Corinthians tem noção do
quanto a Globo depende do Corinthians para se equilibrar no Ibope de sua
programação esportiva? Mais fundo na maionese: e se depois dessa injustiça com
a Gaviões, o Corinthians resolvesse desfazer o acordo de venda de direitos de
imagem com a Globo e fechasse com a Record? O que a emissora faria além de
exigir o pagamento da multa por rescisão de contrato? E se a Record resolvesse
bancar a multa rescisória? A Globo iria paralisar o campeonato Brasileiro no
tapetão e perder os contratos com seus patrocinadores?
Bem que diretoria, jogadores e torcedores do Corinthians
podiam dar uma espiadinha no seu passado não tão longínquo, quando um tal de
Sócrates comandou a famosa Democracia Corintiana bem debaixo do nariz do general-ditador
João Figueiredo, e dessa vez, peitar a ditadura do plin-plin…
Ops! Plin-plin: acordei da viagem na maionese: vivemos na
selvageria do oligopólio midiático, terra sem lei. A ausência do Marco
Regulatório das Comunicações nos mantém reféns de uma emissora de TV que nos
tiraniza há quase 50 anos. A Globo manda no futebol. Os clubes ajoelham e rezam
a cartilha da emissora. Todos comem na mão da Globo. Inclusive o Corinthians.
Não sou corintiano, mas assim como a Gaviões, tenho grande
admiração pelo presidente Lula e sua história. Torci para que eles ganhassem.
Porque eu teria o maior prazer em ir até o Sambódromo para assistir o desfile
da escola, ver o Lula com aquele chapéu engraçado que anda usando e sentir
aquela tempestade de emoções que sempre acontece quando ele e a platéia se
encontram ao vivo.
Depois, dentro das quatro linhas do campo, é claro que o
texto seria outro…
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