O Brasil terminou o ano como sexta economia do mundo. Curiosamente, este fato despertou reações análogas tanto à direita quanto à esquerda. Como se estivéssemos numa olimpíada, bateu-se na tecla de que isso não era motivo para ufanismos. Ora, isso é uma tautologia.
Flávio Aguiar
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2012: coisas em que o Brasil precisa ficar de olho (1)
2012: coisas em que o Brasil precisa ficar de olho (2)
Para encerrar esta pequena série, chamo a atenção para que o Brasil deve ficar atento... ao Brasil.
Isso significa, em termos internacionais, prestar atenção ao que vai ao seu derredor imediato, a América do Sul, o Mercosul, a Unasul, o conjunto da América Latina. As iniciativas são boas na área, mas ainda parecem, pelo menos para quem olha de longe, estarem pouco consolidadas. Com isso quero dizer que, por exemplo, um retrocesso no governo brasileiro, com a eleição da direita, quase certamente provocaria retrocessos de monta em todas essas iniciativas. É necessário e urgente aprofundá-las todas, para que se tornem – e aqui vai um termo tão caro, no passado, às direitas as mais violentas do nosso país – “irreversíveis”.
Não duvido que uma parte do empresariado brasileiro esteja convicta de que essas iniciativas devam sobreviver a uma troca de governo. Mas também não duvido que parte – aliás, a maior parte – da nossa direita política vai querer capitalizar o ressentimento anti-Lula e anti-Dilma com promessas de reverter, também no plano internacional, as suas iniciativas. Isso significa voltar ao leito (ao leite, talvez) da subserviência mitigada ao Ocidente, Estados Unidos em particular.
Mas isso não basta. É necessário atentar também para a relativamente nova posição do Brasil no (des)concerto das nações.
O Brasil terminou o ano como sexta economia do mundo. Curiosamente, este fato despertou reações análogas tanto à direita quanto à esquerda. Como se estivéssemos numa olimpíada, bateu-se na tecla de que isso não era motivo para ufanismos. Ora, isso é uma tautologia. É óbvio que o nosso país continua com graves deficiências em muitos setores, da educação à infra-estrutura, e também da proteção industrial (o que envolve mais investimentos em inovação) e promoção cultural, por exemplo. E que a desigualdade, embora diminuída, segue gritante.
Mas de repente, por exemplo, vozes da direita descobriram que o salário mínimo em nosso país é muito baixo! É, é verdade. Mas está aumentando. E tudo se passa, para essas vozes, como se na mídia e fora dela, no passado recente, não houvesse acontecido uma campanha feroz para destruir o que tínhamos e temos de legislação trabalhista, envolvendo, entre outras coisas, escapachar o salário mínimo (sem falar no seu fim), e de sua influência no restante da renda assalariada no país – exatamente o que agora se faz, manu econômica, na Europa do Consenso de Bruxelas. À esquerda, ouvem-se vozes repetir mais ou menos o mesmo, e que, pelo menos, é o que sempre disseram, só que agora talvez com um tom maior de rabugice diante dos sucessos – ainda que modestos – dos governos Lula e Dilma até o momento.
O problema de ser a sexta economia do mundo não é o de ver nisto a panacéia para nossos problemas internos. É não ver o desafio externo que isso representa, com dois vieses. O primeiro é a demonstração inequívoca do anacronismo da ordem mundial, que vai desde a repartição de poderes no FMI ao Conselho de Segurança da ONU. Mas isso, se é uma boa notícia para o Brasil, também é uma complicação, pois significa que vai aumentar a resistência à ampliação da presença brasileira nos espaços internacionais por parte das grandes potências.
Isso se deve ao segundo viés: o Brasil segue sendo o porta-voz preferencial dos emergentes e do terceiro mundo. Ou seja, ele (ainda) não pertence ao clube do fraque e cartola da política internacional. Vai aumentar a pressão para que a política do país se torne “responsável”, ou seja, que passe a aceitar a cooptação pelas grandes potências.
Se isto provocar inflexões na nossa política externa, estará se reforçando a retórica interna das oposições, de realinhamento com o Ocidente. Com os retrocessos acima descritos e temidos. Quod erat demonstrandum.
2012: coisas em que o Brasil precisa ficar de olho (1)
2012: coisas em que o Brasil precisa ficar de olho (2)
Para encerrar esta pequena série, chamo a atenção para que o Brasil deve ficar atento... ao Brasil.
Isso significa, em termos internacionais, prestar atenção ao que vai ao seu derredor imediato, a América do Sul, o Mercosul, a Unasul, o conjunto da América Latina. As iniciativas são boas na área, mas ainda parecem, pelo menos para quem olha de longe, estarem pouco consolidadas. Com isso quero dizer que, por exemplo, um retrocesso no governo brasileiro, com a eleição da direita, quase certamente provocaria retrocessos de monta em todas essas iniciativas. É necessário e urgente aprofundá-las todas, para que se tornem – e aqui vai um termo tão caro, no passado, às direitas as mais violentas do nosso país – “irreversíveis”.
Não duvido que uma parte do empresariado brasileiro esteja convicta de que essas iniciativas devam sobreviver a uma troca de governo. Mas também não duvido que parte – aliás, a maior parte – da nossa direita política vai querer capitalizar o ressentimento anti-Lula e anti-Dilma com promessas de reverter, também no plano internacional, as suas iniciativas. Isso significa voltar ao leito (ao leite, talvez) da subserviência mitigada ao Ocidente, Estados Unidos em particular.
Mas isso não basta. É necessário atentar também para a relativamente nova posição do Brasil no (des)concerto das nações.
O Brasil terminou o ano como sexta economia do mundo. Curiosamente, este fato despertou reações análogas tanto à direita quanto à esquerda. Como se estivéssemos numa olimpíada, bateu-se na tecla de que isso não era motivo para ufanismos. Ora, isso é uma tautologia. É óbvio que o nosso país continua com graves deficiências em muitos setores, da educação à infra-estrutura, e também da proteção industrial (o que envolve mais investimentos em inovação) e promoção cultural, por exemplo. E que a desigualdade, embora diminuída, segue gritante.
Mas de repente, por exemplo, vozes da direita descobriram que o salário mínimo em nosso país é muito baixo! É, é verdade. Mas está aumentando. E tudo se passa, para essas vozes, como se na mídia e fora dela, no passado recente, não houvesse acontecido uma campanha feroz para destruir o que tínhamos e temos de legislação trabalhista, envolvendo, entre outras coisas, escapachar o salário mínimo (sem falar no seu fim), e de sua influência no restante da renda assalariada no país – exatamente o que agora se faz, manu econômica, na Europa do Consenso de Bruxelas. À esquerda, ouvem-se vozes repetir mais ou menos o mesmo, e que, pelo menos, é o que sempre disseram, só que agora talvez com um tom maior de rabugice diante dos sucessos – ainda que modestos – dos governos Lula e Dilma até o momento.
O problema de ser a sexta economia do mundo não é o de ver nisto a panacéia para nossos problemas internos. É não ver o desafio externo que isso representa, com dois vieses. O primeiro é a demonstração inequívoca do anacronismo da ordem mundial, que vai desde a repartição de poderes no FMI ao Conselho de Segurança da ONU. Mas isso, se é uma boa notícia para o Brasil, também é uma complicação, pois significa que vai aumentar a resistência à ampliação da presença brasileira nos espaços internacionais por parte das grandes potências.
Isso se deve ao segundo viés: o Brasil segue sendo o porta-voz preferencial dos emergentes e do terceiro mundo. Ou seja, ele (ainda) não pertence ao clube do fraque e cartola da política internacional. Vai aumentar a pressão para que a política do país se torne “responsável”, ou seja, que passe a aceitar a cooptação pelas grandes potências.
Se isto provocar inflexões na nossa política externa, estará se reforçando a retórica interna das oposições, de realinhamento com o Ocidente. Com os retrocessos acima descritos e temidos. Quod erat demonstrandum.
Flávio Aguiar é correspondente internacional da Carta Maior em Berlim.
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