Por: Redação da Rede Brasil Atual
São Paulo – Em cerimônia oficial realizada na tarde da terça-feira, (3), na sede do Arquivo Nacional, no Rio, a família do político e líder comunista brasileiro Luiz Carlos Prestes doou uma série de documentos e escritos pessoais do chamado "Cavaleiro da Esperança", que se encontravam sob a custódia da viúva, Maria Prestes. O ato foi realizado no dia em que Prestes completaria 114 anos.
O acervo doado é composto por 27 pastas, contendo documentos escritos e iconográficos, produzidos e acumulados pelo casal principalmente entre as décadas de 1970 e 1990. Desse acervo, constam ainda registros produzidos posteriormente ao falecimento de Prestes, referentes às homenagens póstumas que recebeu.
Entre os documentos, chama atenção uma lista com 233 nomes de torturadores - elaborada por presos políticos de São Paulo e datada de 1976. A relação, segundo ativistas de direitos humanos, abre caminho para reconstruir o período de exceção democrática durante a ditadura militar - tarefa que caberá à Comissão da Verdade, criada pelo Congresso Nacional, no ano passado.
Segundo Luiz Carlos Prestes Filho, também merece destaque, em termos políticos, os documentos que registram o empenho de seu pai – durante o período em que esteve exilado em Moscou, na década de 1970 – em denunciar à comunidade internacional a tortura e os assassinatos praticados pelo regime militar no Brasil.
Entre os documentos escritos que foram doados, encontram-se correspondências trocadas com familiares, amigos e líderes políticos de várias nacionalidades; relatórios de reuniões políticas; anotações, comentários e transcrições feitos por Prestes a partir da leitura de livros e jornais; aulas e textos referentes ao Partido Comunista Brasileiro; discursos, artigos, entrevistas, diplomas, moções de congratulação e outras homenagens concedidas a Prestes por entidades diversas; recortes de jornais e revistas referentes à sua trajetória, incluindo documentos posteriores ao seu falecimento, como os que tratam da inauguração do Memorial Coluna Prestes, em 1997.
Esses documentos se juntam às cópias de três manuscritos de Prestes, doados ao Arquivo Nacional em 2010, e cujos originais encontram-se no Arquivo do Estado Russo de História Política e Social, localizado em Moscou.
Revelações
A doação ao Arquivo Nacional do acervo pessoal de Prestes pode incentivar a entrega de outros documentos que ajudem a Comissão da Verdade a rever o período da ditadura militar (1964-1985). A avaliação é do diretor do arquivo, Jaime Antunes, que lançará neste ano uma campanha para receber esses documentos.
"Vamos fazer um chamamento, como fizemos em 2009, para que arquivos de civis e militares sejam incorporados como fonte de informação do período em que o Estado mostrou sua força ante movimentos de contestação", disse o diretor. Segundo ele, é comum que pessoas que ocupam cargos públicos misturem com seus artigos pessoais documentos de governo.
Durante a cerimônia de doação dos documentos Maria Prestes disse que espera ajudar na consolidação da Justiça, contra os torturadores. "Por que a gente tem que só apanhar? Se tem Justiça no Brasil, a Justiça deve apurar e deve punir."
Maria Prestes disse que a lista com os 233 nomes de torturadores foi entregue a seu marido por "homens de confiança" do Partido Comunista. "Nessa época, todo material de valor era levado para que Prestes tomasse conhecimento. Ele guardou e eu estou doando", contou a viúva.
A relação chegou a ser publicada por um jornal, que sofreu na época dois atentados e coincide com levantamento feito pelo Grupo Tortura Nunca Mais, organização não governamental que busca esclarecimento pelas mortes e desaparecimentos de militantes políticos no período.
História
Membro do Partido Comunista Brasileiro, obrigado a viver na clandestinidade em diversos períodos de sua vida, Prestes denunciou internacionalmente atrocidades do regime militar, principalmente de Moscou, onde viveu exilado por oito anos, desde 1971.
Antes disso, durante o Estado Novo, também brigou contra a ditadura de Getúlio Vargas. Neste período, sua primeira mulher, a alemã Olga Benário, que pertencia a Internacional Comunista, foi deportada grávida para a Alemanha de Adolf Hitler. Lá, foi morta em uma câmara de gás. A filha do casal, Anita Leocádia Benário Prestes foi criada pela avó paterna.
Na década de 1980, Prestes publicou artigos, proferiu palestras e participou de eventos, produzindo e difundindo análises da conjuntura política nacional e internacional. Foi agraciado com homenagens diversas. Ele faleceu em 1990, na cidade do Rio de Janeiro.
Com informações do Arquivo Nacional e da Agência Brasil.
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