Escrito por Yoshiaki Nakano
A economia brasileira deverá voltar a se recuperar em 2012, apesar da estagnação no terceiro trimestre deste ano. O panorama econômico sombrio e de incertezas com os desdobramentos da crise financeira nos países desenvolvidos não deverá ter maiores consequências sobre o desempenho da economia brasileira em 2012. Hoje temos uma política econômica com maior disciplina macroeconômica, que tem reagido rapidamente não só à inflação, mas também ao nível de atividade econômica.
A política monetária adquiriu maior independência em relação ao setor financeiro, tornou-se mais ágil, flexível e mais importante, prospectiva, reduzindo com isso a inércia da taxa de juros em patamares elevados desnecessários. Do lado fiscal, o governo fez também uma política fiscal mais controlada devendo, quando necessário, como está respondendo rapidamente à forte desaceleração, adquirindo um padrão anticíclico. Com essa melhoria na qualidade da política econômica e diversos outros fatores que deverão estar em operação positivamente a partir deste final de ano, podemos perfeitamente fechar 2012 com crescimento de 4% e inflação muito próximo da meta.
Mas antes de falarmos das perspectivas para 2012 cabe mencionar alguns dos fatores que atuaram para a desaceleração da economia brasileira neste ano dado o componente cíclico da recuperação em 2010 e desaceleração em 2011.
Antes de mais nada é preciso lembrar que no fim de 2008 tivemos um forte choque com a quebra do banco Lehman Brothers e acentuada contração no crédito doméstico que desencadeou uma forte redução na atividade econômica em 2009. Com os estímulos fiscais, injeção de crédito pelos bancos públicos e redução na taxa de juros em 2010, a economia brasileira recuperou-se muito rapidamente, com o PIB crescendo 7,5%.
Esses estímulos têm efeito similar ao de um choque e começaram a se esgotar no final de 2010, dando um caráter cíclico à forte recuperação, seguida de desaceleração. Além disso, a partir de outubro a inflação se acelerou, começando a corroer o poder aquisitivo dos salários. O Banco Central reagiu tomando medidas prudenciais de restrição ao crédito e elevando a taxa de juros a partir de dezembro. O governo Dilma, que tomou posse em janeiro, agiu de forma prudente, controlando os gastos públicos depois da forte expansão fiscal nos dois anos anteriores. Com isso, a economia brasileira teve uma forte desaceleração e deverá fechar 2011 com crescimento em torno de 3% e inflação acima da meta.
Vejamos agora o que deverá acontecer em 2012. A taxa de inflação, que vinha desde outubro de 2010 num patamar anualizada de mais de 9%, já sofreu uma queda de patamar devido ao recuo no preço das commodities a partir de maio e vem se comportando com uma média mensal que, anualizada, fica dentro da meta de 4,5%. Portanto, a inflação passada de 12 meses vem sofrendo queda e deverá continuar até meados do 2012. Se não houver surpresas desagradáveis, particularmente no início do ano, podemos fechar 2012 próximo da meta. Essa queda no patamar de inflação de mais de 9% para próximo a 4,5%, deverá prevalecer durante todo o ano de 2012, fazendo com que o poder aquisitivo dos salários seja melhor preservado, com impactos positivos sobre a demanda agregada e nível de atividade.
Nesse quadro de forte desaceleração, particularmente da produção industrial, o Banco Central e a Fazenda já tomaram medidas com redução nas restrições ao crédito, redução na taxa de juros e estímulos fiscais para bens duráveis de consumo para reverter o quadro de atividade econômica. Some-se a isso o efeito do aumento de 14% no salário mínimo que injetará cerca de R$ 60 bilhões na economia. Uma decisão que poderia ser desastrosa num quadro de crescimento converteu-se numa medida positiva, com significativo impacto na demanda agregada e emprego. Diante da forte desaceleração da economia neste final de ano, seu impacto inflacionário deverá ser minimizado. Outro aspecto que deverá trazer impacto positivo é que os estoques na indústria que estavam acima do desejado, deverão tender para a normalidade nesta virada do ano, com isso, a produção que havia caído abaixo da demanda para reduzir os estoques, deverá aumentar.
Esse conjunto de fatores conjunturais e maior agilidade tanto do Banco Central como do executivo em reagir às circunstâncias e a choques nos deixam otimistas em relação a 2012. Falta ainda levar a taxa de juros ao mesmo nível da internacional, tornar a taxa de câmbio mais competitiva e conter a despesa corrente do governo em relação ao PIB para tornar positiva a poupança pública e desmontar o mecanismo forçado de captação da poupança privada pelo governo (pagamento da taxa Selic no overnight, LFT etc?) que são travas que levam a taxa de crescimento para o limite inferior de crescimento potencial da economia brasileira. Apenas removendo estas travas ao crescimento e reduzindo o custo Brasil, a taxa de investimento poderá chegar a 24% ou 25% do PIB e o PIB crescer em média mais de 6% ao ano.
Yoshiaki Nakano, ex-secretário da Fazenda do governo Mário Covas (SP), professor e diretor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas - FGV/EESP, escreve mensalmente às terças-feiras.
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