Novos documentos sobre a ação conjunta de ditaduras
sul-americanas pode ajudar a esclarecer casos de mortos e desaparecidos pela
repressão
A dor de quem tem um parente desaparecido parece eterna. É o
caso de Deni Peres, que não sabe o paradeiro do irmão Luiz Renato Pires, o
único brasileiro que desapareceu na Bolívia, vítima da Operação Condor, ação
conjunta entre seis países sul-americanos, inclusive o Brasil, contra
opositores às ditaduras militares, no fim da década de 1970.
“É a falta de não ter enterrado um corpo, não ter um final”,
desabafa Deni Peres. O governo do Brasil reconheceu, até hoje, o
desaparecimento de 13 brasileiros fora do país durante a operação, sendo sete
na Argentina, cinco no Chile e apenas um na Bolívia.
Na tentativa de esclarecer o que ocorreu com esses
desaparecidos políticos, a Comissão Nacional da Verdade criou um grupo
exclusivo para tratar da Operação Condor. A coordenadora do trabalho e
conselheira da comissão, Rosa Maria Cardoso, diz que o grupo irá em busca de
documentos e depoimentos para resgatar a história. “Nós vamos caracterizar essa
operação, levantando questões factuais e evidências também. Vamos ver os
antecedentes no caso brasileiro”, disse.
O trabalho do grupo é visto por muitos como um princípio para
se tentar apurar os crimes – como o desaparecimento de pessoas – cometidos
durante a vigência da operação político-militar. Para a deputada federal e presidenta da Comissão
de Direitos Humanos da Câmara, Luiza Erundina (PSB-SP), a Lei da Anistia é um
dos entraves para as investigações. “Os generais militares foram anistiados com
a Lei da Anistia e os opositores tiveram que pagar com prisão, com exílio, com
processos na Justiça Militar. Lamentavelmente, é isso que a gente não pode
permitir, que haja mais retrocesso da democracia brasileira”, conclui.
Para o presidente do Movimento de Justiça e Direitos Humanos,
Jair Krischke, em alguns dos países que integraram a Condor - como, por
exemplo, a Argentina - a apuração dos crimes está em ritmo avançado.
“Precisamos resgatar a verdade. A Comissão Nacional da Verdade tem a obrigação
para com o povo brasileiro de resgatar essa verdade. Tem que dizer quem fez o
quê.”
Ele ressalta a criação das comissões estaduais da Verdade,
que servirão para impulsionar a comissão nacional. “Quanto mais, melhor. Para
ver se nós conseguimos, ao final das contas, chegar onde devemos chegar, que é
apontar aqueles que foram responsáveis por esses crimes.”
Fonte: Agência Brasil
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