O senador Aloysio Nunes (PSDB) e o Cel. Paulo Telhada,
vereador recém-eleito em São Paulo, durante caminhada de José Serra na capital.
Eleito pelo PSDB, Telhada espelha parte dos ideiais do malufismo.
Paulo Maluf dispensa apresentação. Carisma à parte,
representa uma das maiores aberrações da história da política brasileira e, em
particular, de São Paulo. Faltou pouco para ser presidente. Segundo o então
general Newton Cruz, cogitou até matar seu rival Tancredo Neves para isso à
época (disse isso em entrevista à Folha de S. Paulo em 2000). Sua musculatura
eleitoral teve fôlego até quase 20 anos depois do fim da ditadura que o
expeliu.
Paulo Maluf apoia Fernando Haddad, do PT, à prefeitura de São
Paulo. Dono de uma filosofia de vida resistente na capital paulista (e também
no interior), simbolicamente ele mais atrapalha que ajuda o petista. Devem ter
sido poucos os malufistas históricos que toparam votar no ex-professor da USP
neste 1º turno.
Haddad estava interessado em outra coisa: o tempo de TV que o
PP, partido de Maluf, acrescentou à coligação. Exposição na mídia é essencial
para uma campanha vitoriosa. E o sistema de coalizão pede resultados: dane-se
quem você é, eu quero o quanto você pode me dar.
Posto isso, é necessário dizer: a herança malufista não está
com o PT e nem está morta. Está com o PSDB, em sua maioria, mesmo que Celso
Russomanno (PRB) também tenha beliscado parte deste público. Esta parece ser
uma das confirmações das eleições municipais em 2012.
O declínio acentuado de Paulo Maluf desde as eleições de 1998
dá a entender que as mentalidades rudimentares o apoiaram eram parte do
passado. Me refiro ao sujeito que prefere um mandatário “que rouba, mas que
faça” (Maluf não diz isso, mas seu eleitor diz), que entenda que os problemas
da cidade são resolvidos com o dueto (I)
construção de viadutos, pontes e avenidas (priorizando o transporte pessoal
sempre) e (II) manutenção da ordem à base da força, com uma polícia que apela
para a força bruta ao primeiro sinal de conflito, e da “Rota na Rua”, mesmo que
a Rota tenha que atropelar absolutamente qualquer diretriz de direitos humanos
(“bandido bom é bandido morto”). Embora o “rouba, mas faz” não faça parte do
beabá tucano, o dueto de pensamentos aproximou o ideário de Maluf ao PSDB
atual.
Até 2004, o oposto do malufismo era o petismo. Ao mesmo
tempo, a antítese pessoal de Paulo Maluf era Mario Covas. Desde a primeira
eleição, porém, em que o PT e o PSDB polarizaram a disputa, em 2004, as viúvas
eleitorais de Maluf parecem tem migrado para os tucanos aos poucos.
Alguns fatos expressivos da gestão tucana no governo do
estado, especialmente de 2010 para cá, são atitudes que orgulhariam Paulo
Maluf: a invasão da PM ao assentamento do Pinheirinho, em São José dos Campos
(SP), a truculência da PM no caso da invasão da reitoria na USP e o aumento de
45% das mortes causadas pelas Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar, a Rota, em
2012. Esta última, inclusive, era desde
2011 comandada por Salvador Modesto Madia, réu na invasão do Carandiru há 20
anos — Madia foi escolhido a dedo pelo governador e depois caiu.
Na capital, a dobradinha José Serra (PSDB)/Gilberto Kassab
(PSD) não deixou por menos: 30 das 31 subprefeituras são comandadas por
oficiais da PM. A cereja do bolo: o PSDB deu guarita à candidatura do Coronel
Paulo Telhada, ex-chefe da Rota, famoso por incitar a violência em redes
sociais, criticar organizações em prol dos direitos humanos e, mais
recentemente, constranger um repórter da Folha de S.Paulo devido a reportagens
que não lhe agradavam. As declarações mobilizaram outros agentes, que passaram
a ameaçar o jornalista e o forçaram a fugir do País com sua família. Fugiu para
se proteger da polícia. Enquanto isso, Telhada, que matou 36 suspeitos de
crimes na carreira – todas as mortes foram em confronto e “dentro da lei”
garante – era eleito o quinto vereador mais votado de São Paulo e declarou
ter-se filiado ao PSDB por “lealdade a José Serra”.
Lealdade prontamente reconhecida pelo candidato tucano à
prefeitura. “(Telhada) Foi um homem muito competente, seguindo as orientações
do governo: uma política firme que respeita os direitos humanos”, disse José
Serra sobre ele após uma caminhada na zona oeste da capital, na quarta-feira
10, na companhia do Coronel.
É triste constatar que o malufismo segue vivo, embora
disfarçado com outras vestimentas e discursos oficiais. Isso certamente não
estava nos planos de Mario Covas, um dos mais respeitáveis nomes que já
governou a cidade e o estado de São Paulo.
http://www.cartacapital.com.br/politica/maluf-esta-com-o-pt-o-malufismo-com-o-psdb/
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