É da percepção até do mundo mineral que Dilma Rousseff, Lula
e a base governista são os vencedores deste primeiro turno das eleições
municipais, e que a mídia nativa, além de mentir, omitir e inventar, consegue
também ser patética. As lucubrações dos comentaristas no vídeo da noite de
domingo último evocaram os melhores programas humorísticos do passado com suas
tentativas de explicar o inexplicável.
E o mundo mineral sabe que a eleição de Lula em 2002 abriu
uma nova temporada na política brasileira ao abalar os alicerces da
casa-grande. Nesta moldura há de ser analisado o que aconteceu nos últimos dez
anos e o que acontece neste exato instante. Inclusive o fato de que o PSB
consiga resultados extraordinários em todo o País. Ocorre que Lula abriu as
cancelas da fazenda e Dilma dá perfeita continuidade ao governo do antecessor.
Está claro, na minha visão, que na aliança governista o PMDB
destoa e creio não ser necessário esclarecer por quê. Em todo caso, para usar
terminologias dos dias de hoje, o governo de Dilma Rousseff poderia ser
definido como de centro-esquerda, o que no Brasil assume significados mais
profundos que em outros países. E a respeito, desta vez, esclareço. Este
tempero de esquerda, esta alteração nítida nos rumos da política social e
econômica e da política exterior é francamente subversiva segundo a
casa-grande, inexistente em outros cantos, e como tal tem de ser enfrentada.
Toma-me o irresistível impulso de mencionar o Instituto
Millenium. Tem o poder de recuar aos tempos do Ibad, que nos primeiros anos da
década de 60 do século passado tramou decisivamente a favor do golpe.
Precisamos falar mais do Instituto Millenium, mostrar a que vem com este seu sombrio
nome nostradâmico. Para ele confluem polpudas contribuições de empresários
graúdos, bem como o apoio das Organizações Globo e da Editora Abril. O conúbio
assusta, mesmo porque sabemos que se recomenda neutralizar a lâmpada skuromatic
e, ao apagá-la de vez, produzir a luz ao meio-dia, como convém.
Estranhas contradições vicejam no Millenium, promovidas pelos
prestimosos emolumentos (mensalões) até de notáveis dispostos a se dizerem
democratas convictos, amigões de Dilma e Lula. Espanto? Ou serei eu um ingênuo?
Às vezes meus críticos botões me asseguram que sou mesmo. Não me iludo, porém,
quanto ao significado dos resultados eleitorais. Falam por si, embora
editorialistas, articulistas, colunistas não concordem.
Em São Paulo, digamos, praça onde Lula foi determinante,
embora tenha entrado tarde na arena, e onde Dilma deu o arremate. Eu não hesito
em vaticinar a vitória final de Fernando Haddad. Sei que com isso alimento os
rancores de José Serra, e dele permito-me dizer algo, em ótima fé e boa
consciência. Do ponto de vista ideológico, Serra já foi muito mais sincero do
que Fernando Henrique Cardoso. Há uma diferença sensível, creio eu, nos
temperamentos. FHC é um bon vivant, Serra um sofrido. FHC pode negar a si
mesmo. “Esqueçam o que eu disse”, recordam? Serra, por injunção avassaladora
nascida nas entranhas, tem de se explicar a si próprio o tempo inteiro.
Acredito na boa-fé do candidato tucano à prefeitura
paulistana. Vítima de suas ambições mooquenses (da Mooca), por amarguras e
decepções frequentes e até por dissabores buscados e cultivados, José Serra
tornou-se intérprete do pior reacionarismo da extrema-direita brasileira, feroz
sempre que esteja com as costas protegidas, pronta ao engodo e à mentira em
nome do êxito da casta.
E aí está, já exposto na fala de Serra, o argumento do
“mensalão”. CartaCapital está à vontade neste campo: sempre deixou claro
desejar justiça, agora e sempre, além e aquém do processo em curso. É evidente
que na conta da casa-grande o julgamento atual encerra o assunto.
Enganam-se. As urnas mostram que o País espera por mudanças e
pouco, ou nada, se interessa pelo “mensalão”. Que se desate este nó, mas que se
desatem todos os demais. Creio que os barões midiáticos deveriam cogitar da
aposentadoria dos seus analistas. E que o Instituto Millenium desista de se
dedicar à arqueologia.
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