Blair, Clinton e FHC, autores da maior contrarrevolução
social da História, ainda sonham com a ditadura ultraliberal dos países ricos,
e a volta dos pobres à condição colonial
Por: Mauro Santayana
No dia 28 de agosto, o Banco Itaú-BBA promoveu, em São Paulo,
um encontro dos dirigentes das 500 maiores empresas da América Latina – as que
faturam mais de US$ 100 milhões por ano – com os senhores Tony Blair, Bill
Clinton e Fernando Henrique Cardoso. “Eles estiveram à frente de grandes
potências mundiais e fizeram escolhas que mudaram a história. Agora eles vão
ajudar a escrever novos capítulos”, dizia o anúncio publicado nos jornais.
O BBA foi fundado em 1988 para operar no mercado de capitais,
coordenou a participação deestrangeiros nas privatizações do Brasil e teve teve
situação privilegiada no governo FHCTudo isso faz lembrar o iconoclasta Karl
Kraus, dedicado em sua vida inteira a destruir mitos de seu tempo. Um de seus
ensaios, de 1918, tem o título de Os Últimos Dias da Humanidade.
É até estranho que Clinton faça parte da trinca. É certo que
continuou no uso alternado dos bombardeios e das ameaças ao Iraque, de seu
antecessor, o primeiro Bush. Mas na administração interna, tendo bons
assessores econômicos, como Joseph Stiglitz (nos primeiros dois anos), seu
governo não foi exatamente igual ao de Blair.
Embora usando da mesma linguagem, e propondo medidas
democráticas (como a abolição da Câmara dos Lordes e sua transformação em
Senado, a ser eleito pelo voto), Blair, como Thatcher, foi parceiro
incondicional do governo norte-americano, também em matéria de política
internacional – principalmente depois da eleição do segundo Bush. Tal como Bush
Jr., ele enganou o mundo sobre o Iraque e as armas de destruição em massa. Sua
atuação interna foi de demolição da política social do trabalhismo britânico,
que vinha desde a criação do Labour Party, em 1906. Deixou seu país arrasado
pelo desemprego, pelo sucateamento da saúde pública, pela desesperança.
Mas, dos três, quem mais merece a homenagem dos banqueiros e
das 500 maiores empresas da América Latina é realmente Fernando Henrique. O BBA
foi fundado em 1988, numa associação de Fernão Bracher e Antonio Beltrán com o
Banco Credistanstalt, de Viena, para operar no mercado de capitais. Em seguida,
com a eleição de Collor e o início de seu programa de privatizações, o BBA se
tornou a única instituição financeira a coordenar a participação de bancos
estrangeiros no plano de privatização das empresas estatais no Brasil. No
governo FHC teve situação privilegiada.
Os três grandes líderes do século, conforme a convocação do
encontro, foram responsáveis, cada um deles de uma forma diferente, pela maior
contrarrevolução social da História, ao impor o ultraliberalismo ao mundo,
conforme a decisão do Clube de Bilderberg. O plano – de que ainda não
desistiram – é de uma ditadura mundial, a ser exercida pelos homens mais ricos
do planeta, por intermédio dos governos dos países ricos e com o retorno dos
povos periféricos ao estatuto colonial.
O sistema financeiro mundial, instrumento do projeto, está
sendo julgado pela opinião pública, desde que muitos de seus crimes ficaram
conhecidos. O Goldman Sachs, o Barclay’s, o HSBC e outros, da mesma dimensão,
foram apanhados na manipulação de taxas básicas (a Libor), na especulação no
mercado de derivativos e na prática do crime de lavagem de dinheiro do
narcotráfico.
Enquanto Blair, Clinton e Fernando Henrique falam para os
ricos, é dever dos trabalhadores exigir do Congresso – como no caso da Ficha
Limpa – legislação rigorosa de controle do sistema, proibindo que bancos de
depósitos operem como os de investimentos, que atuem nos paraísos fiscais, que
funcionem sem controle contábil rigoroso das autoridades nacionais.
Os governos europeus, para salvar seus banqueiros larápios,
estão eliminando empregos, reduzindo os serviços de educação, de saúde e
segurança. E, se os trabalhadores brasileiros não mantiverem sua vigilância,
essa nova onda em defesa dos ricos chegará até aqui. O encontro promovido pelo
Itaú-BBA na luxuosa Casa Fasano é um aviso.
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