A entrevista que o vice-presidente da CPI do Cachoeira,
deputado Paulo Teixeira (PT-SP), concedeu ao Blog na quinta-feira, exige
reflexão. Aqui ou em qualquer outra página em que a entrevista foi reproduzida
– como no Blog do Nassif ou no Brasil 247 – os comentários foram,
esmagadoramente, críticos. Aliás, melhor seria dizer que foram comentários
furiosos.
As reações foram da ampla satisfação dos comentaristas de
viés tucano à mais ampla rejeição dos de viés petista. Ninguém aceita as
justificativas para o recuo do relator da Comissão, Odair Cunha (PT-MG), no
sentido de retirar de seu texto os pedidos de indiciamento do jornalista
Policarpo Jr. e do procurador-geral da República, Roberto Gurgel.
Particularmente, fiquei dividido. Ao mesmo tempo em que, como
todos sabem, apoio posições mais corajosas do PT e do próprio governo Dilma
para enfrentar os ataques tucano-midiáticos, reflito sobre as condições
efetivas de êxito que tanto um quanto outro possam ter tido…
Analisando o que o deputado Paulo Teixeira disse ao Blog,
torna-se óbvio que a base aliada se esfacelou – ao menos no âmbito da CPI. Ora,
a base aliada controla a presidência, a vice-presidência e a relatoria da
Comissão, mas não conseguiu aprovar nada mais do que a oposição.
Se a base aliada convocou – ou convidou – um governador como
Marconi Perillo – que, na verdade, é o foco da investigação por seu
envolvimento escandaloso com o bicheiro Carlos Cachoeira –, a oposição
conseguiu convocar o governador petista Agnelo Queiroz, contra quem não pesa
nem um grama do que pesa contra seu homólogo tucano.
E se a base aliada convocou Paulo Preto, a oposição convocou
Luiz Antonio Pagot…
O equilíbrio de forças oposicionistas e situacionistas na CPI
mostra, portanto, que grande parte da base aliada ao governo Dilma atua ora
como governista, ora como oposicionista. Não se sabe ao certo, portanto, qual é
a verdadeira base aliada do governo Dilma, mas pode-se inferir que, à exceção
do PC do B, não exista nenhum outro aliado confiável.
Em uma situação assim, fica mais fácil entender o temor do
governo Dilma e do próprio PT. Com uma base de apoio tão volátil – e,
frequentemente, tão desleal –, o governo se expõe, no limite, até a revoltas
parlamentares como a que deu origem ao impeachment do ex-presidente Fernando
“aquilo roxo” Collor de Mello.
Não é brincadeira…
Isso sem falar que Dilma tem como vice ninguém mais, ninguém
menos do que Michel Temer, que já foi aliado “fiel” dos tucanos e que, dizem,
está por trás da hesitação da presidente em relação à imprensa. O governo deve temer Temer. E muito. Se Dilma
sofrer queda de popularidade, ele salta do barco antes que você, leitor, possa
proferir a palavra fisiologia.
Vejo-me obrigado, portanto, a refletir sobre a expressão
“governo de coalizão”. Boa parte da militância petista não leva em conta algo
que escrevi há alguns meses aqui, sobre que o PT chegou ao governo, sim, mas
não chegou ao poder.
O fato é que a imprensa, apesar de não conseguir mais eleger
quem quer por estrita falta de colaboração desse ente que trata sempre como
detalhe nas escolhas que o país faz, ou seja, o povo, ainda tem um poder político praticamente
inacreditável. Isso porque se impõe em quase todos os partidos, para não dizer
em todos.
A situação se torna estarrecedora quando se reflete que,
mesmo no único partido em que a mídia não deveria ter influência, ela tem.
Todos sabem muito bem quais são os petistas que vivem aos beijos e abraços com
o Partido da Imprensa Golpista enquanto este faz tudo o que pode e que não pode
para destruir o partido deles.
Como já expliquei em post anterior, isso se deve ao fato de
que essa coisa de que a mídia não influi mais em eleições pode até ser verdade
em eleições mais disputadas, nas quais o PT joga com a “bomba atômica” Lula e
com o peso – e o dinheiro – que sua nova configuração ideológica lhe propiciou
a partir de 2002. Mas não é verdade no varejo.
É óbvio que parlamentares, prefeitos de cidades menores e até
governadores continuam sendo eleitos por influência da mídia – e são esses que
até aderem, fisiologicamente, ao partido que está no poder, mas só para mamar,
pois, na hora do vamos ver, os integrantes desses partidos “aliados” são
liberados pelos dirigentes para agirem como quiserem.
Um bom exemplo é São Paulo. Enquanto Orestes Quércia estava
vivo o PMDB era o maior aliado do PSDB por aqui, apesar de dividir o governo
federal com o PT. É óbvio, portanto, que os interesses que um PMDB representa
em São Paulo acabam interferindo na atuação da bancada federal do partido. E
esse é só um exemplo.
Você, eleitor ou simpatizante do PT, pode ficar contrariado
com o partido. Pode dizer que é covarde, pode xingá-lo quanto quiser. Mas uma
coisa é certa: o PSDB só não está no poder porque o PT aceitou essas regras do
jogo. O que há para decidir, portanto, é se queremos o PT no poder, mas sem
poder falar grosso, ou falando grosso, mas na oposição.
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