Ex-presidente do Ipea afirma que expansão do PIB no terceiro
trimestre, de 0,6%, é atenuada pela continuidade no processo de distribuição de
renda, e vê país 'pavimentando' desenvolvimento sustentável
Por: Vitor Nuzzi, Rede Brasil Atual
São Paulo – Embora nos dois últimos anos o Brasil tenha tido
desempenho aquém de suas possibilidades, o que preocupa do ponto de vista
conjuntural, o economista Marcio Pochmann, ex-presidente do Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), destaca as mudanças estruturais em curso no
país e critica o que chama de falta de melhor entendimento em algumas análises.
Ele observa que há uma transição, longa, de uma economia de “financeirização da
riqueza” para uma economia mantida pelo investimento produtivo. “Passamos duas
décadas (1980 e 1990) em que a economia não cresceu sustentada pelos
investimentos produtivos, mas pela financeirização, juros altos, levando a um
quadro de regressão social. Havia setores que viviam às custas do assalto ao
Estado”, afirma. “Vai crescer pouco este ano, mas é um crescimento que permite
reduzir a pobreza e a desigualdade de renda.”
Pochmann lembra de decisões tomadas no início do governo
Lula, baseadas na visão de que o Brasil tinha uma economia com elevada
capacidade ociosa. Com Dilma, “estamos pavimentando um caminho de
desenvolvimento sustentável”, avalia o economia. “Só não vê quem não quer.” Ele
cita fatores como o pré-sal, nacionalização de setores produtivos e a política
de concessões, “que não têm nada a ver com as privatizações dos anos 1990”. E
diz ver "grande sintonia entre as decisões cruciais de Lula e Dilma".
Ele lamenta que a comparação com outras economias não tenha
sido feita naquele período, quando havia um ciclo de expansão mundial. “Em
1980, éramos a oitava economia e em 2000, a 13ª. Na segunda metade dos anos
1990, até o México ultrapassou o Brasil. E agora estamos caminhando para ser a
quarta economia.”
O economista disse que gostaria de ver mais “ousadia” do
governo, com, por exemplo, mais articulação com os demais países do continente,
especialmente pensando na competição com a China. “O Brasil poderia ajudar a
reorganizar esse espaço, a partir de políticas de caráter supranacional."
Ao acompanhar as projeções de 4% para o crescimento da
economia em 2013, Pochmann não vê o país com problemas estruturais, mas em um
momento de "desincompatibilização" entre decisões privadas e
públicas. "As decisões de investimento não resultam imediatamente. O
investimento requer decisões mais complexas, significa ampliar a capacidade de
produção", afirma.
Ele vê Lula como um "estrategista", do ponto de
vista da política de juros, que em seu governo teve redução gradual. Não
adiantaria uma queda dramática, diz ele, se não houvesse alternativas de
deslocamento dos recursos "financeirizados" para a produção, com o
Estado criando condições para o investimento. Mudanças, sublinha, em uma nova
realidade política, dentro da democracia e com uma nova maioria. "O investimento
financeiro está perdendo para o investimento produtivo", reafirma
Pochmann. "Estamos voltando a ter capacidade de fazer política
macroeconômica e industrial."
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