por Afonsinho
Na longa trajetória do arquiteto Oscar Niemeyer, o futebol
tem um lugar especial. Tricolor de coração, calçou as chuteiras no time juvenil
do Fluminense, embora insistisse em dizer que, na posição de meia-direita, só
jogava porque o tio era diretor do clube. “Foi a única vez que fui de direita.”
Niemeyer apenas demonstrava o princípio da modéstia que se manifestaria mais
tarde, quando o seu projeto para o Maracanã acabaria preterido. “Ainda bem que
perdi, era fã do anel inteiriço da arquibancada”, aquiesceu. Espírito
esportivo.
Estão em suas obras as folhas secas, os passes de curva, as
meias-luas, os lançamentos longos, os dribles sensuais. No espaço, a leveza
concreta de sua poesia. Na equipe que levou para iniciar a construção de
Brasília havia um veterano goleiro que não tinha função bem específica, mas
cumpria o papel de bom amigo nas horas tediosas do então deserto Planalto
Central.
O antropólogo Darcy Ribeiro, provavelmente morrendo de
inveja, avaliou o papel de Niemeyer na história: “Será o único brasileiro a ser
lembrado daqui a 500 anos”.
Permito-me fazer uma comparação, é disso que precisamos para
arquitetar a Seleção Brasileira. Que ela tenha a cara e a alma da sua gente. Um
futebol insinuante, que de retilíneo só tenha as flechas dos seus pontas de
lança, a lembrar os habitantes primitivos. O momento é propício. Os clubes
buscam reestruturar-se, e já não podem abrir mão de se modernizar.
É a vez do Flamengo discutir sua política interna, caminho
que deveria ser trilhado pelos coirmãos. O Corinthians chegou rápido ao Mundial
de Clubes, que aos poucos ganha contornos de campeonato planetário. Em outras
plagas, a bola vai rolando, enquanto nossos craques descansam em peladas
monumentais, podendo voltar a brincar de bola.
Bonito ver o Pirlo desfilando sua arte pelos gramados, num
jogo marcado pela brutalidade do time de Palermo. O gênio do Iniesta adornando
o gol com que o Messi ultrapassou o grande Müller. Exemplo de nobreza. O alemão
reagiu bem: “Meu recorde durou 40 anos e foi batido por um jogador
extraordinário que só tem um defeito: não é jogador do Bayern de Munique”.
Romantismo.
Curioso assistir à direção dos clubes serem disputadas por
grandes empresários, e lembrar que no profissionalismo sempre foi assim. Muda a
proporção, hoje a movimentar valores astronômicos. Resta saber se há lugar para
o mesmo romantismo dos históricos, que ficaram na memória de todos os times.
Alguns passaram ao folclore do futebol como aquele que vendeu
a geladeira para não faltar nada ao seu time na decisão de domingo. Sem contar
as rapaduras e gemadas do lendário Carlito Rocha, do Botafogo.
Na falta da bola, as páginas esportivas lavam as sujeiras dos
clubes que procuram o saneamento inadiável de suas dívidas, empurradas para
debaixo do tapete a cada mudança de diretoria. Cotas de televisão e patrocínios
comprometidos, “papagaios”… Grande parte dos clubes deve aos mesmos jogadores e
treinadores que atravessaram esse período.
O campeão Fluminense recorre aos bancos, surpreendido pela
penhora do prêmio com que esperava fechar as contas do ano vitorioso. No Vasco,
a roupa suja vira briga de lavadeiras. Mau exemplo. Romário se excede, esquece
a lição do seu velho.
Chamado a um programa de televisão, quando o filho estourava
na Europa, o magnífico Edevair Faria a certa altura percebeu o desvio a que
levava a conversa fiada, e reagiu. Espera aí. Devemos confiar nos nossos filhos
antes de tudo. Lição de educação no mais alto nível que os homens do povo não
cansam de ensinar. Vem daí a confiança em si que Romário sempre demonstrou.
De uma conversa com um amigo treinador, em um fortuito
encontro de fim de ano, surge o argumento da escolha de Felipão:
Ele é forte no mata-mata. No Palmeiras, não foi bem. Veremos.
Tanto a Copa do Mundo quanto o Mundial de Clubes poderão
evoluir para uma forma mais justa de competição. Eliminatórias são cruéis.
Felizmente, o Timão passou pela primeira etapa.
Vai, Corinthians!
P.S.: Leio nos jornais que o holandês Sneijder está livre.
Esse eu gostaria de ver no meu time.
Nenhum comentário:
Postar um comentário