segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

O PIB alemão e a crise europeia


Editorial do sítio Vermelho:

A todo-poderosa Alemanha parecia imune à grave crise econômica que assola a Europa e os países ricos.
Parecia. Os dados oficiais mais recentes, divulgados pelo governo alemão, mostram o resultado da ortodoxia fiscal imposta pelo governo da chanceler Angela Merkel aos demais países da zona do euro, entre eles Portugal, Irlanda, Grécia e Espanha: a Alemanha termina o ano com a economia andando para trás no último trimestre de 2012 (PIB negativo de 0,5%), fechando o ano com pífios 0,7% de crescimento do PIB e que, em 2013, poderão se traduzir num crescimento ainda menor, de 0,4% (a previsão inicial era de 1,6%).
O otimismo em relação à Alemanha estava ancorado no desempenho do país nos últimos anos, que se recuperou da recessão de 2009 (queda no PIB de 5%) crescendo 4,2% em 2010 e 3% em 2011. Mas os sinais de 2012 revertem o otimismo e parecem indicar que a crise chega às terras germânicas.
A Alemanha é, depois da China, o maior exportador mundial. Mas seus clientes estão afundados em dívidas, uma crise da qual não conseguem sair desde que submetidos ao forte e persistente garrote manuseado pela chanceler Angela Merkel e sua dogmaticamente ortodoxa equipe econômica, que impõe as regras do grande capital e da especulação financeira aos países em crise.
O esforço para socorrer o grande capital volta-se – os dados mostram – contra os governos “salvadores” dos grandes bancos e corrói justamente as bases de sua aparente prosperidade: o mercado de metade das exportações alemãs são justamente os países da zona do euro, onde a crise é aprofundada justamente pelas imposições de Berlim. A informação de que o setor exportador responde por um terço do PIB alemão reforça esta conclusão calamitosa: este é o setor mais atingido pela crise, empurrando o PIB para baixo.
O resultado da imposição de políticas de austeridade (os ajustes que o jornal espanhol El País apelidou de austericídio) é conhecido. Os brasileiros e os latino-americanos pagaram, nas décadas de 1980 e 1990 (de hegemonia neoliberal), o alto preço do retrocesso econômico, do desemprego, do empobrecimento, da afronta à soberania nacional e do aprofundamento da desigualdade social, período em que os ricos ficaram cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres.
Esta é a situação atual dos países ricos da Europa, dos EUA e do Japão. Neles, a crise e seu enfrentamento com o receituário da ortodoxia financeira resultam nas mesmas mazelas que afligem o povo e os trabalhadores, decorrentes da estagnação econômica. Para este ano, o Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê a permanência da crise e seu séquito de males para os mais pobres. Segundo aquele organismo, a zona do euro crescerá apenas 0,2% em 2013.
Encontrar o caminho do crescimento é o desafio para os países ricos. Há especialistas preocupados segundo os quais urge reordenar a economia. E apostam na busca de um caminho que concilie os ajustes ortodoxos (cortes de despesas dos governos e arrocho salarial, sobretudo) com medidas que possam fomentar o crescimento econômico e assim, minorar os efeitos recessivos.
Não vai dar certo. A crise e a salvação dos grandes bancos e das grandes fortunas é um poço sem fundo que favorece apenas aos muito ricos, distribuindo o preço da especulação financeira para o conjunto da população.
A própria ONU reconhece isso e, no relatório "Situação e Perspectivas da Economia Mundial 2013", recentemente divulgado, afirma que "apesar dos esforços terem sido significativos, especialmente na zona do euro, a combinação de austeridade orçamentária e de políticas monetárias expansivas teve um êxito desigual na hora de acalmar os mercados financeiros e menor êxito teve na hora de fortalecer o crescimento econômico e a criação de emprego". Para a ONU há um "grave risco de uma nova recessão" e ele exige que os governos tomem medidas de combate ao desemprego.
O preço do salvamento dos bancos é alto demais, mostram dados divulgados em 2011 pelo Levy Economics Institute, de Nova York, que inclui entre seus dirigentes um peso pesado como o economista Joseph Stiglitz, da Universidade de Columbia (NY). Até então, já haviam sido gastos US$ 29,9 trilhões (quase duas vezes o PIB dos EUA!) em recursos do governo para salvar os bancos e as instituições financeiras. Como o PIB dos EUA corresponde a cerca de 24% do PIB mundial, pode-se concluir que a salvação dos banqueiros e especuladores norte-americanos correspondeu a quase metade (45,6%) de toda a riqueza produzida no mundo em 2012!
Na Europa, esse poço sem fundo consumiu um volume de recursos igualmente assustador. Dados da Comissão Europeia mostram que, contando apenas os gastos dos governos, e excluindo os empréstimos do Banco Central Europeu, o volume de recursos empregado para a salvação dos bancos e dos especuladores chegou a 5,1 trilhões (algo como 40,3% do PIB da União Europeia).
Até quando os povos vão continuar consentindo no pagamento deste preço extorsivo, que salva o grande capital ao preço do emprego, da saúde, da educação, das aposentadorias e demais benefícios sociais que são cada vez mais confiscados em benefício da especulação financeira?

Postado por Miro

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