Editorial do sítio Vermelho:
A todo-poderosa Alemanha parecia imune à grave crise
econômica que assola a Europa e os países ricos.
Parecia. Os dados oficiais mais recentes, divulgados pelo
governo alemão, mostram o resultado da ortodoxia fiscal imposta pelo governo da
chanceler Angela Merkel aos demais países da zona do euro, entre eles Portugal,
Irlanda, Grécia e Espanha: a Alemanha termina o ano com a economia andando para
trás no último trimestre de 2012 (PIB negativo de 0,5%), fechando o ano com
pífios 0,7% de crescimento do PIB e que, em 2013, poderão se traduzir num
crescimento ainda menor, de 0,4% (a previsão inicial era de 1,6%).
O otimismo em relação à Alemanha estava ancorado no
desempenho do país nos últimos anos, que se recuperou da recessão de 2009
(queda no PIB de 5%) crescendo 4,2% em 2010 e 3% em 2011. Mas os sinais de 2012
revertem o otimismo e parecem indicar que a crise chega às terras germânicas.
A Alemanha é, depois da China, o maior exportador mundial. Mas
seus clientes estão afundados em dívidas, uma crise da qual não conseguem sair
desde que submetidos ao forte e persistente garrote manuseado pela chanceler
Angela Merkel e sua dogmaticamente ortodoxa equipe econômica, que impõe as
regras do grande capital e da especulação financeira aos países em crise.
O esforço para socorrer o grande capital volta-se – os dados
mostram – contra os governos “salvadores” dos grandes bancos e corrói
justamente as bases de sua aparente prosperidade: o mercado de metade das
exportações alemãs são justamente os países da zona do euro, onde a crise é
aprofundada justamente pelas imposições de Berlim. A informação de que o setor
exportador responde por um terço do PIB alemão reforça esta conclusão
calamitosa: este é o setor mais atingido pela crise, empurrando o PIB para
baixo.
O resultado da imposição de políticas de austeridade (os
ajustes que o jornal espanhol El País apelidou de austericídio) é conhecido. Os
brasileiros e os latino-americanos pagaram, nas décadas de 1980 e 1990 (de
hegemonia neoliberal), o alto preço do retrocesso econômico, do desemprego, do
empobrecimento, da afronta à soberania nacional e do aprofundamento da
desigualdade social, período em que os ricos ficaram cada vez mais ricos e os
pobres cada vez mais pobres.
Esta é a situação atual dos países ricos da Europa, dos EUA e
do Japão. Neles, a crise e seu enfrentamento com o receituário da ortodoxia
financeira resultam nas mesmas mazelas que afligem o povo e os trabalhadores,
decorrentes da estagnação econômica. Para este ano, o Fundo Monetário
Internacional (FMI) prevê a permanência da crise e seu séquito de males para os
mais pobres. Segundo aquele organismo, a zona do euro crescerá apenas 0,2% em
2013.
Encontrar o caminho do crescimento é o desafio para os países
ricos. Há especialistas preocupados segundo os quais urge reordenar a economia.
E apostam na busca de um caminho que concilie os ajustes ortodoxos (cortes de
despesas dos governos e arrocho salarial, sobretudo) com medidas que possam
fomentar o crescimento econômico e assim, minorar os efeitos recessivos.
Não vai dar certo. A crise e a salvação dos grandes bancos e
das grandes fortunas é um poço sem fundo que favorece apenas aos muito ricos,
distribuindo o preço da especulação financeira para o conjunto da população.
A própria ONU reconhece isso e, no relatório "Situação e
Perspectivas da Economia Mundial 2013", recentemente divulgado, afirma que
"apesar dos esforços terem sido significativos, especialmente na zona do
euro, a combinação de austeridade orçamentária e de políticas monetárias
expansivas teve um êxito desigual na hora de acalmar os mercados financeiros e
menor êxito teve na hora de fortalecer o crescimento econômico e a criação de
emprego". Para a ONU há um "grave risco de uma nova recessão" e
ele exige que os governos tomem medidas de combate ao desemprego.
O preço do salvamento dos bancos é alto demais, mostram dados
divulgados em 2011 pelo Levy Economics Institute, de Nova York, que inclui
entre seus dirigentes um peso pesado como o economista Joseph Stiglitz, da
Universidade de Columbia (NY). Até então, já haviam sido gastos US$ 29,9
trilhões (quase duas vezes o PIB dos EUA!) em recursos do governo para salvar
os bancos e as instituições financeiras. Como o PIB dos EUA corresponde a cerca
de 24% do PIB mundial, pode-se concluir que a salvação dos banqueiros e
especuladores norte-americanos correspondeu a quase metade (45,6%) de toda a
riqueza produzida no mundo em 2012!
Na Europa, esse poço sem fundo consumiu um volume de recursos
igualmente assustador. Dados da Comissão Europeia mostram que, contando apenas
os gastos dos governos, e excluindo os empréstimos do Banco Central Europeu, o
volume de recursos empregado para a salvação dos bancos e dos especuladores
chegou a 5,1 trilhões (algo como 40,3% do PIB da União Europeia).
Até quando os povos vão continuar consentindo no pagamento
deste preço extorsivo, que salva o grande capital ao preço do emprego, da
saúde, da educação, das aposentadorias e demais benefícios sociais que são cada
vez mais confiscados em benefício da especulação financeira?
Postado por Miro
Nenhum comentário:
Postar um comentário