Em busca da felicidade
Enviado por Luis Nassif
Porque os venezuelanos são o povo mais feliz da América do
Sul
Por Paulo Nogueira (no Diário do Centro do Mundo)
Me interesso muito pelas listas de felicidade nos países
mundo afora. Em geral, elas combinam dados sociais e entrevistas nas quais um
grupo representativo de pessoas diz qual é seu grau de felicidade numa escala
de 1 a 10.
Foi ao ver uma delas, em que a Dinamarca estava na ponta e
seus vizinhos nas primeiras colocações, que acabei conhecendo pessoalmente a
Escandinávia. Era 2009, e fui para Copenhague para entender o que estava por
trás da satisfação dos dinamarqueses. Fiz uma reportagem para a Época, da qual
era então correspondente.
Bem, de lá para cá, sempre que posso vou à Escandinávia.
Agora mesmo, poucos dias atrás, estive na Noruega e na Dinamarca em missões
jornalísticas.
O modelo escandinavo é a coisa mais fascinante que encontrei
na Europa. Combina as virtudes do capitalismo com as do socialismo de uma
maneira extremamente bem sucedida.
Repare. Em todas as listas relativos a avanço social, a
Escandinávia domina.
Bem, fiz este intróito porque outro dia vi uma lista da
Gallup que colocava os venezuelanos como o quinto povo mais feliz do mundo.
Um levantamento da universidade americana de Columbia e
chancelado pela ONU trouxe também os venezuelanos numa situação invejável: o
povo mais feliz da América do Sul.
Como? Mas não é um inferno a Venezuela? Chávez não é o Satã?
Como curioso que sou, fui pesquisar para tentar entender.
Fui dar num estudo feito por um instituto americano chamado
CEPR, baseado em Washington: “A Economia Venezuelana nos anos de Chávez”. O
CEPR jamais poderia ser desqualificado como “chavista”.
E então fico sabendo coisas como essas:
1) Em 1998, quando Chávez assumiu o poder, havia 1628 médicos
para uma população de 23,4 milhões. Dez anos mais tarde, eram quase 20 000
médicos para uma população de 27 milhões.
2) Os gastos sociais subiram de 8,2% do PIB, em 1998, para
quase 14%. “Se comparamos a taxa de pobreza pré-Chávez (43,9%) com a registrada
dez anos depois (27,5%), chegamos a uma queda de 37% no número de venezuelanos
pobres”, afirma o estudo.
3) O índice de desemprego, que era de 19% em 1998, caiu pela
metade.
No trabalho, os autores notam que a percepção entre os
americanos sobre a Venezuela de Chávez é ruim. Motivo: a cobertura enviesada da
mídia. E, com números, desmontam o mito de que o segredo do avanço da Venezuela
está no petróleo e apenas nele.
Mas eu queria saber mais.
Dei no site do Jazeera, uma emissora árabe bancada pelo Catar
que faz jornalismo de primeira qualidade. O Jazeera traz vozes que você não
costuma encontrar na imprensa brasileira, e isso ajuda você a entender melhor o
mundo.
Vi um programa jornalístico cujo título era: “Os venezuelanos
estão melhor sob Chávez?” Como sempre, o Jazeera colocou especialistas com
visão diferente. Um comentarista americano criticou o “espírito de mártir” de
Chávez.
Mas os dados objetivos ninguém contestou. A mortalidade
infantil diminuiu, a expectativa de vida aumentou, o número de universitários
cresceu e as crianças venezuelanas testão indo à escola numa quantidade sem
paralelo na história do país.
Um consultor americano de empresas interessadas em investir
no exterior disse: “Quem quer que queira se eleger na Venezuela vai ter que dar
prosseguimento aos programas sociais”. (O vídeo está no pé deste texto.)
Problemas? Muitos. Criminalidade alta, pobreza e desigualdade
ainda elevadas. Mas atenção: os problemas antes eram muito maiores. (Vale a
pena ver o premiado documentário do jornalista australiano John Pilger,
radicado na Inglaterra, sobre o papel dos Estados Unidos na América do Sul. O
nome é Guerra contra a Democracia. Ele está disponível, em fatias, no YouTube,
com legendas em português. Pilger visitou a Venezuela e entrevistou Chávez.)
Da imersão em Venezuela, compreendi por que Chávez é tão
popular – e por que seu maior adversário nas eleições futuras é, na verdade, o
câncer.
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