Delúbio Soares (*)
Já lá se vão mais de três décadas que, como professor e
estudioso do tema, acompanho a educação em nosso país. Suas potencialidades,
suas deficiências, seu inestimável papel no desenvolvimento nacional e na
transformação positiva da vida dos brasileiros. Nas salas de aula, como aluno
ou já no magistério, vivi a educação e pude aquilatar sua importância. E não
vejo outro caminho melhor para o futuro do Brasil do que ela.
Em meados da década de 70, já empenhado na luta sindical,
aprofundei ainda mais meus conhecimentos na questão educacional, presenciando a
falência do modelo excludente e autoritário imposto pelo regime militar pós-64.
Um sistema falido por antecipação vigiria por quase duas décadas: ensino de
qualidade inferior e para muito poucos, universidade para a elite, professores
desvalorizados e mal remunerados, imensa proliferação de instituições privadas
de ensino, etc… E, acima de tudo, instrumentos de intimidação e repressão à via
acadêmica, como os decretos 477 e 228, verdadeiros AI-5 da educação, levando o
terror para as escolas e universidades, semeando o medo entre os estudantes,
pairando como uma ameaça permanente aos docentes, inibindo a renovação, a
criação e o talento.
No país de geniais educadores e cientistas como Anísio
Teixeira, Josué de Castro, César Lattes, Paulo Freire, Milton Santos e Darcy
Ribeiro, de magistério com larga tradição de competência e imensa devoção, a
ditadura esmerou-se em castrar brilhantes carreiras acadêmicas, despachando para
o exílio mestres e cientistas, cassando cátedras, empobrecendo a educação e o
país, baixando flagrantemente a qualidade de nosso ensino enquanto bania a
política estudantil e perseguia com violência as lideranças que brotavam.
Quando pior, impossível.
Findo o período autoritário, com a abertura democrática em
1985, muito pouco se fez pela melhora da educação, sem dado algum que mereça
ser exaltado, a não ser a natural oxigenação propiciada pela liberdade e alguns
experimentos válidos em umas poucas universidades ou escolas aqui e acolá.
Porém, no geral, tudo como dantes no quartel de Abrantes.Em 2004, quando o Brasil já dava seus primeiros passos após o duro ano de 2003, quando o presidente Lula arrumou a casa e iniciou o mais fértil período social, político e econômico de nossa história, dá-se início a uma verdadeira revolução em nossa vida educacional, com o nascimento do Programa Universidade Para Todos, o Pro-Uni. De forma pioneira, intimorata, com a ousadia necessária aos países e povos fadados ao sucesso, o governo Lula inova ao abrir as portas das universidades à grande massa da população, possibilitando a chegada de filhos de famílias pobres à instituições de ensino privadas.
De 2004 até os dias de hoje, milhões de estudantes buscaram
no Pro-Uni a sua grande chance. Em janeiro passado, O número de inscrições
chegou a mais de 1 milhão 202 mil, disputando as 195.030 bolsas — 98.728
integrais e 96.302 parciais, de 50% da mensalidade — em 1.321 instituições de
ensino superior particulares, entre universidades, centros universitários e
faculdades. E, ressalte-se, são os números do primeiro trimestre de 2012,
apenas!
Tive a alegria de ver um conterrâneo meu se tornar o
milionésimo aluno a ser contemplado com uma bolsa de estudos do Pro-Uni. Em
janeiro passado, o goiano Vitor Lima Lobo, aos 20 anos de idade, ao conquistar
com imenso mérito a sua vaga no curso de medicina, deu um belo recado ao país e
à sua geração: “Não se pode tratar o paciente como um número, dar uma receita
sem olhar na cara. O médico precisa ouvir, ser mais humano”. Vitor é filho de
uma servidora pública aposentada do Estado de Goiás e não conhece seu pai. Em
verdade, meu jovem e talentoso conterrâneo, futuro Doutor, é filho desse novo
Brasil que surge, mais justo e democrático, generoso com sua gente e oferecendo
as oportunidades que sempre lhes foram negadas.
A educação, desde sempre, tem recheado discursos e
frequentado palanques. Na boca de candidatos e em programas de governo ela
aparece com destaque imenso e suposto respeito. Nada mais que isso. Mas foi no
nosso governo, o governo do PT e dos partidos da base aliada, no governo do
presidente Lula, no governo da presidenta Dilma, na competentíssima gestão de
Fernando Haddad à frente do MEC, que ela saiu dos palanques e se encaminhou para
a realidade de milhões de Vitor, de João, de Maria, de José, de filhos do povo
que serão doutores num país melhor. O país que nós resgatamos do descrédito e
do caos e se transformou em grande potência econômica e, com esforço e
abnegação, vai se tornando uma grande Nação.
http://delubio.com.br/blog/2012/07/a-vitoria-da-educacao/
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