Por Emir Sader
Entre as coisas que mais incomodam a direita latino-americana
estão os processos de integração regional. Um argumento forte que a direita
sempre usava e que tende, cada vez mais, a perder força, é o que consideravam
caráter inevitável da hegemonia economica norteamericana, o que nos levaria,
segundo a direita, a termos que nos submeter a políticas de subordinacao aos
EUA, sob o risco de ficarmos para trás nos processos de modernização e
desenvolvimento econômico.
A atual crise econômica representa, entre tantas outras
coisas, a culminação de um processo de enfraquecimento das economias do centro
do capitalismo, depois de décadas de aplicação de políticas de livre comércio e
de neoliberalismo. A crise profunda e prolongada em que estão imersas, tem
consequências recessivas para o conjunto do sistema econômico mundial, mas não
o suficiente para levá-lo, por inteiro à recessão. Seus efeitos políticos têm
sido o oposto do que costumavam ser: ao invés de reafirmar o peso e o lugar
incontornáveis dos países do centro, tem levado ao seu enfraquecimento. Os
países que mais dependem deles são os mais afetados pela crise e pela recessão.
Os modelos que eles afirmavam como inevitáveis, os levam à recessão prolongada,
enquanto as economias que aplicam modelos distintos, conseguem se defender das
ondas recessiva vindas do centro, mantendo níveis de expansão, associados a
políticas sociais redistributivas.
A prioridade dos projetos de integração regional ao invés dos
Tratados de Livre Comércio com os EUA revelam-se não apenas uma opção política
coerente, como produzem efeitos econômicos favoráveis. A opção do México – o
primeiro a assinar TLC na America Latina – se revelou frustrada: ao invés de
impulsionar seu crescimento e renovação econômica, o condenou a atrelar seu
destino ao da economia norteamericana – um dos epicentros da crise econômica
internacional -, com mais de 90% do seu comércio exterior com os EUA e
praticamente nenhuma comércio com a China e muito pequeno com a América do Sul,
duas das principais fontes de crescimento econômico no mundo hoje.
Assim a opção preferencial pelos processos de integração
Sul-Sul revelam não apenas uma postura de luta por um mundo multipolar, como
mostram sua eficácia econômica, tirando da direita o argumento que não
privilegiar relações econômicas com os EUA e a Europa levaria os países ao
atraso, ao isolamento e à recessão.
Há uma nova correlação de forças econômicas em nível mundial
e ela favorece o Sul do mundo em detrimento dos países do centro do sistema.
Não se trata de uma reversão nas relações de poder, promovendo a hegemonia do
Sul sobre o Norte, mas sim de uma situação que permite relações distintas às
que predominaram desde o surgimento do sistema capitalista, como o colonialismo
e o imperialismo que ele promoveu. Além de que o dinamismo econômico já não é
monopólio dos países do centro, que podem seguir detendo vantagens do ponto de
vista tecnológico, mas não podem aplicar esses elementos sem dinamismo
econômico, com que não podem contar.
Do que se trata agora é de construir espaços de integração em
nível mundial, conforme a visão e os interesses do Sul do mundo, que permitam
superar o sistema institucional internacional que foi criado para consolidar e
perpetuar o poder dos países centrais, hoje declinantes em escala mundial.
Postado por WERNECK
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