Demóstenes Torres
(ex-DEM/GO) não é mais senador. Ele foi expulso do Senado, cassado por 56
votos, por ligações com o bicheiro Carlinhos Cachoeira.
Como o voto é secreto,
a gente nunca ficará sabendo quem foram os 19 senadores que votaram contra a
cassação, nem os 5 senadores que se abstiveram.
O voto de Aécio Neves
(PSDB-MG), por exemplo, é uma incógnita. O senador mineiro tinha uma relação de
compadrio a ponto de atender pedidos de Demóstenes para nomear pessoas em
Minas, apesar dele ser um senador goiano.
Um caso de
aparelhamento no governo tucano mineiro foi a nomeação de uma sobrinha de
Cachoeira para um cargo de chefia em Uberaba, a pedido do bicheiro,
intermediada por Demóstenes junto a Aécio.
Cachoeira e sua família
também tem negócios ilícitos em cidades mineiras, explorando máquinas de
caça-níqueis em Uberlândia e Araxá, segundo interceptações telefônicas da
Polícia Federal. E já explorou contratos de lixo com a prefeitura da segunda
cidade, rompido após denúncias de superfaturamento.
Em uma interceptação
telefônica da Polícia Federal, o sargento Dadá, araponga de Cachoeira, fala com
uma pessoa não identificada sobre um esquema de jogos na capital mineira. O
homem diz a Dadá que iria viajar a Belo Horizonte para se encontrar com uns
políticos, “gente forte da área lá” para resolver uma pendência.
O bicheiro já comandou
seis empresas em Minas. Algumas ganharam de presente dos tucanos a privatização
da loteria estadual. Documento elaborado pela Assessoria de Planejamento e
Coordenação da Loteria Mineira, em julho de 2000, revela que o contrato firmado
causou um prejuízo da ordem de R$ 286 milhões durante a gestão do ex-governador
Eduardo Azeredo (PSDB).
Em 2003, quando Aécio
já era governador, o bicheiro foi protagonista de um escândalo em Minas por
operar, sem licitação, jogo da Loteria do Estado de Minas Gerais por meio da
Jogobrás do Brasil Ltda.
Desde 2000, Cachoeira
vem sendo investigado pelo Ministério Público Estadual (MPMG). A Promotoria de
Combate ao Crime Organizado do MPMG iniciou uma devassa nos negócios dele em
Minas, mas decisão do Conselho de Procuradores barrou a iniciativa (numa clara
blindagem aos demotucanos), alegando que as investigações de contravenção penal
são de responsabilidade do Juizado Especial Criminal.
Logo que o escândalo
Cachoeira estourou, e Demóstenes fez seu primeiro discurso, Aécio fez um
emocionado aparte em solidariedade a Demóstenes e reiterando sua confiança no
senador goiano. Depois, com os diálogos comprometedores e a linha direta com
Cachoeira, via Nextel, ganhando o noticiário nacional, o tucano mineiro recuou
publicamente em seu apoio à Demóstenes, mas sempre foi discreto ao tratar do
assunto. Em frente as câmeras, Aécio dá a entender condenar Demóstenes, mas não
consegue dissimular o desconforto com a cassação do antigo parceiro.
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