Cláudia Bredarioli
Documento divulgado por Lula, em 2002, deu credibilidade ao
governo petista.
Era uma vez uma carta que contou a história antes mesmo de
ela acontecer.
Há pouco mais de uma década, em 22 de junho de 2002, Luiz
Inácio Lula da Silva disputava o cargo de presidente da República quando
divulgou um documento-compromisso que ganhou o nome de Carta ao Povo
Brasileiro.
Destinada muito mais a acalmar mercados do que propriamente a
seus eleitores, a carta já antecipava boa parte daquilo que o Brasil é hoje.
Depois de sua divulgação, empresários e investidores
brasileiros – e principalmente estrangeiros – passaram a contribuir para o
processo que deu credibilidade à campanha petista, levando Lula pela primeira vez
à Presidência depois de três tentativas frustradas.
Dez anos mais tarde, um olhar sob a perspectiva histórica
deixa claro que não se tratava de uma panaceia. De fato, os efeitos sob a
economia começaram a ser percebidos depois de já iniciado o governo Lula –
especialmente com as ações de Henrique Meirelles, recém empossado presidente do
Banco Central, sobre a taxa de juros, com a intenção de manter a economia sob
controle.
Num primeiro momento, o documento seria dirigido aos
investidores estrangeiros. Mas, à medida em que conteúdo foi tomando forma, os
líderes petistas decidiram divulgá-la internamente.
A versão para os investidores estrangeiros seria levada
poucas semanas depois em uma viagem de José Dirceu, então presidente do PT, aos
Estados Unidos para estabelecer uma aproximação com o partido Republicano em
nome de Lula.
A Carta também deu aval para tudo o que se seguiu na campanha
petista. Já sob o efeito do compromisso assumido publicamente, Lula ganhou o
apoio de diversos empresários brasileiros de peso. O primeiro foi o dono da
Gradiente, Eugenio Staub, para quem Lula representava a única saída viável ao
Brasil.
“A Carta não
representou uma ruptura. Ela expressou mudanças programáticas do PT que haviam
começado em 1995. Um papel semelhante ao da escolha de José de Alencar para
vice na chapa – uma continuidade do amadurecimento da política de alianças”,
conta o ex-ministro José Dirceu ao Brasil Econômico.
Um dos cenários da articulação para a confecção do documento
foi a sede da Brasilinvest em São Paulo. “Foi o Fidel quem sugeriu a Lula essa
necessidade de estabelecer contato com o governo americano. O PT nos procurou
para ajudar nesse processo”, diz Mario Garnero, presidente da Brasilinvest.
Em um almoço entre Garnero e Dirceu, costurou-se um encontro
entre Lula e a então embaixadora dos EUA no Brasil, Donna Hrinak.
Na reunião, Lula e Hrinak contaram com um amuleto para
estabelecer uma conexão imediata: ela carregava na bolsa um chaveiro com o
bonequinho do candidato que havia sido distribuído na campanha dele ao governo
paulista de 1982. “Meu filho gostava de brincar com esse boneco quando
pequeno”, contou a embaixadora ao interlocutor que se apresentava naquele
momento.
Poucas semanas depois, Hrinak declararia que “Lula seria a
reencarnação do sonho americano”. A partir daí Garnero, seus assessores e a
cúpula do PT trataram de endereçar mais de duzentas cartas a americanos que
pudessem ouvir o que os petistas tinham a dizer. Entre eles, o ex-presidente
George Bush.
Fonte: Brasil Economico
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