segunda-feira, 2 de julho de 2012

Secretário nacional de Justiça fala da Lei da Anistia


Quando a presidenta Dilma Rousseff instalou a Comissão da Verdade, algumas pessoas e parte da imprensa tentaram jogar os integrantes da Comissão uns contra os outros, em cima da exploração de temas como “investigar os dos lados”, “revanchismo” e da Lei da Anistia. Com o passar do tempo, uma parte das pendências já se esclareceu. Por exemplo, ficou claro que não existe essa questão dos “dois lados”, e que a Comissão deve apurar os crimes cometidos pelos agentes públicos que extrapolaram de suas funções ao praticar tortura e assassinatos.
Outra confusão era que a Comissão poderia assumir, em alguma medida, o papel de julgar o que aconteceu. Essa questão também está amplamente esclarecida (veja os posts anteriores sobre a Comissão da Verdade aqui mesmo, no blog). O ministro Gilson Dipp, do Superior Tribunal de Justiça e que coordena os trabalhos da Comissão da Verdade, deixou muito claro, quando da sua reunião com familiares de desaparecidos em São Paulo, no início da semana, que a Comissão existe tão somente para apurar a verdade e não se confunde em nenhum momento com o judiciário.
Resta, agora, essa questão da Lei da Anistia. Tenho escrito aqui no blog que a questão da Lei da Anistia não é algo resolvido no Brasil. Que ela foi praticamente imposta pelos militares, em 1979, quando estes estavam no poder. 

Paulo Abrão e a Lei da Anistia

Paulo Abrão, secretário nacional de Justiça (Ministério da Justiça), defende a ideia de se rever a atual interpretação da Lei da Anistia. Ele disse, nesta sexta (15), na Assembleia Legislativa de São Paulo, que a Comissão da Verdade não será o último passo no processo da chamada justiça de transição que está em curso no País. Na avaliação dele, que também preside a Comissão Nacional de Anistia, o resultado do trabalho iniciado agora para esclarecer fatos ocorridos na ditadura deverá estimular ações judiciais contra agentes de Estado acusados de violações de direitos humanos.
Concordo plenamente com o secretário quando afirma que "a Comissão da Verdade não veio para botar uma pedra em cima da história” e que, ao contrário disso, ela “poderá gerar novos efeitos no campo da reparação, novas memórias e, quem sabe, potencializar os mecanismos de Justiça", assim como "ninguém poderá impedir que o Ministério Público Federal, no exercício de suas funções, tenha acesso à documentação produzida pela comissão para ingressar com ações".

Um passo necessário

Segundo o repórter Roldão Arruda, do Estadão, o secretário Paulo Abrão “criticou acidamente o Judiciário, que não estaria participando do processo de Justiça de transição”. Um passo necessário de ser dado, na avaliação dele, seria internalizar os tratados internacionais que não aceitam nenhum tipo de autoanistia e consideram violações de direitos humanos crimes imprescritíveis.
Concordo também com o secretário quando diz que, ao manter a lei de 1979, o Judiciário manda a futuros ditadores e genocidas uma mensagem do tipo "façam o que quiserem, só não esqueçam de, antes de sair, aprovar uma lei perdoando a vocês mesmos". A interpretação da Lei da Anistia dada pelo Supremo Tribunal Federal, de que os militares que praticaram crimes como tortura e assassinato não podem ser julgados, pode e deve ser revista.
Mas, até pelo peso de ter sido uma decisão do Supremo, é preciso haver uma verdadeira mobilização nacional, um posicionamento do povo brasileiro para que a mudança ocorra. O povo tem essa prerrogativa, faz parte da sua autonomia e liberdade propor a modificação de leis e de interpretações dessas leis. Com a divulgação dos fatos apurados pela Comissão Nacional da Verdade, certamente essa questão se colocará no tempo certo.

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