Os Jogos Olímpicos de Londres terão cobertura exclusiva da
Record na TV aberta. Neste ano a euforia com que a Globo cerca eventos desse
tipo desapareceu. Em cada Olimpíada (ou Copa do Mundo) éramos bombardeados por
informações quase sempre sem nenhuma importância transmitidas em qualquer
programa da emissora.
Laurindo Lalo Leal Filho - (*) Artigo publicado
originalmente na Revista do Brasil, edição de julho de 2012.
Será a primeira vez na história recente da televisão brasileira
em que conquistas esportivas internacionais não serão transmitidas pela Globo.
Os Jogos Olímpicos de Londres terão cobertura exclusiva da Record na TV aberta,
a um custo aproximado de 60 milhões de dólares. Dos quais 22 milhões já foram
recuperados com a venda para a Globosat dos direitos de transmissão para a TV
paga.
Neste ano a euforia com que a Globo cerca eventos desse tipo
desapareceu. Em cada Olimpíada (ou Copa do Mundo) éramos bombardeados por
informações quase sempre sem nenhuma importância transmitidas em qualquer
programa da emissora.
Nos telejornais e nos auditórios era um desfilar permanente
de atletas, dirigentes, torcedores, sem faltar familiares de esportistas
comemorando vitórias ou chorando derrotas.
Às vésperas da abertura dos jogos britânicos parece que eles
nem existem para a emissora líder. Nos jogos da seleção brasileira de futebol,
preparatórios para as Olimpíadas, esse fato não era mencionado. Ficava sendo
apenas uma seleção de jovens treinando para um futuro remoto.
Dos títulos importantes conquistados pelo futebol brasileiro
no mundo só o de campeões olímpicos ainda não foi alcançado. A seleção de Mano
Menezes pode quebrar esse tabu que, se acontecer, não terá a narrá-lo o locutor
oficial da Globo. Outro fato inédito.
A exclusividade da Record torna os Jogos Olímpicos deste ano
mais discretos no Brasil, o que não é de todo mau. O idealismo do Barão Pierre
de Coubertin, fundador dos jogos da era moderna, para quem o importante era
competir, desapareceu há muito tempo. Hoje o importante é faturar.
Falando em 1992, numa conferência em Berlim, pouco depois dos
Jogos Olímpicos de Barcelona, o sociólogo francês Pierre Bourdieu acusava o
Comitê Olímpico Internacional (COI) de ter se transformado “numa grande empresa
comercial, dominado por uma pequena camarilha de dirigentes esportivos e de
representantes das grandes marcas comerciais (Adidas, Coca-Cola...) que
controla a venda dos direitos de transmissão e dos direitos de patrocínio,
assim como a escolha das cidades olímpicas”.
Muito antes disso, ainda nos anos 1970 ocorreu a virada
mercantil dos jogos. A começar pelo fim da regra que impedia a participação de
atletas profissionais. Completada com a dependência cada vez maior da TV. O
espanhol Juan Antonio Samaranch, então presidente do COI, deixou isso claro ao
dizer que "os esportes que não se adaptarem à televisão estarão fadados ao
desaparecimento; da mesma forma, as televisões que não souberem buscar o acesso
aos programas esportivos jamais conseguirão sucesso financeiro e de público."
Globo, Record e dezenas de outras emissoras em todo o mundo
entenderam o recado. Assim como alguns esportes adaptaram suas regras para
atender às exigências da TV. Tudo para facilitar o acesso das mensagens
publicitárias às telas e às praças esportivas, mesmo se os produtos anunciados
contrariem as boas práticas de uma alimentação saudável, sempre associada a
vida dos esportistas.
Para as Olimpíadas de Londres, 42 empresas farão algum tipo
de patrocínio relacionado aos Jogos. Entre as principais estão McDonalds e
Coca-Cola, criticadas por médicos e ativistas sociais como responsáveis pelo
aumento das taxas de obesidade nos Estados Unidos e na própria Inglaterra.
Claro que os campeões olímpicos devem passar longe desse tipo
de alimentação, embora sirvam de garotos e garotas propaganda para aqueles
produtos. O resultado são milhões de jovens estabelecendo a falsa relação entre
as marcas anunciadas e o sucesso esportivo.
Os desdobramentos danosos das Olimpíadas não ficam por aí. As
conquistas obtidas por atletas de ponta, exaltadas pela mídia, acabam por
desqualificar a importância da prática esportiva moderada, sem exageros
físicos, como fator de proteção à saúde.
Eventos esportivos não deixam de ser importantes para a
divulgação de diferentes modalidades, desde que livres de imposições comerciais
e patriotadas inconseqüentes. Devem ser tratados como momentos eventuais de
processos contínuos, onde a prática esportiva é vista como lazer e não como uma
disputa de vida ou morte.
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