(incorporar vídeo
“Paredes Nuas”
O prazer do dinheiro é tema de Paredes Nuas
Paredes Nuas, de Ugo Giorgetti, é um belo exemplar de como um
bom texto e ótimos atores transformam um pequeno filme em um grande cinema.
Giorgetti trata da queda de um corrupto e das consequências que essa queda
provoca na vida das pessoas que sobrevivem em torno dele.
O melhor do filme, que tem duração de apenas 52 minutos, é o
elenco, que segura o filme com interpretações de forte intensidade teatral e
muita experiência profissional. No roteiro, o que chama a atenção é, ao final
da história, a associação entre a vida de luxo propiciada pela corrupção como
um vício provocado pelo dinheiro. Esse vício pelo dinheiro, essa idolatria pelo
luxo e marcas, é tratado como análogo às consequências provocadas pelas drogas
químicas mais pesadas em viciados.
Para se chegar ao dinheiro, de forma mais rápida, tem-se a
corrupção como algo inevitável, como algo entendido moralmente pelo viciado
como natural na sociedade, ou seja: “todo mundo faz” e “se ele não fizer,
outros farão”. E é principalmente na corrupção que o dinheiro precisa ser gasto
com luxo e extravagâncias, visto que não pode ser declarado sem uma devida
lavagem financeira. Da mesma forma, o mercado do vício e dos preços absurdos
são sustentados pela capacidade de grandes empresas de burlar o sistema de
pagamento de impostos. Muitos indivíduos, que giram em torno de políticos e
governos, pagam qualquer preço para ter o prazer provocado pelo excesso de
dinheiro. Eles sabem que há riscos, mas se deleitam no êxtase do consumo e do
status.
A diferença é que o vício não destrói o corpo do indivíduo
que consome o dinheiro em excesso orgiástico, mas os corpos dos indivíduos que
partilham com ele a vida na mesma sociedade. O dinheiro deixa de ser aplicado
em benefício de toda a comunidade e passa a ser utilizado por um viciado e seus
dependentes familiares e funcionários. Em nome da liberdade individual, o vício
pelo dinheiro tornou-se sem limites e destrói a vida de milhares de pessoas que
ficam sem acesso a boas condições de moradia, saúde, educação e cultura.
No filme, a atriz Juliana Galdino, vive a esposa do corrupto
preso e é nela que se expressa a incapacidade de se viver sem a possibilidade
de ter as doses diárias da extravagância provocada no ego pelo poder
financeiro. Essa pequena película torna-se assim um filme essencial no Brasil
de hoje.
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