Por: Vitor Nuzzi, Rede Brasil Atual
Na avaliação de técnicos e sindicalistas que participam do
congresso nacional da CUT, as crises norte-americana e europeia demonstram a
importância da presença do Estado na economia e a necessidade de regulamentação
dos chamados mercados, desmontando teses centrais nos anos 1990, que pregavam
exatamente o contrário. “A luta contra o desemprego é política e encontra forte
oposição”, afirmou o assessor político sênior do comitê sindical da Organização
para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), Roland Schneider. “Os
inimigos do movimento sindical se opõem à intervenção do Estado na economia”,
acrescentou, considerando a estratégia de crescimento do Brasil “um exemplo bem
sucedido”.
Para Schneider, “a experiência brasileira sublinha a
importância de proteger os setores mais vulneráveis”. Ele destacou a
necessidade de manter o investimento público e as politicas públicas voltadas
para o emprego, defendendo instrumentos do mercado de trabalho como a
legislação, o salário mínimo e o seguro-desemprego. O assessor vê governos
europeus sendo chantageados por organismos financeiros internacionais para
aplicar modelos de austeridade fiscal, “uma péssima ideia para fazer crescer a
economia”.
O secretário-geral da Central Sindical dos Trabalhadores e
Trabalhadoras das Américas (CSA), Victor Baez, vê um processo de disputa por
uma nova hegemonia no debate sobre projeto de sociedade. “A crise não é apenas
econômica. É trabalhista, social, ambiental, alimentar e energética. Isso nos
leva a pensar em que tipo de desenvolvimento queremos para os nossos países,
para o continente e para o mundo. Os direitos humanos não dependem apenas das
leis, das constituições e das convenções, mas sobretudo do tipo de
desenvolvimento que nós queremos.”
Para ele, passou-se do período do Estado do bem-estar social
para a “financeirização” da economia e o crescimento das transnacionais, o que
resultou em concentração da riqueza e eliminação das pequenas empresas,
impedindo a expansão do emprego. A legislação trabalhista também ficou sob
ameaça, acrescentou. “O que está acontecendo na OIT (Organização Internacional
do Trabalho) é uma briga pelo poder. O papel normativo da OIT está sendo questionado”,
afirmou. O presidente da CUT, Artur Henrique, destacou a importância da eleição
de Guy Ryder para a direção geral da organização, com apoio do movimento
sindical. “Mas isso não basta se não houver uma estrutura para que a OIT
consiga continuar implementando a agenda do trabalho decente.”
Mas Artur acredita que é momento de "mudanças
estruturais" na economia, dando o exemplo de uma efetiva reforma
tributária. "Desonerações pontuais não bastam mais." Isso também vale
para a política, sustenta o dirigente: "Queremos discutir nosso modelo de
desenvolvimento. E o instrumento para isso é a plataforma da CUT para as
eleições. Temos lado nessa disputa."
Na mesma linha, o secretário-geral da Cisl (central sindical
italiana), Raffaele Bonanni, defendeu o que chamou de
"verticalização" do poder. "É preciso maior participação dos
trabalhadores nas decisões econômicas e políticas", afirmou.
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