segunda-feira, 2 de julho de 2012

Hipocrisia… e os erros de Lula e Erundina


por Luiz Carlos Azenha

Primeiro, a hipocrisia.
Recorro ao texto do ex-ministro José Dirceu, em seu blog, que tratou dos que não poderiam criticar a aliança PT-PP:
 “Menos o candidato do PSDB a prefeito, o ex-governador José Serra e certa imprensa. O postulante tucano à Prefeitura porque em sua campanha para o Planalto em 2010 recebeu muito feliz  e sem questionar o apoio do mesmo PP e de Maluf e, não esquecer, o de uma parte do PMDB, a liderada pelo ex-governador Orestes Quércia. A imprensa porque se calou diante disso naquela ocasião. Isso quando não apoiou velada ou ostensivamente a aliança do serrismo com o malufismo e o quercismo.
José, tampouco, poderá atacar a aliança PT-PP porque Maluf apoia e integra o governo de seu companheiro tucano, o governador Geraldo Alckmin, ocupando, inclusive, um alto posto na administração, com o malufista Antônio Carlos do Amaral Filho presidindo a Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado (CDHU). Tem mais: até poucas semanas atrás, o PP e seu líder Maluf tinham o silêncio, quando não o apoio dessa mesma mídia, enquanto mantinham entendimentos para uma coligação com o PSDB de José, um apoio que só perderam agora. De repente perderam esse apoio. Por quê? Por que será?”.
O jornal Valor Econômico chegou ao ponto de “descobrir”  um documento mostrando que Maluf, quando governador biônico de São Paulo, cedeu as instalações para a Operação Bandeirante, que torturou presos na rua Tutóia. Isso de um jornal que é resultado de uma sociedade entre as Organizações Globo — o maior filhote da ditadura —  e o Grupo Folha, que deu apoio material a torturadores.
No mesmo post, José Dirceu também adverte:
 “Vamos com calma, então, com esse andor. Petistas e aliados, por favor, sem esquecer que o foro mais adequado para debater e buscar a solução dessa questão é a coordenação e a direção política da aliança e da campanha do Fernando Haddad. Deflagrar um debate em torno disso em público e pela mídia é dar chumbo ao adversário”.
O problema com este raciocínio de Dirceu é que centenas de milhares de paulistanos, que não se renderam ao antipetismo midiático, viram no episódio da visita de Lula a Paulo Maluf  não uma adesão do malufismo ao PT, mas uma adesão do petismo a Maluf.
Primeiro, pela forma, que na era das imagens conta muito. Maluf afagou a cabeça de Fernando Haddad, numa cena tão forte e simbólica que poderia ter sido produzida pelos marqueteiros de José Serra.
Segundo, pelo conteúdo. Nas declarações que deu durante e depois do evento, Maluf fez parecer que o PT tinha aderido ao malufismo. Para não melindrar o anfitrião, os petistas falaram apenas em não olhar pelo retrovisor.
Errou, portanto, o ex-presidente Lula. O minuto e meio que Maluf acrescenta na propaganda de TV de Haddad vai sair a um custo altíssimo, sem contar que os malufistas vão todos votar em José Serra.
Como escreveu o Roberto Locatelli, em comentário neste blog: “O problema de se abraçar ao diabo é que ele leva ao inferno”. “De fato”, escrevi, ao concordar com ele.
Finalmente, não acredito que Luiza Erundina tenha errado ao deixar a chapa. Ela sabia da aliança com Paulo Maluf mas, como alega, pode de fato ter sido pega de surpresa pelo espetáculo da adesão de Maluf  à campanha do PT — ou do PT a Maluf, que foi como a mídia vendeu o peixe.
Se achou inaceitável o que viu, fez bem em desistir de formar a chapa.
Mas Erundina errou na forma. Logo ela, que sempre foi crítica dos meios de comunicação, usou e se deixou usar por eles — da Veja ao Globo, da Folha ao Estadão — para atacar aqueles dos quais se diz aliada.
Com um aliado destes, ninguém precisa de adversário.

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