por Luiz Carlos Azenha
Primeiro, a hipocrisia.
Recorro ao texto do ex-ministro José Dirceu, em seu blog, que
tratou dos que não poderiam criticar a aliança PT-PP:
“Menos o candidato do
PSDB a prefeito, o ex-governador José Serra e certa imprensa. O postulante
tucano à Prefeitura porque em sua campanha para o Planalto em 2010 recebeu
muito feliz e sem questionar o apoio do
mesmo PP e de Maluf e, não esquecer, o de uma parte do PMDB, a liderada pelo
ex-governador Orestes Quércia. A imprensa porque se calou diante disso naquela
ocasião. Isso quando não apoiou velada ou ostensivamente a aliança do serrismo
com o malufismo e o quercismo.
José, tampouco, poderá atacar a aliança PT-PP porque Maluf
apoia e integra o governo de seu companheiro tucano, o governador Geraldo
Alckmin, ocupando, inclusive, um alto posto na administração, com o malufista
Antônio Carlos do Amaral Filho presidindo a Companhia de Desenvolvimento
Habitacional e Urbano do Estado (CDHU). Tem mais: até poucas semanas atrás, o
PP e seu líder Maluf tinham o silêncio, quando não o apoio dessa mesma mídia,
enquanto mantinham entendimentos para uma coligação com o PSDB de José, um
apoio que só perderam agora. De repente perderam esse apoio. Por quê? Por que será?”.
O jornal Valor Econômico chegou ao ponto de “descobrir” um documento mostrando que Maluf, quando
governador biônico de São Paulo, cedeu as instalações para a Operação
Bandeirante, que torturou presos na rua Tutóia. Isso de um jornal que é
resultado de uma sociedade entre as Organizações Globo — o maior filhote da
ditadura — e o Grupo Folha, que deu
apoio material a torturadores.
No mesmo post, José Dirceu também adverte:
“Vamos com calma,
então, com esse andor. Petistas e aliados, por favor, sem esquecer que o foro
mais adequado para debater e buscar a solução dessa questão é a coordenação e a
direção política da aliança e da campanha do Fernando Haddad. Deflagrar um
debate em torno disso em público e pela mídia é dar chumbo ao adversário”.
O problema com este raciocínio de Dirceu é que centenas de
milhares de paulistanos, que não se renderam ao antipetismo midiático, viram no
episódio da visita de Lula a Paulo Maluf
não uma adesão do malufismo ao PT, mas uma adesão do petismo a Maluf.
Primeiro, pela forma, que na era das imagens conta muito.
Maluf afagou a cabeça de Fernando Haddad, numa cena tão forte e simbólica que
poderia ter sido produzida pelos marqueteiros de José Serra.
Segundo, pelo conteúdo. Nas declarações que deu durante e
depois do evento, Maluf fez parecer que o PT tinha aderido ao malufismo. Para
não melindrar o anfitrião, os petistas falaram apenas em não olhar pelo
retrovisor.
Errou, portanto, o ex-presidente Lula. O minuto e meio que
Maluf acrescenta na propaganda de TV de Haddad vai sair a um custo altíssimo,
sem contar que os malufistas vão todos votar em José Serra.
Como escreveu o Roberto Locatelli, em comentário neste blog:
“O problema de se abraçar ao diabo é que ele leva ao inferno”. “De fato”,
escrevi, ao concordar com ele.
Finalmente, não acredito que Luiza Erundina tenha errado ao
deixar a chapa. Ela sabia da aliança com Paulo Maluf mas, como alega, pode de
fato ter sido pega de surpresa pelo espetáculo da adesão de Maluf à campanha do PT — ou do PT a Maluf, que foi
como a mídia vendeu o peixe.
Se achou inaceitável o que viu, fez bem em desistir de formar
a chapa.
Mas Erundina errou na forma. Logo ela, que sempre foi crítica
dos meios de comunicação, usou e se deixou usar por eles — da Veja ao Globo, da
Folha ao Estadão — para atacar aqueles dos quais se diz aliada.
Com um aliado destes, ninguém precisa de adversário.
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