Relatórios da Agência de Jornalismo Investigativo Britânica
(BIJ, na sigla em inglês) mostram que "no mínimo 2.629 pessoas foram
mortas até agora por ataques de drones da CIA no Paquistão". Apesar disso,
o presidente Barack Obama decidiu indicar John Brennan, um defensor dos drones
e das técnicas de tortura, para o comando da agência de inteligência. A análise
é de Amy Goodman, do Democracy Now
Carta Maior
John Brennan e John Kiriakou trabalharam juntos anos atrás,
mas suas carreiras divergiram dramaticamente. Brennan está agora no caminho
para assumir a direção da CIA, enquanto Kiriakou está no da prisão. O destino
de cada um foi e está sendo ajustado pela assim chamada "guerra ao terror",
que provocou condenações ao redor do globo durante a gestão do presidente
George W. Bush.
É verdade que o presidente Barack Obama renomeou, em vão,
esta guerra como "operações de contingência no além-mar", mas, ao
invés de reduzir as práticas de ódio características de seu predecessor, Obama
as aumentou.
A promoção de Brennan e a acusação de Kiriakou demonstram
como os recentes excessos do governo americano não são aberrações transitórias,
mas a criação de uma assustadora nova "normalidade", em que ataques
de drones (aviões não-tripulados), vigilância ilegal, assassinato e detenção
indefinida são conduzidos por arrogância e impunidade, protegidos pelo mistério
e fora do alcance da lei.
John Kiriakou passou 14 anos como analista e oficial da CIA.
Em 2002, levou seu grupo até Abu Zubaydah, acusado de ser membro de grande
importância da Al Qaeda. Kiriakou foi o primeiro a confirmar publicamente o uso
de simulação de afogamento pela CIA, numa entrevista com Brian Ross, da ABC, em
2007.
Ele contou: "Naquela época, eu sentia que a simulação de
afogamento era algo que precisávamos fazer... Eu acho que mudei de ideia, e
penso que essas simulações são coisas que não devíamos cogitar". Kiriakou
ainda disse que tais "técnicas aprimoradas de interrogação" são
imorais, e teria declinado o convite para ser treinado para usá-las.
Desde a entrevista, tornou-se público que Zubaydah foi
"afogado" pelo menos 83 vezes, e como resultado não houve nenhuma
informação útil. O suspeito permanece preso em Guantanamo, sem acusações.
Por sua vez, Kiriakou logo vai começar a cumprir seus 30
meses de prisão, mas não por trazer à tona tais simulações de afogamento. Ele
foi condenado por expor o nome de um interrogador oficial da CIA para um
jornalista, com informações que o próprio interrogador postou num website
disponível publicamente.
Enquanto isso, John Brennan, conselheiro de contra-terrorismo
há tempos de Obama, espera a confirmação do Senado para se tornar o novo
diretor da CIA. Eu perguntei recentemente para Kiriakou o que pensava sobre Brennan.
Respondeu ele:
"Eu conheço John Brennan desde 1990. Trabalhei duas
vezes diretamente para ele, e acho que ele é uma terrível escolha para liderar
a agência. Penso que está na hora de a CIA superar a feiúra do regime pós 11 de
Setembro, e precisamos de alguém que vá respeitar a Constituição e que não se
conforme ao legado da tortura. Acho que a indicação de Brennan pelo presidente
Obama passa a mensagem errada para todos os americanos".
Obama já tinha considerado Brennan para o cargo em 2008.
Brennan, então, retirou sua nomeação, sob uma chuva de críticas pelo suporte
que deu à era Bush em políticas de tortura, quando esteve em várias posições de
importância na inteligência, incluindo a chefia do Centro Nacional
Contra-Terrorismo (NCC, na sigla em inglês).
Quanta diferença quatro anos fazem. Com a morte de Osama Bin
Laden para mostrar ao público, Obama se vê imune às críticas feitas ao
contra-terrorismo. John Brennan é posto como responsável pela notória
"lista de mortes" que Obama acredita ter tido o direito de executar a
qualquer momento, em qualquer lugar do planeta, como parte de suas
"operações de contingência".
Isto inclui a morte de cidadãos americanos, sem nenhuma
acusação, julgamento ou sequer processo. Ataques de drones é uma maneira como
esses assassinatos são feitos. Anwar al-Awlaki, cidadão americano, foi morto no
Iemêm por um ataque de avião não-tripulado, e então, duas semanas depois, seu
filho de 16 anos, Abdulrahman al-Awlaki, foi morto da mesma maneira.
Eu perguntei ao coronel Lawrence Wilkerson, que serviu como
chefe de departamento do secretário de Estado na gestão de Colin Powell, de
2002 a 2005, sobre o que ele achava de Brennan, e ele me disse:
"O que está acontecendo com estes ataques de drones pelo
mundo afora está, hoje, na minha opinião, tão mal desenvolvida quanto muitas
das coisas que nós condenamos, agora sabendo de suas consequências, no governo
de George W. Bush. Estamos criando mais inimigos do que matando, estamos
violando leis internacionais. Estamos até mesmo matando cidadãos americanos sem
processos devidos e termos um procurador-geral que diz que o processo devido
não inclui necessariamente um processo legal. Estas são palavras realmente
assustadoras".
Enquanto Kiriakou vai parar para a prisão por revelar um
nome, a Agência de Jornalismo Investigativo Britânica (BIJ, na sigla em inglês)
está lançando um projeto chamado "Naming the Dead" ("Dando nome
aos Mortos", em tradução livre), esperando assim "identificar quanto
for possível aqueles que morreram nos ataques americanos de drones no
Paquistão, entre civis ou militares".
Os relatórios da BIJ mostram que "no mínimo 2.629
pessoas foram mortas até agora por ataques de drones da CIA no Paquistão".
John Brennan deveria responder sobre cada um deles.
Tradução: Caio Sarack
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