Para que o
telespectador possa comparar os programas e escolher os que lhe interessam é
fundamental que emissoras públicas e privadas estejam lado a lado, com apenas
um ‘zap’ entre elas
Por: Lalo Leal
Cerca de 4 mil jovens
circulam pelo campus da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) na manhã de
um sábado de verão. Festival de risos, músicas, mochilas e colchonetes.
Estão ali para
participar do 14º Coneb, o Conselho Nacional de Entidades de Base, da União
Nacional de Estudantes (UNE). Havia gente que levou dois ou três dias para
chegar a Recife, como os que saíram do interior do Amapá, usando barcos e
ônibus como transporte.
Durante três dias vão
discutir os rumos da educação brasileira e, de quebra, a luta pela
democratização da mídia. Nada mais pertinente e necessário. O próprio encontro
é o melhor exemplo dessa necessidade, praticamente ignorado pelos grandes meios
de comunicação.
O número de
participantes, os convidados presentes (autoridades públicas e especialistas) e
os temas justificam a inclusão do encontro em qualquer cobertura jornalística
séria. Não foi o que ocorreu. Abro dois grandes jornais de Pernambuco no
domingo, e nada. Nos do Rio e São Paulo nem sombra do encontro.
Televisões presentes só
as públicas: TV Brasil e TV Pernambuco. Fato que ressalta a importância desses
veículos na luta contra o bloqueio dos meios privados aos movimentos sociais,
como o estudantil.
Uma cobertura ao vivo
no campus da UFPE poderia render ótimas histórias. Além do conteúdo dos
debates, as vivências daqueles estudantes com diferentes sotaques mostrariam ao
telespectador um jovem comprometido com seu país, bem diferente dos que
aparecem todos os dias nas novelas.
Coincidindo com o
evento da UNE, foi implemen tada a Empresa Pernambuco de Comunicação, gestora
da TV pública local. Embora vinculada ao governo do estado, é gerida por um
conselho autônomo que segue em linhas gerais os padrões adotados pela Empresa
Brasil de Comunicação. São tentativas promissoras de tornar esses veículos mais
públicos e menos estatais.
No caso de Pernambuco o
processo levou mais de três anos, num debate aberto com ampla participação da
sociedade. A TV já existia, mas estava sucateada. Foi criada em 1984 e, durante
os governos pós-ditadura de Miguel Arraes (1987-1990 e 1995-1999), tornou-se um
importante veículo de informação e entretenimento. Abandonada na gestão Jarbas
Vasconcelos (1999-2006), tem agora possibilidades de se reerguer.
São passos importantes
mas ainda preliminares para a constituição no país de um serviço público de
rádio e televisão capaz de competir com a mídia comercial. Um dos obstáculos
mais sérios, além de uma destinação constante e consistente de recursos, está
na forma de o telespectador sintonizar essas emissoras.
O espectro
eletromagnético por onde trafegam as ondas de rádio e TV foi praticamente
privatizado. Em Recife, a TV Pernambuco pode ser vista no canal 46 (UHF). Até o
governo Jarbas era possível ver a emissora estatal em VHF, no canal 9, ao lado
das grandes redes comerciais. Mas a concessão foi perdida
e ocupada, rapidamente, pela Bandeirantes.
O fato se repete em
outros estados. Com a digitalização prevista para os próximos anos, o problema
pode ser minimizado, mas não resolvido. As grandes redes comerciais continuarão
a ser sintonizadas nos canais de números baixos (hoje vão do 2 ao 13), restando
os mais longínquos para as redes públicas.
Para que o
telespectador possa comparar os programas e escolher os que lhe interessam é
fundamental que públicas e privadas estejam lado a lado. Não são tantas as TVs
comerciais para mostrar praticamente a mesma coisa? Então deveremos ter muitas
públicas, para mostrar nossas múltiplas realidades.
Só assim será possível
cobrir ao vivo, com competência e detalhamento, um evento como o realizado em
Recife pela UNE. Dessa forma, o estereótipo do jovem consumista e alienado
será, no mínimo, relativizado.
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