Delfim Netto
As formas de
relacionamento dos sindicatos de trabalhadores com as empresas, especialmente
no setor industrial que começa a dar sinais de reativação dos investimentos,
terão influência decisiva na manutenção dos baixos índices de desemprego em
2013, entre nós. Enquanto algumas das mais afluentes economias do mundo
fracassaram em 2012 na tentativa de criar (melhor seria dizer, recriar) vagas
para reduzir o enorme contingente de 40 milhões de desempregados, com índices
de até 25% da força de trabalho, o Brasil terminou o ano com uma taxa de 5,5%
de desemprego. E a renda salarial em alta, o que nos colocou em uma situação
absolutamente privilegiada diante do mundo. Esse foi o nosso diferencial mais
importante, apesar do fraco crescimento do PIB.
A economia está
crescendo menos, mas com distribuição um pouco melhor da renda e sem questões
graves de emprego em praticamente todas as regiões do País. Há casos
localizados, como a redução de vagas (mais de 30 mil postos de trabalho em 2012)
em setores da indústria metalmecânica no ABC paulista, causa preocupação maior
por serem postos especializados, com produtividade média muito superior à do
restante da indústria metalúrgica no Brasil. Era, no entanto, um fenômeno
previsível, igual a qualquer lugar do mundo onde o sindicato é muito forte, e
as negociações são duras e se realizam em condições sempre difíceis.
Houve um
reposicionamento da produção metalúrgica, em geral, e, particularmente, da
automobilística, em todo o mundo, pondo em evidência as diferenças entre níveis
de salários e de produtividade conforme a região.
Não acontece de modo
diferente no Brasil. O trabalhador da indústria no ABC tem piso salarial mensal
de 1,6 mil reais. Em Curitiba, em torno de mil reais, uma variação enorme. Não
há uma diferença substancial de produtividade nesses setores, mas enquanto o
salário médio no ABC é de 4,2 mil reais, em Curitiba é de 2,6 mil. Na indústria
em Pernambuco, a situação é ainda mais complicada, e os diferenciais são muito
grandes. É o mesmo caso de São José dos Campos, onde o piso é um pouco abaixo
de mil reais, mas com salário médio praticamente igual ao de São Bernardo, de 4
mil reais.
Essas circunstâncias,
determinadas por inúmeros fatores, produziram a realocação da indústria automobilística
e as diferentes situações enfrentadas por elas ao lidar com o ambiente de
trabalho.
É por isso que vejo
como uma coisa muito inteligente a proposta da CUT de fazer entendimentos nas
fábricas, reunindo uma comissão representativa dos trabalhadores, digamos, do
“chão de fábrica” (a “peãozada”, de que fala Lula) e os representantes da
empresa, para discutir as condições que realmente contam. Por exemplo, como
criar um banco de horas, como facilitar formas de preparação profissional, o
aprimoramento técnico a ser adicionado, enfim as condições que são próprias e
só permitem o entendimento dentro daquela empresa.
Isso é o oposto do que
pretendem setores sindicais que cogitam da “instituição de um contrato coletivo
nacional”. Não é algo adequado insistir na unificação, uniformizar condições. O
que é inteligente é procurar tirar proveito das melhores possibilidades devidas
à localização e das produtividades que são totalmente diferentes. Com
produtividades diferentes, os salários serão diferentes. Se mantiver essa
flexibilidade, é possível encontrar os locais onde se produzirão os automóveis
da maneira mais econômica, atendendo não somente o trabalhador da indústria,
mas também o consumidor.
Governos, não apenas o
federal, mas os estaduais e municipais, não deveriam deixar de aproveitar a
situação verdadeiramente privilegiada em que nos encontramos no campo das
relações de trabalho para ativar e estimular os entendimentos diretos de
sindicatos e empresas, antecipando-se às pressões que estão começando a crescer
no mercado de trabalho.
Houve uma mudança
importante na estrutura da oferta de mão de obra, especialmente no setor de
serviços, onde ela tem sido menor que a demanda e isso acaba mesmo por
pressionar a inflação que, obviamente, não interessa a nenhum administrador e
muito menos ao consumidor.
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