João Sicsú - Professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do
Rio de Janeiro. Foi diretor de Políticas e Estudos Macroeconômicos do IPEA
entre 2007 e 2011.
Ninguém pode negar: o Brasil mudou para melhor. Dez anos de
governos do PT proporcionaram profundas mudanças econômicas e sociais. A
sociedade mudou. A desesperança dos anos 1990 foi transformada em otimismo e em
uma nova pauta de desejos e exigências. Os governos do PT geraram também uma
aglutinação oposicionista composta de forças liberais, de seitas conservadoras,
de grupos rentistas, de famílias que controlam grandes meios de comunicação, de
altos funcionários de carreiras de Estado e, por último e com menos
importância, três ou quatro partidos políticos.
As estatísticas econômicas e sociais são avassaladoras quando
são comparados os governos do PSDB (1995-2002) com os governos de Lula-Dilma
(2003-2012). Alguns poucos exemplos são suficientes para comprovar as
diferenças. No início dos anos 2000,
pesquisas apontavam que o desemprego era um grande problema nacional. Em 2003,
a taxa de desemprego era superior a 12%. Em 2012, foi de 5,5%.
Em 1998, as classes de renda A, B e C somavam 53% da
população brasileira. Hoje, somam 84%. O volume de vendas do mercado varejista
praticamente dobrou de tamanho entre 2002 e 2012. Em 2002, somente 33,9 % dos
domicílios possuíam máquina de lavar. Em 2011, este número aumentou para 51%.
Em 2002, 86,6% dos domicílios possuíam geladeira; em 2011, saltou para 95,8%.
E, certamente, milhões de brasileiros trocaram
eletrodomésticos velhos por novos.
O emprego e o consumo levaram as classes de renda C e D às
localidades onde vivem ou trabalham os ricos e aqueles que recebem altas
rendas. Esse foi o momento em que os mais necessitados perceberam que não basta
ter emprego. O emprego é essencial, mas é preciso ter transporte, saneamento,
iluminação pública, moradias dignas, coleta de lixo, áreas de lazer etc… é
preciso ter direito às cidades.
Sob estas condições, indivíduos que já realizam o consumo (uma
atividade privada) passaram a desejar o investimento (público) para todos. Este é o desafio da década: manter o emprego,
o crescimento da renda, e socializar a oferta de bem-estar. Essa é a nova
utopia de grande parte da sociedade. Se o PT deseja continuar mudando e
transformado o Brasil terá que abraçar essa utopia.
O modelo de crescimento com geração de emprego e distribuição
de renda, implementado nos últimos 10 anos, precisa incorporar no seu âmago a
multiplicação do bem-estar social – que significa a socialização da oferta de
serviços e equipamentos públicos de qualidade.
Não há qualquer projeto político alternativo ao projeto
implementado pelo PT nesses últimos anos. A aglutinação oposicionista não tem
projeto. Ela busca tão somente (o que não é pouco) aumentar a rejeição ao PT, a
Lula e à presidente Dilma. Pode-se, por exemplo, criticar o governo por não
permitir o aumento da gasolina e reduzir a capacidade de investimento da
Petrobras, mas vale também o argumento de que o governo autorizou o aumento da
gasolina e neutralizou a redução de tarifas de energia elétrica. No segundo semestre de 2012, um colunista de
rádio criticou a presidenta Dilma por fazer o movimento de redução dos juros.
Dizia ele, em tom de sentença: “não é possível reduzir juros por decreto”. Mas,
os juros baixaram.
Recentemente, ele disse: “os juros no Brasil ainda são uns
dos mais altos do mundo”. E, talvez sem perceber, logo em seguida proclamou em
tom de concordância: “parte do mercado percebe a necessidade de os juros subirem
porque a inflação está se acelerando”. É a prática do vale-tudo: dizer,
desdizer e dizer novamente. A coerência não importa. O que importa é fazer
oposição no programa de rádio diário. A
aglutinação oposicionista busca juntar um enorme entulho de rejeição ao
governo, ao presidente Lula e ao PT. O objetivo é afogá-los nesse lixão.
O lixo pode ser rotulado de corrupção, alianças espúrias (com
velhos corruptos), incompetência, voluntarismo, autoritarismo, ingerência
política em empresas estatais, enriquecimento ilícito, indicações políticas (e
não técnicas) para cargos públicos, obras paralisadas, filas no SUS,
desperdício de recursos públicos e possibilidade de racionamento de energia
elétrica. É neste ziguezague que a
aglutinação oposicionista busca espalhar rejeição para um candidato qualquer
tentar vencer as eleições presidenciais de 2014. Não importa o candidato, suas
ideias, projetos etc. O que importa é interromper a história. Afinal, ela tem
incomodado e muito.
A aglutinação oposicionista está contrariada porque perdeu
ganhos financeiros, perdeu o monopólio de decidir grandes questões nacionais,
não têm livre acesso aos corredores do Palácio do Planalto… e perdeu controle
sobre o futuro. Não aceitam civilizadamente o resultado das urnas: afinal,
estudaram nas melhores escolas, em universidades americanas, falam duas ou três
línguas e tomaram toddynho na infância. Seu destino não poderia ser a oposição.
Eles não aceitam não ocupar posições de comando. O caminho tem sido o do
vale-tudo.
A aglutinação oposicionista não somente quer interromper a
história. Eles querem apagá-la. Aliás, nem consideram história o que aconteceu
no Brasil nos últimos dez anos. Chamam o período de “tempos estranhos”. Um
articulista de uma grande revista escreveu: “Lula será apenas outra má
lembrança destes tempos estranhos”.
# posted by Oldack Miranda
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