Wikileaks revela que José Serra, então pré-candidato do PSDB
à Presidência da República, tranquilizou diretora da Chevron Patrícia Padral
sobre regras nacionalistas, pró-Petrobras, em discussão no Congresso no final
de 2009; "Deixa esses caras (do PT) fazerem o que eles quiserem. As
rodadas de licitações não vão acontecer, e aí nós vamos mostrar a todos que o
modelo antigo funcionava... E nós mudaremos de volta", disse ele à
representante da petroleira americana; não é a toa que a elite global não gosta
de Julian Assange, o fundador do site que desnuda suas verdades
247 – Não faltam motivos para a elite global detestar Julian
Assange, o fundador do Wikileaks, em razão das revelações constrangedoras que
sua página na internet promove. Agora, um famoso político brasileiro poderá
engrossar esse cordão: o duas vezes candidato a presidente da República José
Serra.
Ao desatar um pacote de telegramas da embaixada dos Estados
Unidos em Brasília e do consulado americano no Rio de Janeiro para o
Departamento de Estado em Washington, o Wikileaks abriu uma frase de Patrícia
Padral, diretora da petroleira americana Chevron no Brasil, dita em reuniões
fechadas com os diplomatas. Ela teria obtido garantias de Serra de que, com ele
presidente, as petroleiras estrangeiras não deveriam se preocupar com a onda
nacionalista em torno do pré-sal. O depoimento de Patrícia revelado pelo
Wikileaks foi dado três anos atrás, em 2009, quando o Congresso discutia a nova
legislação do petróleo, numa reunião com diplomatas americanos. Serra, então,
já era o pré-candidato a presidente favorito no PSDB.
Os diplomatas americanos queriam conhecer a avaliação das
petroleiras do país, instaladas no Brasil, sobre o debate entre os
parlamentares. Patrícia, então, revelou o que, segundo ela, ele ouvira do
próprio Serra:
"Deixa esses caras (do PT) fazerem o que eles quiserem.
As rodadas de licitações não vão acontecer, e aí nós vamos mostrar a todos que
o modelo antigo funcionava... E nós mudaremos de volta", teria dito o
candidato tucano a presidente à executiva da Chevron. A frase constou de uma
das mensagens do consulado americano no Rio ao Departamento de Estado
interceptadas pelo Wikileaks. É datada de 2 de dezembro de 2009.
"Eles são os profissionais e nós somos os
amadores", teria afirmado a diretora da Chevron aos diplomatas de seu
país, nesse caso se referindo aos integrantes da administração Lula. Nesse
contexto, Patríca Padral disse a eles que Serra, em conversa particular com
ela, teria se comprometido a mudar as regras a favor do interesse das
petroleiras americanas, caso eles viessem a ser atingidos pelo Congresso
Nacional.
Uma das mensagens da diplomacia ianque levou o título de
"A indústria de petróleo vai conseguir combater a lei do pré-sal?".
Nele há a referência a Serra. Como este, outros cinco telegramas
publicados pelo WikiLeaks mostram como a
missão americana no Brasil acompanhou de perto a elaboração das regras para a
exploração do pré-sal. Os documentos revelam a insatisfação das pretroleiras
com a lei de exploração aprovada pelo Congresso – em especial, com o fato de
que a Petrobras seria a única operadora – e como elas atuaram fortemente no
Senado para mudar a lei. O governo brasileiro, no final desse processo,
conseguiu mudar as antigas regras de exploração. No pré-sal elas terão que
seguir um modelo de partilha, entregando pelo menos 30% à União. Além disso, a
Petrobras será a operadora exclusiva.
Para a diretora de relações internacionais da Exxon Mobile,
Carla Lacerda, cuja posição foi transmitida a Washington em um dos e-mails
revelados, a Petrobras terá todo controle sobre a compra de equipamentos,
tecnologia e a contratação de pessoal, o que poderia prejudicar os fornecedores
americanos.
A diretora de relações governamentais da Chevron, Patrícia
Padral, foi mais longe e, em seu encontro com os diplomatas,, acusou o governo
de fazer uso "político" do modelo.
Fernando José Cunha, diretor-geral da Petrobras para África,
Ásia, e Eurásia, chegou a dizer ao representante econômico do consulado
americano no Rio que uma nova empresa iria acabar minando recursos da
Petrobrás. O único fim, para ele, seria político: "O PMDB precisa da sua
própria empresa".
Mesmo com tanta reclamação, os telegramas deixaram claro que
as empresas americanas escolheram ficar no Brasil para explorar o pré-sal. No
período do envio das mensagens, uma das maiores preocupações dos americanos era
que o modelo favorecesse a competição chinesa, já que a empresa estatal da
China poderia oferecer mais lucros ao governo brasileiro.
Patrícia Padral teria reclamado da apatia da oposição:
"O PSDB não apareceu neste debate". Para ela, Serra se opunha à lei,
mas não demonstrava "senso de urgência". Nesse contexto, ele teria
dito: "Deixa esses caras (do PT)
fazerem o que eles quiserem. As rodadas de licitações não vão acontecer, e aí
nós vamos mostrar a todos que o modelo antigo funcionava... E nós mudaremos de
volta".
"Com a indústria resignada com a aprovação da lei na
Câmara dos Deputados, a estratégia agora é recrutar novos parceiros para
trabalhar no Senado, buscando aprovar emendas essenciais na lei, assim como
empurrar a decisão para depois das eleições de outubro", conclui o
telegrama do consulado.
Entre os parceiros, o OGX, do empresário Eike Batista, a
Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) e a Confederação
Naiconal das Indústrias (CNI).
"Lacerda, da Exxon, disse que a indústria planeja fazer
um 'marcação cerrada' no Senado, mas, em todos os casos, a Exxon também iria
trabalhar por conta própria para fazer lobby".
Já a Chevron afirmou que o futuro embaixador, Thomas Shannon,
poderia ter grande influência nesse debate – e pressionou pela confirmação do
seu nome no Congresso americano.
"As empresas vão ter que ser cuidadosas", conclui o
documento. "Diversos contatos no Congresso (brasileiro) avaliam que, ao
falar mais abertamente sobre o assunto, as empresas de petróleo estrangeiras
correm o risco de galvanizar o sentimento nacionalista sobre o tema e
prejudicar a sua causa".
Fonte: Wikileaks
Postado por Jussara Seixas
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