A divulgação parcial dos resultados da apuração da Comissão
Nacional da Verdade (CNV) à medida que houver conclusões sobre os casos, ou a
divulgação final apenas ao término dos trabalhos em maio de 2014 é colocada em
debate por uma reportagem de Roldão Arruda publicada hoje no jornal O Estado de
S.Paulo, sob o título "Divulgar agora ou deixar tudo para as conclusões
finais?".
A matéria diz que os sete membros da CNV estão divididos
quanto a isto. Eu aprovo a divulgação
parcial à medida que os trabalhos forem avançando. Como faz muito bem hoje o
coordenador da Comissão, Cláudio Fonteles, com o relatório por ele elaborado e
no qual conclui que que o ex-deputado Rubens Paiva foi morto nas dependências
do DOI-CODI, em quartel do Exército na rua Barão de Mesquita, no Rio.
Fonteles chegou à conclusão ao analisar documento encontrado
no Arquivo Nacional, em Brasília, em que agentes do DOI-CODI do Rio descrevem
como Rubens Paiva foi localizado e preso. O ex-deputado, como todos nós
acompanhamos, foi levado de seu apartamento no Rio por agentes da ditadura para
depoimento no dia 20 de janeiro de 1971. Desde então, passou a constar das
listas de desaparecidos políticos assassinados pela ditadura militar.
Forças Armadas ainda
mantêm versão absurda sobre "fuga" de Paiva
A versão oficial, ainda mantida pelas Forças Armadas apesar
de todos os indícios apontarem o contrário, é a de que o ex-deputado (cassado
pelo 1º ato institucional do regime militar) fugiu quando era levado para
reconhecer uma casa no Rio. Mas o documento redigido dia 25 de janeiro de 1971
e agora incluído no relatório de Fonteles não faz nenhuma menção à fuga que, de
acordo com o sustentado pelo Exército, teria ocorrido na madrugada do dia 22 de
janeiro.
Tivesse acontecido, de verdade, "a fuga", por óbvio
esse evento constaria desse pormenorizado registro, analisa Fonteles ao
destacar que o documento desmente essa versão.
No documento, agentes do DOI-CODI-Rio relatam à Agência Rio do
Serviço Nacional de Informações - SNI (um dos serviços de espionagem da
ditadura) que Paiva foi localizado por meio de duas passageiras - Cecília
Coimbra e Marilene - de um voo que chegava de Santiago, no Chile, ao Aeroporto
do Galeão.
Elas traziam cartas de exilados políticos naquele país que
deveriam ser entregues ao ex-deputado. Por meio do número de telefone de Paiva,
informado pelas passageiras, agentes do CISA (extinto órgão de inteligência da
Aeronáutica) conseguiram localizar o endereço do ex-deputado. O informe
menciona que Paiva "foi localizado, detido e levado para o QG da 3ª Zona
Aérea e de lá conduzido juntamente com Cecília e Marilene para o DOI".
Sobre Paiva faltam dois
esclarecimentos: quem matou e onde está o corpo
O fato é que sobre o assassinato do deputado Rubens Paiva em
dependências das Forças Armadas (DOI-CODI-Rio) quase tudo já está esclarecido
há tempos, graças a um intenso trabalho de busca desenvolvido por sua viúva,
Maria Eunice Beyrodt de Paiva. Como ressalta matéria do Estadão hoje, apenas
dois pontos fundamentais clamam esclarecimentos: quem são os assassinos e o que
fizeram com o corpo do ex-deputado.
Os papéis em poder de Cláudio Fonteles citam os nomes de dois
militares que tiveram contato com objetos e documentos do deputado: o major
Belham, que teria recebido dois cadernos de anotações, e o capitão Santabaia,
que teria retirado os documentos do carro de Paiva. Cláudio Fonteles informa
que a CNV vai tentar localizá-los.
O próximo passo, portanto, no esclarecimento do assassinato
do deputado Rubens Paiva é ouvir, colher o depoimento destes militares. Destes
e dos demais militares cujos nomes forem aparecendo nas investigações da CNV. A
Comissão não tem poder para puni-los, mas tem o dever de convocá-los e
interrogá-los sobre o terror que patrocinaram e os crimes que cometeram.
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