As motivações do procurador-geral da República, Roberto
Gurgel, ao denunciar o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) duas semanas antes das
eleições para a presidência do Senado Federal e, em seguida, vazar o relatório
da mesma denúncia pelo site da revista Época, no dia da eleição, nada tem a ver
com preocupações morais ou funcionais.
A máscara de servidor exemplar com a qual tem se apresentado
ao país desde a micareta do mensalão não resiste a uma chuva de carnaval, basta
lembrar da atuação do chefe do Ministério Público Federal no caso do
arquivamento da Operação Vegas da Polícia Federal, de 2009, a primeira a pegar
as ligações do ex-senador Demóstenes Torres, do DEM de Goiás, com o bicheiro
Carlinhos Cachoeira. O sempre tão diligente e cioso dos bons costumes
procurador-geral escondeu as informações da Justiça e obrigou a PF a realizar
outra operação, a Monte Carlo, no ano passado – esta, afinal, que se tornou
impossível de ser novamente engavetada por Gurgel.
O que Roberto Gurgel pretendeu ao denunciar Renan Calheiros
às vésperas das eleições do Senado foi viabilizar a eleição do também
procurador da República, o senador Pedro Taques (PDT-MT), praticamente um
representante do procurador-geral dentro do Parlamento. Mas não se trata apenas
de um movimento corporativista. Uma vez presidente do Senado, Taques teria nas
mãos o poder de definir o que deve ou não ser colocado em votação no plenário.
Dadas as ligações viscerais estabelecidas, desde o julgamento
do mensalão, entre a PGR e a oposição, sem falar no apoio irrestrito dos
oligopólios de mídia, não seria pouca coisa ter um preposto num cargo tão
importante.
Mas como Gurgel não entende nada de política e Taques é
apenas um neófito no Senado, as campanhas de um e de outro foram só tiros n’água.
Mas é bom que se diga, não há nada a comemorar.
Sai José Sarney, o Kim Il-sung do Maranhão, entra Renan
Calheiros, o adesista das Alagoas.
Nem ética, nem interesse público. As eleições das mesas
diretoras do Congresso Nacional continuam sendo o resultado da baixa política
de alianças entre o Executivo e o Legislativo, onde grassam como moedas de
troca as indicações de cargos, os favorecimentos regionais, as mesquinharias
paroquiais e a blindagem mútua.
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