O setor rural brasileiro, no período entre 2003 e 2009,
cresceu mais economicamente se comparado ao restante do pais. Segundo dados da
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, a chamada “nova classe média”, que
atingia 20,6% da população rural em 2003, chegou a 35,4% dessa população em
2009 e deverá atingir a casa dos 50% em 2014, mantida a tendência atual. A
renda cresceu mais nas áreas pobres rurais do que nas cidades. Os dados são do
livro ˜Superação da pobreza e a nova classe média no campo˜, lançado na VIII
Feira Nacional da Agricultura Familiar e Reforma Agrária.
Marco Aurélio Weissheimer
Rio de Janeiro - O setor rural brasileiro, no período entre
2003 e 2009, cresceu mais economicamente se comparado ao restante do pais.
Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD/IBGE), a
chamada “nova classe média”, que atingia 20,6% da população rural em 2003,
chegou a 35,4% dessa população em 2009 e deverá atingir a casa dos 50% em 2014,
mantida a tendência atual. A renda cresceu mais nas áreas pobres rurais do que
nas cidades, assim como a renda na região Nordeste cresceu mais do que no
Sudeste. Um novo estudo, realizado pela Fundação Getúlio Vargas, revela que a
pobreza no campo, em comparação com as grandes cidades, caiu 16,2% entre 2009 e
2010.
Os dados são do livro ˜Superação da pobreza e a nova classe
média no campo˜, de Marcelo Neri, Luisa Carvalhaes Coutinho de Melo e Samanta
dos Reis Sacramento Monte (FGV Editora), lançado quinta-feira (22), na VIII
Feira Nacional da Agricultura Familiar e Reforma Agrária, no Rio de Janeiro.
Produzido pelo Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural do Ministério
do Desenvolvimento Agrário (NEAD/MDA), o livro é resultado de pesquisa
realizada por Marcelo Neri, presidente do Instituto de Pesquisa Econômica e
Aplicada (Ipea) e professor da Fundação Getulio Vargas.
Segundo esse estudo, esse crescimento de renda no campo
esteve menos associado ao agronegócio e mais à expansão de transferências
públicas no meio rural (aposentadoria rural, Benefícios de Prestação Continuada
(BPC), Bolsa Família, entre outros programas. O crescimento acumulado de 71,8%,
de 2003 a 2009, aponta ainda o estudo, equivale a 3,7 milhões de brasileiros do
campo que passaram a integrar a classe C (um universo de 9,1 milhões de pessoas
em 2009).
Entre 2003 e 2009, a renda per capita media do brasileiro que
vive na área rural cresceu 6,1% ao ano em termos reais, ou seja, já descontada
a inflação e o crescimento populacional, afirma também a pesquisa. Ela passou
de R$ 212,58 para R$ 303,30. O crescimento médio nacional no mesmo período foi
de 4,72%.
Além dos programas de transferência de renda, como o Bolsa
Família, dos benefícios da Previdência e do aumento do salário mínimo, as
políticas públicas de desenvolvimento rural e de fortalecimento da agricultura
familiar vêm desempenhando um papel fundamental na redução da pobreza no campo,
destaca o ministro do Desenvolvimento Agrário, Pepe Vargas. Quem circula pelos
pavilhões da Feira Nacional da Agricultura Familiar tem uma amostra bem
significativa desse universo em expansão representado pela agricultura familiar
brasileira.
Programas sociais
aumentam renda no campo
Os programas sociais representam um fator importante desse
processo de ascensão social no meio rural. Segundo o livro “Superação da
pobreza e a nova classe media no campo”, a fonte de renda que mais cresceu na
área rural foi a de programas sociais (21,4% contra 12,9% da media nacional).
Esse crescimento foi influenciado principalmente pela criação do Programa Bolsa
Família, em 2003, e suas expansões posteriores. O reajuste do salário mínimo,
que cresceu 45% nesse período e o crescimento de 5,58% da renda da previdência
no piso também contribuíram para o aumento de renda no meio rural. Já a renda
do trabalho tornou-se menos importante na área rural do que no resto do pais,
correspondendo a 66,5% da renda média da população rural (contra 76% da media
nacional).
Entre 1993 e 2009, a taxa de pobreza entre crianças de zero a
quatro anos caiu 35,2%, aponta a mesma publicação. Essa queda tende a subir com
a idade até chegar a 85,2% na população acima de 60 anos. A maior parte dessa
queda da pobreza das crianças no campo, 29,4%, ocorreu entre 2003 e 2009,
contra 8,7% entre 1992 e 2003.
O livro organizado por Marcelo Neri traz no final um capítulo
sobre o futuro, que defende a construção de uma nova agenda de políticas
sociais rurais. O Brasil, sustenta, precisa ir alem do “dar mercado aos
pobres”, completando o movimento dos últimos anos. “Devemos tratar o pobre co o
protagonista de sua história e não como um passivo receptor de transferências
de dinheiro oficiais e de créditos consignados a benefícios. O programa
Territórios da Cidadania propõe fazer isso a partir de uma perspectiva pública˜.
Os desafios a superar nesta área não são poucos.
Um dos principais “gargalos logísticos” para os pequenos
agricultores está ligado ao problema do acesso aos mercados consumidores.
Políticas de acesso a esses mercados, tais como a formação de cooperativas de
pequenos produtores, podem facilitar o processo de compras governamentais. O
mesmo se aplica a uma política de transporte rural, com a garantia de estradas
capaz de ligar esses produtores aos mercados consumidores, ao fortalecimento
das políticas de microcrédito e à qualificação das escolas rurais.
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