Ao ligar documentos esparsos que encontrou no Arquivo
Nacional, o coordenador da Comissão Nacional da Verdade, Claudio Fonteles,
concluiu que havia ordem do regime militar para que militantes de esquerda trocados
por diplomatas ou que fugiram para Cuba deveriam ser executados ao retornar ao
Brasil.
Ele analisou o caso de três militantes da Ação Libertadora
Nacional (ALN), Boanerges de Souza Massa, Rui Berbert e Jeová de Assis Gomes,
presos respectivamente, em Pindorama, Natividade e Guará, no Norte de Goiás.
Os documentos inéditos mostram que os agentes assinalavam ser
necessário aproveitar um momento de racha na ALN, a debilidade do grupo (dois
deles estavam com malária) e o fato de ainda não terem conseguido instalar a
base guerrilheira.
Fonteles transcreve a recomendação oficial: “É vital a
eliminação desses elementos antes que consigam se firmar e quando sua
vulnerabilidade é clara”.
Pela versão oficial, Berbert suicidou-se, Jeová morreu ao
reagir e Boanerges desapareceu depois de ser transferido para Brasília.
“Os opositores ao
regime, que retornassem de Cuba, seriam, como o foram, sumariamente mortos pelo
Estado Ditatorial militar, que os vigiava, passo a passo, mesmo em território
cubano e, principalmente, a partir do instante em que de lá partissem”, escreve
Fonteles.
O texto toca em outra ferida da esquerda: a de que poderia
haver um delator já em Cuba. Dos 26 militantes que retornaram entre o final de
1971 e início de 1972, e que se tornaram alvos da chamada “Operação Ilha”,
apenas seis escaparam, entre eles, o então militante José Dirceu.
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