A foto maior, à esquerda, mostra o quadro que tinha as câmeras ocultas.No alto, à direita, o “furo” na tela que escondia uma câmera. Abaixo, ela instalada
por Conceição Lemes
Há pouco mais de três semanas estudantes, professores e
funcionários da USP, na Cidade Universitária, foram surpreendidos com uma
denúncia: a reitoria havia instalado, escondidas atrás de quadros no saguão do
bandejão central, microcâmeras.
Na hora do jantar desse mesmo dia, as câmeras foram
removidas.
A reitoria não deu qualquer explicação nem sobre a colocação
nem sobre a retirada dos equipamentos de vigilância. E várias perguntas da
comunidade uspiana continua sem respostas, entre as quais estas:
*Por que ela não foi informada previamente da instalação das
câmeras?
* Em que outros lugares da Cidade Universitária as pessoas
(visitantes e a comunidade da USP) estão sendo vigiadas sem serem informadas?
* O que foi feito com as imagens obtidas durante o tempo em
que elas funcionaram sem serem descobertas?
*A instalação das câmeras foi feita por iniciativa da própria
reitoria? Se não, quem são os responsáveis?
Assustados com o caso e mais ainda com o silêncio que se
seguiu (dentro e fora da USP), um grupo de alunos de graduação em Jornalismo e
de pós-graduação em Ciências da Comunicação, resolveu “solicitar informações
sobre a instalação das câmeras espiãs dentro do restaurante universitário”.
“Em razão da gravidade
dos fatos, imaginávamos que seriam investigados por algum dos órgãos internos
da Universidade, especialmente por sua Comissão de Ética, para apuração dos
responsáveis e esclarecimento do ocorrido”, diz o grupo de alunos em e-mail
enviado ao Viomundo. “Como não
verificamos qualquer movimento nesse sentido, nós resolvemos agir. Fazendo uso
da Lei de Acesso à Informação e do Decreto Estadual nº 58.052/12, encaminhamos
três pedidos à Reitoria da USP, por meio do Serviço de Informações ao Cidadão –
SIC, do governo do Estado.”
Os três pedidos de esclarecimentos foram encaminhados no dia
10 de novembro. Eles podem ser
acompanhados AQUI. Números dos protocolos: 66750122408, 68159122409 e
70274122411.
USP: CÂMERAS SÃO PARA “ACOMPANHAR O FLUXO E MANTER O
ABASTECIMENTO DAS REFEIÇÕES”
Esta repórter contatou a assessoria de imprensa da reitoria
da USP, para saber: 1) Foi a reitoria que determinou a instalação dessas
câmeras?; 2) Qual o objetivo delas?; 3) Por que estavam escondidas?; 4) O que a
reitoria vai fazer com as imagens obtidas?
Resposta da assessoria de imprensa,via e-mail:
A Superintendência de Assistência Social informa que duas
câmeras foram instaladas à entrada do Restaurante Central com a única e
exclusiva finalidade de acompanhar o fluxo e manter o abastecimento das
refeições, visando a melhor atender à comunidade uspiana. Em razão da demanda
crescente de usuários no Restaurante, torna-se necessário monitorar o tempo e o
fluxo contínuo para servir as refeições. Cartazes com essas informações estão
sendo afixados no local para informar os usuários.
A reitoria da USP tem até dia 30 para responder os três
pedidos de esclarecimentos feitos pelo grupo de alunos. Eles acreditam que a
reitoria vá usar o prazo por inteiro, aproveitando o final do ano e as férias,
que invariavelmente esfriam esse tipo de questão.
“Caso a reitoria se
recuse a fornecer as informações requeridas, retarde deliberadamente ou forneça
intencionalmente informações incorretas, incompletas ou imprecisas, o reitor
será processado por improbidade administrativa”, antecipa o grupo. “Será também
nos termos da Lei de Acesso à Informação e art. 11 da Lei nº 8.429/92.”
Em tempo 1. Esses alunos não fazem parte de nenhum coletivo
conhecido da universidade. Atemorizados pelo fato, eles estavam conversando
sobre o fato e resolveram arregaçar as
mangas. Os nomes dos signatários constam dos requerimentos; apenas não querem
que seus dados sejam amplamente divulgados.
Em tempo 2. Se a finalidade era somente monitorar o fluxo de
abastecimento das refeições, por que esconder as câmeras atrás das telas? E se
não havia realmente nenhuma outra intenção, como fichar os alunos, por que elas
foram removidas tão logo a denúncia veio a público?
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