domingo, 25 de novembro de 2012

A quem a história não esqueceu: A Revolta da Chibata


Por Erick da Silva

Em 1910, no dia 22 de novembro daquele ano, após ser dado o toque de recolher, o ataque já estava pronto. Iniciava-se o movimento que entraria para a história como a “Revolta da Chibata”.

Os marinheiros tomaram naquela noite a então poderosa marinha de guerra brasileira e dirigiram os seus canhões contra a capital da república.

O movimento lutava por melhores condições de vida para a categoria. O soldo era muito baixo; as condições de trabalho eram precárias; recebiam alimentação de péssima qualidade, muitas vezes estragada; as mínimas faltas eram castigadas com surras, solitária, ginástica punitiva. Em plena República, 22 anos após a abolição da escravatura, a punição física pela chibata ainda era realidade. Práticas discriminatórias eram correntes, os oficiais orgulhavam-se de seus “sangues limpos” e desprezavam os marujos, que eram em sua quase totalidade formada por negros e mulatos.

A revolta teve entre seus principais comandantes,o marujo João Cândido, gaúcho de nascimento servindo a Marinha no Rio de Janeiro, e que ficaria conhecido como o “Almirante Negro”. Após o inicio da rebelião, alguns dias mais tarde, o movimento sairia vitorioso, obtendo anistia da revolta, o fim da chibata e o reconhecimento das reivindicações.

A revolta da esquadra brasileira repercutiu no mundo inteiro. Os jornais comparavam-na com a do encouraçado Potemkin. Na Rússia, era apenas um navio rebelado, 500 marinheiros. No Brasil, eram cerca de 2.300 marujos e quatro navios. A vitória dos humildes marinheiros, no entanto, mal pode ser comemorada. A grandiosidade do evento e o temor de que o proletariado pudesse se inspirar nos marinheiros fez o governo brasileiro romper a anistia em poucos dias, fuzilar e colocar na prisão os marinheiros rebelados.

Logo após o fim do movimento, o Governo iniciou o desrespeito da anistia e a repressão dos marujos, que foram demitidos, presos e perseguidos. Apesar da vitória quanto as condições dos marinheiros ( o fim da chibata, melhora na alimentação etc.) os principais lideres foram traídos e a maioria dos participantes foram assassinados.

João Cândido é preso e sobrevive à tentativa de assassinato na Ilha das Cobras, ele foi um dos poucos a sobreviver a traição governamental. No entanto, banido da marinha, com uma tuberculose que o acompanhou ao longo de toda a sua vida, não pode desfrutar dos avanços conquistados pela revolta. Tendo de lutar duramente ao longo de sua vida pela sobrevivência. Sendo perseguido e vigiado por muitos anos devido a sua participação na revolta, João teve um final de fida permeado por dificuldades, falecendo aos 82 anos em 2006.

Passados mais de um século da “Revolta de Chibata”, o legado heroico deste movimento de resistência popular é de fundamental importância. Um exemplo da capacidade "dos de baixo" de lutar e se rebelar. Mesmo o sangue derramado pelos poderosos, não podem frear as mudanças. Ao rebelde João Candido e os marinheiros da revolta seu monumento estará para sempre "nas pedras pisadas do cais".

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