Por Erick da Silva
Em 1910, no dia 22 de novembro daquele ano, após ser dado o
toque de recolher, o ataque já estava pronto. Iniciava-se o movimento que
entraria para a história como a “Revolta da Chibata”.
Os marinheiros tomaram naquela noite a então poderosa marinha
de guerra brasileira e dirigiram os seus canhões contra a capital da república.
O movimento lutava por melhores condições de vida para a
categoria. O soldo era muito baixo; as condições de trabalho eram precárias;
recebiam alimentação de péssima qualidade, muitas vezes estragada; as mínimas
faltas eram castigadas com surras, solitária, ginástica punitiva. Em plena
República, 22 anos após a abolição da escravatura, a punição física pela chibata
ainda era realidade. Práticas discriminatórias eram correntes, os oficiais
orgulhavam-se de seus “sangues limpos” e desprezavam os marujos, que eram em
sua quase totalidade formada por negros e mulatos.
A revolta teve entre seus principais comandantes,o marujo
João Cândido, gaúcho de nascimento servindo a Marinha no Rio de Janeiro, e que
ficaria conhecido como o “Almirante Negro”. Após o inicio da rebelião, alguns
dias mais tarde, o movimento sairia vitorioso, obtendo anistia da revolta, o
fim da chibata e o reconhecimento das reivindicações.
A revolta da esquadra brasileira repercutiu no mundo inteiro.
Os jornais comparavam-na com a do encouraçado Potemkin. Na Rússia, era apenas
um navio rebelado, 500 marinheiros. No Brasil, eram cerca de 2.300 marujos e
quatro navios. A vitória dos humildes marinheiros, no entanto, mal pode ser
comemorada. A grandiosidade do evento e o temor de que o proletariado pudesse
se inspirar nos marinheiros fez o governo brasileiro romper a anistia em poucos
dias, fuzilar e colocar na prisão os marinheiros rebelados.
Logo após o fim do movimento, o Governo iniciou o desrespeito
da anistia e a repressão dos marujos, que foram demitidos, presos e
perseguidos. Apesar da vitória quanto as condições dos marinheiros ( o fim da
chibata, melhora na alimentação etc.) os principais lideres foram traídos e a
maioria dos participantes foram assassinados.
João Cândido é preso e sobrevive à tentativa de assassinato
na Ilha das Cobras, ele foi um dos poucos a sobreviver a traição governamental.
No entanto, banido da marinha, com uma tuberculose que o acompanhou ao longo de
toda a sua vida, não pode desfrutar dos avanços conquistados pela revolta.
Tendo de lutar duramente ao longo de sua vida pela sobrevivência. Sendo
perseguido e vigiado por muitos anos devido a sua participação na revolta, João
teve um final de fida permeado por dificuldades, falecendo aos 82 anos em 2006.
Passados mais de um século da “Revolta de Chibata”, o legado
heroico deste movimento de resistência popular é de fundamental importância. Um
exemplo da capacidade "dos de baixo" de lutar e se rebelar. Mesmo o
sangue derramado pelos poderosos, não podem frear as mudanças. Ao rebelde João
Candido e os marinheiros da revolta seu monumento estará para sempre "nas
pedras pisadas do cais".
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