Imprensa e oposição (como sempre) atacam, em uníssono, o
parecer do relator da CPMI do Cachoeira que pede o indiciamento de cinco
jornalistas e sugere ao Ministério Público Federal que prossiga com as
investições sobre outros sete. As alegações centrais são que a medida fere a
liberdade de imprensa ou refletem o desejo de vingança do PT com seus algozes
no mensalão. Uma leitura do relatório revela uma outra realidade. E uma
realidade estarrecedora sobre os meandros da imprensa brasileira.
Desde que o relator da CPMI do Cachoeira, deputado Odair
Costa (PT-MG), confirmou que irá pedir o indiciamento de cinco jornalistas no
seu relatório final, imprensa e oposição passaram a atacar a medida, em
uníssono, alegando ora afronto à liberdade de expressão, ora o desejo de
vingança do PT contra seus algozes no “mensalão”. Uma leitura do relatório
revela uma outra realidade. E uma realidade estarrecedora sobre os meandros da
imprensa brasileira. Os documentos falam de jornalistas vendendo sua força de
trabalho ou o espaço dos veículos em que trabalham para beneficiarem uma
reconhecida organização criminosa na prática de crimes. Ou então, associando-se
a ela para destruir desafetos comuns dos criminosos e dos seus veículos.
O diretor da sucursal de Veja em Brasília, Policarpo Junior,
é a face mais conhecida deste time. Mas o grupo é muito maior. O relatório da
CPMI cita nominalmente doze jornalistas que teriam contribuído periodicamente
com o esquema criminoso, e acabaram flagrados em atitudes, no mínimo,
suspeitas, por meio das quebras de sigilos telefônicos, ficais e bancários dos
membros da quadrilha e das empresas, de fachada ou não, que operavam em nome
dela. Desses doze, pede o indiciamento de cinco, contra os quais as provas são
robustas. Sugere ao Ministério Público Federal (MPF) o prosseguimento das
investigações contra os outros sete, com base nos indícios já levantados pela
Comissão.
Saiba quem são os jornalistas que, no entendimento da CPMI,
devem ser indiciados:
1 - Wagner Relâmpago
Repórter policial do DF Alerta, da TV Brasília/Rede TV, e do
programa Na Polícia e nas Ruas – Rádio Clube 105,5 FM - DF . Segundo a CPMI,
ele utilizou seu espaço na TV e no rádio para “bater” nos inimigos da quadrilha
ou personalidades públicas que atrapalhavam suas atividades criminosas. Em
2011, foram creditados pelo menos três repasses da quadrilha para sua conta
pessoal de, aproximadamente, de R$ 300 mil cada. As relações de Relâmpago com
Cachoeira foram reveladas por Carta Maior em 30/3, na reportagem Quadrilha de
Cachoeira mantinha relações com a mídia. Para a CPMI, Relâmpago incorreu no
artigo 288 do Código Penal, o que justifica seu indicamento pelo crime de
formação de quadrilha.
2 - Patrícia Moraes
É sócia-administradora e editora de política do jornal Opção,
de Goiás. Mantinha interlocução constante com Cachoeira e outros membros da
quadrilha. Também recebia pagamentos períodicos do bando, na sua conta pessoal
e na do jornal, para “divulgar as matérias de interesse da organização
criminosa e fazer oposição e a desconstrução midiática de adversários”,
conforme o relatório da CPMI. O documento sugere, inclusive, suspeitas de que o
periódico possa pertencer à quadrilha de Cachoeira. Os recursos recebidos pela
jornalista somam R$ 155 mil. A CPMI pediu seu indiciamento por formação de
quadrilha e lavagem de dinheiro.
3 - João Unes
Jornalista e advogado, trabalhou em O Estado de S.Paulo, O
Popular, TV Anhanguera e TV Record. Segundo a CPMI, foi um dos jornalistas que
receberam as mais vultosas quantias da quadrilha. Foi o idealizador e diretor
do jornal online A Redação que, segundo a CPMI, foi adquirido posteriormente
pela máfia. A soma dos valores transferidos para ele, conforme diálogos
interceptados, chega a R$ 1, 85 milhão. Nem todos os valores mencionados nos
diálogos foram comprovados na quebra dos sigilos do jornalista e das empresas
fantasmas do bando. A CPMI pede seu indiciamento por formação de quadrilha e
lavagem de dinheiro.
4 - Carlos Antônio Nogueira, o Botina
Segundo o relatório, ele se apresenta como proprietário do
jornal O Estado de Goiás, mas na verdade é sócio minoritário de Carlinhos
Cachoeira no empreendimento que, conforme diálogos interceptados, também tem ou
teve como sócio o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB). Botina também é
proprietário da empresa WCR Comunicação e Produção e do Canal 5. Sob ordens de
Cachoeira, utilizava o jornal para criar fatos políticos, fabricar notícias que
pudessem prejudicar adversários ou constranger autoridades, enfim, que
beneficiem as atividades da organização. Movimentou vultosas quantias. As
maiores delas foram por meio da WCR Produção e Comunicação, que recebeu
recursos das laranjas de Cachoeira da ordem de R$ 460 mil, R$ 1,42 milhão e R$
584 mil, entre outros. A CPMI pede seu indiciamento por formação de quadrilha e
lavagem de recursos.
5 - Policarpo Junior
É diretor da sucursal da Veja em Brasília. Segundo o
relatório da CPMI, colaborou com os interesses da organização criminosa promovendo
suas atividades ilícitas, eliminando ou inviabilizando a concorrência e
desconstruindo imagens e biografias de adversários comuns da máfia e da
publicação. O relacionamento entre Cachoeira e Policarpo começou em 2004.
Apesar de atualmente mídia e oposição considerarem um acinte à liberdade de
imprensa sua convocação para prestar esclareimentos na CPMI do Cachoeira, ele
depôs na CPI dos Bingos, em 2005, para defender o contraventor, como Carta
Maior revelou na reportagem Jornalista da Veja favoreceu Cachoeira em
depoimento de 2005, em 28/5. Suas relações com Cachoeira foram fartamente
documentadas, como mostram, por exemplo, as reportagens Os encontros entre
Policarpo, da Veja, e os homens de Cachoeira, de 10/5, e Cachoeira: “O
Policarpo, ele confia muito em mim, viu?”, de 15/5. A CPMI pediu seu
indiciamento por formação de quadrilha.
Confira também quem são os jornalistas que a CPMI pede que
sejam alvos de mais investigações pelo MPF:
1 - Luiz Costa Pinto, o Lulinha
É o proprietário da empresa Ideias, Fatos e Textos (IFT), que
prestou serviços para a Câmara durante a gestão de João Paulo Cunha (PT-SP),
fato que acabou rendendo à ambos denúncias por crime de peculato no escândalo
do “mensalão”. Cunha foi absolvido por este crime na ação penal 470, que tramita
no STF. O processo contra Lulinha tramita na justiça comum. Conforme o
relatório da CPMI, O jornalista foi contratado pela organização criminosa de
Cachoeira para emplacar matérias favoráveis ao grupo nos meios jornalísticos.
Entre fevereiro de 2011 e maio de 2012, recebeu o total de R$ 425 mil da Delta,
por meio de transferências creditadas na conta da IFT.
2 - Cláudio Humberto
Citado em diversas gravações interceptadas pela Polícia
Federal como uma espécie de assessor de comunicação, ele também foi contratado
via Delta, a pedido do governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB). Entre 2011
e 2012, recebeu R$ 187,7 mil, depositados pela Delta na conta da CT Pontocom
Ltda, empresa na qual é sócio-administrador desde maior de 2001.
3 - Jorge Kajuru
É apresentador da TV Esporte Interativo. Também recebeu
recursos da organização de Cachoeira que, segundo ele, se referiam à patrocínio
feito pela Vitapan, empresa farmacêutica ligada ao esquema criminoso. Ele teria
recebido do grupo R$ 20 mil, entre 2011 e 2012, em contas das suas empresas e
na sua conta pessoal. A CPMI, porém, o isenta de responsabilidades por conduta
criminosa.
4 - Magno José, o Maguinho
De acordo com a CPMI, o blogueiro Magno José, o Maguinho,
também recebeu recursos da organização criminosa para prestar serviços à
quadrilha. Ele é editor do blog Boletim de Novidades Lotéricas, que prega a
legalização dos jogos no país. Entretanto, os repasses dos recursos ao
jornalista não foram comprovado. Os indícios decorrem do material publicado
pelo blog e das conversas dos membros da quadrilha interceptadas pela PF.
Portanto, a CPMI optou por não propor seu indicamento.
5 - Mino Pedrosa
Já trabalhou no Jornal de Brasília, em O Estado de S.Paulo,
em O Globo, na revista IstoÉ e hoje é editor-chefe do blog QuidNovi. É apontado
como o responsável pela deflagração do Caso Loterj, que resultou na queda do
assessor da Casa Civil do governo Lula, Waldomiro Diniz. De acordo com
conversas interceptadas pela Polícia Federal (PF) entre membros da quadrilha de
Cachoeira, ele teria recebido um apartamento e um carro para depôr em favor do
contraventor, envolvido no esquema. É responsabilizado também como o autor de
denúncias sobre o governo do Distrito Federal, com base em grampos ilegais
feitos por Idalberto Matias, o Dadá, membro da quadrilha. E, também, como a
pessoa que “vazou” para Cachoeira que a PF preparava a Operação Monte Carlo. A
CPMI reconhece, porém, que não obteve provas suficientes para pedir o
indiciamento do jornalista.
6 - Renato Alves
É jornalista do Correio Braziliense e editor do blog Última
Parada. Segundo o relatório, as interceptações telefônicas revelaram que ele
também mantinha interlocução frequente com a organização criminosa. Foi,
inclusive, o autor de uma das matérias mais comemoradas pelos integrantes da
quadrilha em 2011, que promovia os jogos eletrônicos do grupo pela internet no
exterior. Em troca dos serviçcos prestados, Alves recebia presentes e
vantagens, como ele mesmo atesta em ligação itnerceptada pela PF. Mas a CPMI
afirma que não conseguiu colher provas suficientes de que ele tenha contribuído
para a prática de crimes e pede novas investigações.
7 - Eumano Silva, o Doni
É ex-Diretor da Revista Época em Brasília. Também teria
prestado importantes serviços à quadrilha de Cachoeira, por meio de reportagens
que a beneficiava. A CPMI, porém não encontrou provas conclusivas sobre sua
participação no crime e, por isso, sugeriu ao MPF mais investigações.
Por Najla Passos no site Carta Maior
Porém, faltam ainda muitos dos porcos e bois do PiG, como,
Noblábláblá, Reinaldo, Merval...
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