Carcaças de ônibus queimados, policiais, bandidos e inocentes
assassinados, corpos sendo recolhidos nas ruas, toques de recolher, bairros sem
transporte, escolas sem aulas, o medo e o desespero por toda parte.
Parece que estamos falando da Síria, mas estas cenas e
sentimentos já fazem parte da rotina de quem vive na área metropolitana de São
Paulo. Dia após dia, noite após noite, os números da violência vão aumentando.
Na última madrugada, de sexta para sábado, foram mais cinco
mortos e dois feridos a bala, e outro ônibus incendiado nesta guerra sem fim
entre a PM e o PCC.
A colega Vanessa Beltrão, do R7, contabilizou mais de 200
mortos a tiros desde o começo de outubro. Apenas entre a noite de quinta e a
manhã de sexta, 15 pessoas foram assassinadas e outras 12 baleadas, menos de 24
horas depois de o governador Geraldo Alckmin garantir que a situação estava sob
controle:
"As mortes já estão em processo de queda. Eu tenho um
acompanhamento diário, elas já estão em um ritmo bem menor. Tem coisa que não
tem ligação com o crime organizado".
Se o governador Alckmin e o seu secretário da Segurança,
Antonio Ferreira Pinto, nomeado por José Serra, há seis anos no cargo, fossem
menos autosuficientes e arrogantes, certamente muitas destas mortes poderiam
ter sido evitadas.
Em junho, antes que a atual onda de violência fosse
deflagrada, a Polícia Federal avisou o governo de São Paulo que os líderes do
PCC estavam preparando ataques a policiais, segundo informam os repórteres Marco
Antônio Martins e Rogério Pagnan, na "Folha".
"As informações foram repassadas diretamente pelo
ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, ao secretário da Segurança Pública
de São Paulo, Antonio Ferreira Pinto. O secretário, no entanto, nega ter
recebido esta informação", relata a matéria.
Interceptações telefônicas feitas desde fevereiro do ano
passado já revelavam que os chefões do PCC comandavam o tráfico de drogas e
armas de dentro da Penitenciária de Presidente Prudente, mas o governo do
Estado só concordou esta semana em aceitar a ajuda do governo federal para uma
ação conjunta contra os criminosos.
O primeiro passo está sendo dado agora com o envio destes
líderes da organização criminosa para presídios federais de segurança máxima
bem longe de São Paulo, mas as pessoas continuam morrendo na maior cidade do
país. Até quando? Já deveriam ter feito isso aqui há muito tempo, como ocorreu
em outros Estados.
Ninguém fala de outra coisa, cada um tem sua própria história
para contar. "Eu fiquei tão apavorado no ponto do ônibus, que peguei o
primeiro que passou, e nem era o meu, só para escapar dali", ouvi esta
manhã de um funcionário do Colégio Santa Cruz, no Alto de Pinheiros, que estava
numa roda com outros colegas relatando seus dramas para chegar ao trabalho e
voltar para casa com vida.
Com tiroteios em volta dos pontos de ônibus, ruas fechadas
pela polícia, o trânsito cada dia mais caótico, quem mora longe sofre mais na
"cidade dividida" de que fala o prefeito eleito Fernando Haddad, mas
o clima de pavor se alastrou por toda parte.
Chegaram a comentar que os ataques do PCC e a legião de
mortos que deixaram pelo caminho estavam relacionados com a campanha eleitoral,
mas o número de assassinatos só fez aumentar depois do fechamento das urnas.
O pior que se pode fazer numa situação como essa é querer
politizar e partidarizar este problema que atinge a todos nós, ou querer
minimizar o que está acontecendo, como fazem as autoridades estaduais.
Em declaração feita a Vanessa Beltrão, publicada hoje aqui no
R7, José Vicente da Silva, ex-secretário nacional de segurança pública e atual
professor do Centro de Altos Estudos de Segurança da PM, chegou a colocar a
culpa na imprensa:
"A sensação de insegurança não tem vinculação tão direta
e clara com a incidência criminal, mas sim pela maneira como a mídia coloca
isso".
E pensar que o nome deste professor, segundo a
"Folha", chegou a ser cogitado pelo governador Geraldo Alckmin para
substituir Antonio Ferreira Pinto na Secretaria de Segurança Pública. Assim,
não há risco de a situação melhorar e podermos voltar a viver em paz.
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