Aos 74 anos, Jair Krischke falará à CNV na próxima
segunda-feira em posse de documentos que atestariam a existência da cooperação
repressiva internacional no Cone Sul e suas atividades no país, inclusive
depois da Anistia
Por: Tadeu Breda, da Rede Brasil Atual
São Paulo – "Vou mostrar com documentos que quem criou a
Operação Condor foi o Brasil", disse à RBA o ativista gaúcho Jair
Krischke, fundador do Movimento de Justiça e Direitos Humanos (MJDH) de Porto
Alegre (RS), que na próxima segunda-feira (26) irá fazer uma série de
revelações à Comissão Nacional da Verdade (CNV). Krischke promete
"provar" a ocorrência de uma série de ações realizadas em conjunto
pelos aparelhos repressores das ditaduras sul-americanas para sequestrar e
eliminar membros da resistência.
"Vou documentalmente exibir a primeira Operação Condor,
levada a cabo em dezembro de 1970, em Buenos Aires, e a segunda, ocorrida em
junho de 1971", revelou, sem dar mais detalhes "em respeito à
CNV". O ativista exibirá pedidos feitos ao Brasil pelas ditaduras vizinhas
com o objetivo de capturar militantes da oposição caçados pela repressão da
Argentina, Uruguai e Paraguai, muitos deles até hoje desaparecidos. "Um desses
documentos informa com singeleza: 'preso pelo Exército brasileiro e entregue a
polícia do Uruguai contra recibo'", antecipa. A audiência está marcada
para as 14h e será aberta ao público.
A Operação Condor foi "oficialmente" inaugurada em
1975 durante uma reunião das polícias políticas brasileira, paraguaia, chilena,
argentina, uruguaia e boliviana, em Santiago do Chile. "Os representantes
do Brasil não assinaram a ata de fundação", lembra o ativista gaúcho. Por
isso, costuma-se debitar sua criação à Dina, órgão repressor do chileno Augusto
Pinochet. Para Krischke, porém, o grande articulador da cooperação repressiva
regional foi Serviço Nacional de Informações (SNI) do Brasil.
"O embaixador brasileiro no Chile à época, Antonio
Câmara Canto, era considerado o quinto homem da Junta militar que conduzia a
ditadura no país vizinho", pontua. "No Estádio Nacional, um dos
centros da tortura chilena, havia interrogadores que falavam português com
sotaque carioca." Krischke acredita que a aparência de que o Brasil teve
papel secundário na Operação Condor se deve à que considera a grande
"qualidade" do regime ditatorial imposto por aqui em 1964: a
dissimulação. "Costumamos colocar tudo nas costas dos Estados Unidos, onde
cabe tudo, mas o Brasil deu todo o suporte para a criação dos órgãos
repressores na América do Sul."
O ativista gaúcho anuncia que mostrará documentos que
comprovam ainda atividades da Operação Condor protagonizadas pelos brasileiros
inclusive depois da aprovação da Lei de Anistia, em 1979. "Houve ações
realizadas no Aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, em março de 1980, e outra
em 1984", adianta. "As operações continuaram mesmo depois do regime
ter anistiado os militantes."
Respeitado internacionalmente, o MJDH de Krischke salvou da
tortura, da morte ou do desaparecimento cerca de 2 mil pessoas perseguidas
durante os anos de chumbo das décadas de 1960 a 1980, quando regimes militares
sufocaram a democracia nos países do Cone Sul. Krischke vai contestar ainda a
versão oficial das autoridades militares brasileiras sobre a queima de
arquivos, informando sobre o atual paradeiro de documentos supostamente
destruídos sem autorização legal.
Nenhum comentário:
Postar um comentário