segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Os jogos de vídeo game e a barbárie Laerte Braga



Sanguessugado do QTMD?

Laerte Braga(*), especial para sua coluna no QTMD?
Num artigo publicado no jornal FOLHA DE SÃO PAULO, o jornalista Paulo Francis explicou como funciona a mente do piloto de caça norte-americano. Referia-se à primeira guerra contra o Iraque, conduzida por George Bush, o pai.
Segundo Francis, pelo menos àquela época, o sangue que esguichava dos monstros mortos nos jogos de vídeo game era verde. Os jovens norte-americanos cresciam (e crescem) matando “monstros”. Como no Brasil, uma geração cresceu acreditando que a pedagogia da GLOBO via Xuxa era o segredo para o sucesso. E sucesso virou o objetivo de quase todas as crianças do País, substituindo o bem estar, a realização pessoal no seu sentido lato e como ser humano. A geração Xuxa, uma lástima.
Nos EUA o negócio assume aspectos de barbaridade explícita. Volta e meia, uma vez por semana, um invade uma escola e mata dezenas de colegas e professores. Um escritório e mata colegas de trabalho. Ou se posta no alto de um prédio e dispara aleatoriamente contra as pessoas que passam. Termina tudo com um pedido de reflexão e as bênçãos divinas sobre os americanos (do norte) e a América (que consideram propriedade, extensão de segunda categoria dos EUA.
Francis dizia que na idade de alistarem-se nas forças armadas os jovens que iam para a aviação não tinham a menor dificuldade em despejar bombas de alguns milhares de toneladas, pois não enxergavam seres humanos, mas alvos como nos jogos e o sangue que, porventura pudesse esguichar dali, era verde, como nos vídeos.
Matar “monstros” num jogo, ou iraquianos, afegãos, sírios, líbios, colombianos, etc, etc, num bombardeio é só uma questão de tempo e lugar. Tanto faz que assentado numa poltrona em frente a um computador, ou num caça bombardeio. A diferença estava apenas na possibilidade de uma “ação real”, o que acabava excitando e estimulando o jovem jogador de vídeo.
Sete integrantes de uma tropa de elite da Marinha dos Estados Unidos, incluindo um que participou da operação que assassinou o líder da Al Qaeda, Osama bin Laden, foram punidos por divulgar material confidencial e ceder dados, filmes e fotos, para que uma empresa especializada pudesse como fez, produzir um vídeo especial e mais próximo da realidade.
As punições variaram de advertência a corte dos salários pela metade durante o período de dois meses. O fato foi divulgado pela rede de tevê CBS e confirmado pela Marinha.
Os integrantes da tropa de elite, via de regra apontados como “libertadores”, foram consultores da empresa na produção do jogo.
Bradd Manning é um soldado acusado de ter permitido acesso de milhares de documentos secretos do governo e de operações militares e terroristas dos EUA e de Israel, ao site WIKILEAKS.
Está preso incomunicável, nu, sem qualquer respeito aos direitos humanos, numa base militar nos EUA. Permanece o tempo inteiro com as luzes acesas, não tem cama, o compartimento para suas necessidades fisiológicas é mínimo e limpado uma vez por semana. Não há culpa formada, o processo legal não tem trâmite. Juristas do país já classificaram a prisão de ilegal, os EUA foram denunciados em todos os países do mundo pelo crime, pela violação de direitos de Manning e nenhum juiz tem coragem suficiente para mandar libertá-lo a despeito da flagrante ilegalidade. Lá como cá, o Judiciário é parte da máquina que controla os “negócios de Estado”.
Para se ter uma idéia, negros, latinos e imigrantes são os maiores habitantes, digamos assim, das cadeias nos EUA. Brancos, de um modo geral, são tratado a leite no pires e pão de ló.
A violência, nas dimensões que a temos, é uma conseqüência natural do capitalismo.
Seja pelas razões explicadas por Francis a propósito dos pilotos norte-americanos, dos mariners de elite, seja da violência que estabelece uma pré-guerra civil em São Paulo. O poder oficial da OPUS DEI a partir do governador Geraldo Alckmin versus o poder real do PCC – Primeiro Comando da Capital – e no meio disso tudo a Polícia Militar, anomalia do Estado brasileiro, dividida entre um e outro poder.
Num outro meio, mais perigoso, o cidadão comum, sempre a vítima de bala perdida, ou da “missão cumprida”. Como em Bogotá, capital do crime na América Latina. À falta de competência para combater o crime organizado e envolvidos no crime organizado as forças de segurança matam pessoas comuns e atribuem a elas crimes monstruosos. Não importa, por exemplo, que sejam crianças. É irrelevante, o importante são os números.
Terminado julgamento de Carla Cepolina, bode expiatório da morte do coronel Ubiratan Guimarães, assassino de 111 seres humanos confinados a uma prisão, Carandiru, a mídia preocupou-se em mostrar que um dos advogados de defesa da acusada era “bonitão e teatral” e essas características teriam sido decisivas para o júri absolver a ré.
O espetáculo, o sangue verde, ainda que não existam dúvidas quanto a inocência da moça e certezas que Ubiratan Guimarães foi executado ou por inimigos ou por parceiros de crime. A expectativa é se Carla Cepólina, 47 anos de idade, vai ser ou não convidada a participar do programa do Faustão, virar evangélica, ou posar nua para alguma revista “especializada”.
Não se transformou no maior espetáculo da mídia, pois a preocupação maior era com o resultado das eleições nos EUA e o final do julgamento do mensalão.
“Pobre México, tão perto dos EUA, tão longe de Deus”. Frase centenária do ex-presidente mexicano Porfírio Diaz. Separados por um muro.
Não existe nada de estranho na atitude dos soldados da Marinha dos EUA no caso da produtora de vídeos games. Desde o governo Bush a imensa maioria das forças de segurança e inteligência daquele país foram privatizadas. A guerra virou um negócio, como negócio fundamental à boçalização dos norte-americanos são os vídeos em que os muçulmanos são os “monstros”.
A punição é simbólica. O sangue que esguicha continua a ser verde.
A barbárie não.
*Laerte Braga é jornalista e colaborador do “Quem tem medo da democracia?”, onde mantém a coluna “Empodera Povo“.

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