Durante 'Ato em Defesa do PT', em São Paulo, ex-ministro
afirma que vai 'ficar de pé' e que sua inocência está 'registrada nos autos do
STF'
Por: João Paulo Soares, da Rede Brasil Atual
São Paulo - O ex-ministro José Dirceu afirmou neste sábado
(24) que estava “marcado para morrer” desde o início o processo político e
midiático conhecido por mensalão. Da cassação de seu mandato de deputado pela
Câmara Federal, em 2005, à condenação pelo STF na Ação Penal 470, agora, Dirceu
fez um histórico detalhado dos vários momentos em que as leis e as regras
democráticas foram reinterpretadas ou ignoradas para que a investida contra ele
e o PT se transformasse num “julgamento de exceção, de caráter sumário”.
“Eu estava marcado
para morrer. Só não fui fuzilado porque no Brasil não existe pena de morte. E o
problema é que eu não tenho vocação para a morte. Vou ficar de pé”, disse o
ex-ministro, arrancando aplausos das pessoas que compareceram ao Sindicato dos
Engenheiros, no centro de São Paulo, para o “Ato em Defesa do PT”.
O ato foi organizado pela corrente O Trabalho – na abertura
do 5º Encontro Nacional Diálogo Petista. A corrente, adversária histórica de
Dirceu e de seu grupo dentro do partido, é uma das que estão mais à esquerda no
espectro político petista. Segundo Markus Sokol, um de seus líderes, as
divergências internas não impedem a solidariedade aos companheiros e a denúncia
da maneira como se deu o julgamento, cujo objetivo real seria atingir o PT, a
esquerda e as forças populares.
Participaram da plenária, que também contou com o ex-deputado
José Genoino, igualmente condenado sem provas, representantes de movimentos
sociais e da CUT, além da militância e de parlamentares, como o senador Eduardo
Suplicy (SP) e o deputado estadual paulista Zico Prado.
Dirceu classificou de “desfaçatez” a série de manobras
criadas para cassá-lo e depois condená-lo, em especial a “narrativa sem provas
e sem contraditório” do STF, que “violou” princípios constitucionais como a
presunção da inocência e o direito ao recurso a outras instâncias da Justiça.
“O que aconteceu
(comigo) é grave e transcende ao julgamento, porque suspende as garantias
individuais de todos os cidadão”, avaliou. Segundo ele, o seu caso e de outros
criou uma jurisprudência segundo a qual, a partir de agora, qualquer pessoa
pode ser condenada sem provas ou testemunhos.
“Mas estou tranquilo”,
ressaltou. “Está documentado. Minha inocência está registrada para a história
nos autos do próprio STF”.
Dirceu analisou o momento como uma “contra-ofensiva” das
forças conversadores. “Como foram derrotados no campo político e social, e
também no campo eleitoral, eles criaram outro campo, o da judicialização da
política, com a instrumentalização da mídia”, acusou.
Ele afirmou que o PT só vencerá essa contra-ofensiva se fizer
um “profundo” balanço político dos último dez anos e traçar uma estratégia de
“luta comum”, entre todas as correntes internas e a sociedade, para os próximos
dez.
“Aonde quer que eu
esteja, quero participar desse debate”, concluiu.
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