domingo, 25 de novembro de 2012

Solidariedade com estilo

Campanha Todas as Cores, Todos os Amores une moda, cooperação, respeito à diversidade e esperança para soropositivos

Por: Cida de Oliveira

Saiba onde comprar camisetas do projeto todasascorestodososamores.com.br

Animada, com a saúde e a autoestima recuperadas, Gabrielly Alves, 30 anos, dedica-se diariamente, em tempo integral e voluntariamente, às atividades de um bazar beneficente na região central de São Paulo. Nem de longe lembra a pessoa debilitada, sem ânimo e incapaz de sorrir que em 2008 foi acolhida pela Casa de Apoio Brenda Lee, também localizada na capital paulista. “Aqui fui redescobrindo a vida, conhecendo mais sobre a minha doença e aprendendo a enfrentá-la, e a enfrentar a tudo e a todos”, conta.

Ela aprendeu a manter a aids sob controle com medicamentos, refez laços sociais e deixou a entidade em 2010. Casou, conquistou o próprio canto, enviuvou, mas não desanimou. “Faço questão de encorajar pessoas que estejam numa situação na qual já estive.” Gabrielly personifica o ideal da casa de apoio. “Nosso objetivo é que as pessoas atendidas passem a seguir à risca o tratamento, recuperem a saúde, a autoestima, e sejam reinseridas na família, na sociedade”, diz Maria Luiza Macedo, assistente social que dirige a instituição. Residem ali, pelo tempo necessário para sua recuperação, 26 pessoas adultas.

A casa começou a funcionar oficialmente em 1986 para dar assistência médica, social, moral e material às pessoas necessitadas, portadoras do HIV, sem distinção de raça, nacionalidade, condição social, cor ou credo. Dois anos antes, Cícero Caetano Leonardo, mais conhecido como Brenda Lee, acolheu em sua casa, o chamado Palácio das Princesas, seu primeiro paciente, encaminhado pelo Hospital Emílio Ribas. Brenda passou a fazer convênios e ampliou sua capacidade de atendimento. Quando foi assassinada, em 1996, abrigava 27 doentes. Com ajuda de amigos e da comunidade, seu trabalho teve continuidade e em 2003 foi premiado pela Fundação Bill & Melinda Gates.

O trabalho despertou a atenção também da Conexão Solidária, iniciativa da Agência de Desenvolvimento Solidário (ADS) para fortalecer empreendimentos coletivos a partir de uma rede de vendas.

Ao todo, a ADS – organização criada em 1999 pela CUT, com apoio de outras entidades sociais – acompanha 160 cooperativas e associações cadastradas em todo o país, que incluem artesanatos, confecções, pequena indústria e agricultura familiar, entre outras.

 “Há tempos tínhamos o desejo de aproveitar essa rede de empreendimentos em benefício de uma instituição que trabalha pelo combate à discriminação, com apelo à diversidade e no atendimento aos portadores do HIV”, diz Luciana Maretti, coordenadora da Conexão Solidária.

Para unir o útil ao agradável, a organização começou a pensar em uma iniciativa que pudesse, ao mesmo tempo, realizar esse antigo desejo de beneficiar uma entidade respeitada e estimular a produção e a venda de um empreendimento vinculado.

Assim surgiu a campanha Todas as Cores, Todos os Amores, que foi lançada agora em outubro, em São Paulo, que pretende vender, ao longo de um ano, 10 mil camisetas desenhadas pelos renomados estilistas Ronaldo Fraga, Walter Rodrigues, Walério Araújo, Fernanda Yamamoto, Wilson Ranieri, Mark Greiner, Weider Silveira, Andrea

Ribeiro, Michelly X e Estúdio Xingu.

A criação da logomarca da campanha é do designer Glauco Diógenes e a produção é da Cooperativa de Costura de Osasco, empreendimento de economia solidária com o qual a Conexão trabalha. As peças são produzidas nas cores do arco-íris, tons que compõem a bandeira do movimento LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros), também utilizada como símbolo da diversidade.

 “A divulgação de um trabalho com essa finalidade e apoiado por estilistas famosos vai nos tornar mais conhecidas e abrir portas para novos negócios”, diz a presidenta da cooperativa, Marize Alves Prazeres Rodrigues. Segundo ela, para produzir as 10 mil camisetas as 11 cooperadas trabalharam diariamente das 8h às 19h, durante um mês e meio. Foram utilizados 250 quilos de malha. “Cuidamos de tudo desde o início. Orçamentos, compra de materiais e todo o planejamento ficaram por nossa conta.”

Fruto de um programa da Prefeitura de Osasco para capacitar trabalhadores e estimular e assessorar a criação de empreendimentos solidários, a Cooperativa de Costura foi criada em 2006, por dez costureiras fundadoras.

As dificuldades eram grandes, mas não faltou coragem para seguirem em busca de clientes fixos, em especial para atender pedidos maiores, e participaram de licitação no município. No ano passado, confeccionaram 52 mil peças de uniformes para os alunos da rede municipal. “Dava um orgulho tremendo ver pela cidade crianças com camisetas, calças, blusas e bermudas costuradas por nós”, emociona-se Marize.

A oficina tem 18 máquinas de costura e uma de corte, e não deve parar por aí. Os planos de ampliação incluem mudança para um galpão maior e compra de novos equipamentos. 

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