Campanha Todas as Cores, Todos os Amores une moda,
cooperação, respeito à diversidade e esperança para soropositivos
Por: Cida de Oliveira
Saiba onde comprar camisetas do projeto
todasascorestodososamores.com.br
Animada, com a saúde e a autoestima recuperadas, Gabrielly
Alves, 30 anos, dedica-se diariamente, em tempo integral e voluntariamente, às
atividades de um bazar beneficente na região central de São Paulo. Nem de longe
lembra a pessoa debilitada, sem ânimo e incapaz de sorrir que em 2008 foi
acolhida pela Casa de Apoio Brenda Lee, também localizada na capital paulista.
“Aqui fui redescobrindo a vida, conhecendo mais sobre a minha doença e
aprendendo a enfrentá-la, e a enfrentar a tudo e a todos”, conta.
Ela aprendeu a manter a aids sob controle com medicamentos,
refez laços sociais e deixou a entidade em 2010. Casou, conquistou o próprio
canto, enviuvou, mas não desanimou. “Faço questão de encorajar pessoas que
estejam numa situação na qual já estive.” Gabrielly personifica o ideal da casa
de apoio. “Nosso objetivo é que as pessoas atendidas passem a seguir à risca o
tratamento, recuperem a saúde, a autoestima, e sejam reinseridas na família, na
sociedade”, diz Maria Luiza Macedo, assistente social que dirige a instituição.
Residem ali, pelo tempo necessário para sua recuperação, 26 pessoas adultas.
A casa começou a funcionar oficialmente em 1986 para dar
assistência médica, social, moral e material às pessoas necessitadas,
portadoras do HIV, sem distinção de raça, nacionalidade, condição social, cor
ou credo. Dois anos antes, Cícero Caetano Leonardo, mais conhecido como Brenda
Lee, acolheu em sua casa, o chamado Palácio das Princesas, seu primeiro
paciente, encaminhado pelo Hospital Emílio Ribas. Brenda passou a fazer convênios
e ampliou sua capacidade de atendimento. Quando foi assassinada, em 1996,
abrigava 27 doentes. Com ajuda de amigos e da comunidade, seu trabalho teve
continuidade e em 2003 foi premiado pela Fundação Bill & Melinda Gates.
O trabalho despertou a atenção também da Conexão Solidária,
iniciativa da Agência de Desenvolvimento Solidário (ADS) para fortalecer
empreendimentos coletivos a partir de uma rede de vendas.
Ao todo, a ADS – organização criada em 1999 pela CUT, com
apoio de outras entidades sociais – acompanha 160 cooperativas e associações
cadastradas em todo o país, que incluem artesanatos, confecções, pequena
indústria e agricultura familiar, entre outras.
“Há tempos tínhamos o
desejo de aproveitar essa rede de empreendimentos em benefício de uma instituição
que trabalha pelo combate à discriminação, com apelo à diversidade e no
atendimento aos portadores do HIV”, diz Luciana Maretti, coordenadora da
Conexão Solidária.
Para unir o útil ao agradável, a organização começou a pensar
em uma iniciativa que pudesse, ao mesmo tempo, realizar esse antigo desejo de
beneficiar uma entidade respeitada e estimular a produção e a venda de um
empreendimento vinculado.
Assim surgiu a campanha Todas as Cores, Todos os Amores, que
foi lançada agora em outubro, em São Paulo, que pretende vender, ao longo de um
ano, 10 mil camisetas desenhadas pelos renomados estilistas Ronaldo Fraga,
Walter Rodrigues, Walério Araújo, Fernanda Yamamoto, Wilson Ranieri, Mark
Greiner, Weider Silveira, Andrea
Ribeiro, Michelly X e Estúdio Xingu.
A criação da logomarca da campanha é do designer Glauco
Diógenes e a produção é da Cooperativa de Costura de Osasco, empreendimento de
economia solidária com o qual a Conexão trabalha. As peças são produzidas nas
cores do arco-íris, tons que compõem a bandeira do movimento LGBT (lésbicas,
gays, bissexuais e transgêneros), também utilizada como símbolo da diversidade.
“A divulgação de um
trabalho com essa finalidade e apoiado por estilistas famosos vai nos tornar
mais conhecidas e abrir portas para novos negócios”, diz a presidenta da
cooperativa, Marize Alves Prazeres Rodrigues. Segundo ela, para produzir as 10
mil camisetas as 11 cooperadas trabalharam diariamente das 8h às 19h, durante
um mês e meio. Foram utilizados 250 quilos de malha. “Cuidamos de tudo desde o
início. Orçamentos, compra de materiais e todo o planejamento ficaram por nossa
conta.”
Fruto de um programa da Prefeitura de Osasco para capacitar
trabalhadores e estimular e assessorar a criação de empreendimentos solidários,
a Cooperativa de Costura foi criada em 2006, por dez costureiras fundadoras.
As dificuldades eram grandes, mas não faltou coragem para
seguirem em busca de clientes fixos, em especial para atender pedidos maiores,
e participaram de licitação no município. No ano passado, confeccionaram 52 mil
peças de uniformes para os alunos da rede municipal. “Dava um orgulho tremendo
ver pela cidade crianças com camisetas, calças, blusas e bermudas costuradas
por nós”, emociona-se Marize.
A oficina tem 18 máquinas de costura e uma de corte, e não
deve parar por aí. Os planos de ampliação incluem mudança para um galpão maior
e compra de novos equipamentos.
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