Onde foram parar os
intelectuais do PT? Ou os seus simpatizantes na academia, na imprensa e na
sociedade em geral? Vejo o partido e suas lideranças sendo cotidianamente
linchados em praça pública, sua história sendo vilipendiada, achincalhada – e
pasmo não vejo quase nenhuma reação!
Lula Miranda
Temos visto, praticamente
todos os dias, o Partido dos Trabalhadores sendo esculachado nos grandes
jornais e nos telejornais em horário nobre. Poucas dessas críticas são
construtivas. A maior parte delas é nitidamente enviesada, capciosa,
eleitoreira (miravam 2012 e já miram 2014) e visa pouco a pouco desgastar a
imagem do partido e corroer a sua credibilidade junto à sociedade. Algumas
descambam para o mero “golpismo”, pois refletem a intenção de tomar o poder no
grito – mesmo que para tanto seja necessário repetir uma mentira, em uníssono,
reiteradas vezes, até que ela se transforme numa “verdade”. Nem que seja
necessário processar, condenar e prender o Lula sem provas – para tanto
recorreram ao ardiloso artifício do “domínio do fato”. Nem que seja necessário
dar um “golpe paraguaio” na Dilma. Essa é a ordem dos tratores.
Os principais críticos e
detratores do partido são dois ou três professores universitários
neoconservadores e uma dezena de jornalistas, já bastante conhecidos pela sua
“imparcialidade” e “pluralismo de ideias”, mas que têm espaço de destaque e
oportunidade assegurados nas tribunas e tribunais mais “nobres” da grande
imprensa – espaço este que é, diga-se, seguidamente negado aos que tem uma
visão de mundo que lhes é antagônica. Portanto, sem direito ao contraditório ou
ao chamado “outro lado”. Assim funciona a democracia e o pluralismo de faz de
conta que eles vendem para os incautos. Mas, a despeito disso, é nosso dever
combater esse desequilíbrio. De que modo? Cobrando o espaço que nos é devido ou
utilizando dos veículos da imprensa alternativa. Só não pode se deixar
intimidar e calar.
Alguns analistas políticos
insistem em dizer, de modo equivocado e/ou “ufanista”, que o suposto “escândalo
do mensalão” não causou prejuízos ao Partido dos Trabalhadores; que tanto é
assim que o partido ganhou em São Paulo; que conquistou o maior número de
eleitores e que os maiores orçamentos estarão sob sua gestão nas prefeituras; que
elegeu muitos prefeitos etc. Ora, a forma como a grande imprensa explorou esse
episódio causou, está causando e ainda poderá causar grande prejuízo ao PT, na
medida que os formuladores e representantes desse partido na sociedade não
reagem à altura – ou seja, com a competência necessária para rebater as
acusações e os impropérios que lhe são impingidos. O partido necessita resgatar
e comprovar sua inocência.
Mais que isso, precisa
mostrar e lembrar à sociedade sua história de lutas e conquistas – e ao mesmo
tempo indicar, projetar, construir os caminhos rumo ao futuro. O partido deve
mostrar, de modo pedagógico, para seus militantes, mas também, e
principalmente, para todos os cidadãos brasileiros, quais as políticas públicas
que implantou e as que serão daqui para a frente implementadas para o
crescimento continuado e o desenvolvimento do país, para que tenhamos uma
distribuição de renda mais equânime e justa. O PT precisa deixar claro para a
sociedade qual a contribuição que o partido ainda pode oferecer para melhorar,
ainda mais, as condições de vida do povo brasileiro. Deve, novamente, seduzir a
sociedade como um todo. Deve, para tanto, repelir, peremptoriamente, a agenda
negativa que lhe está sendo imposta – e ao país – e colocar na pauta uma agenda
positiva. Mas onde estão seus formuladores e porta-vozes na sociedade para
tanto?
É forçoso reconhecer: o
Partido dos Trabalhadores teve um papel fundamental na construção desse novo
Brasil em que vivemos. Sim, pois só os demasiados “distraídos” ou os empedernidos
partidários da oposição não concordam que hoje vivemos um novo e melhor
momento, auspicioso. E que isso, certamente, não foi obra do acaso, mas de
conquistas do povo brasileiro, juntamente com os partidos de esquerda e de
centro-esquerda –e aí não só o PT, obviamente.
É preciso fazer a louvação
do que bem merece: reconhecer os méritos daqueles jovens de classe média que no
passado, lá no começo da década de 1980, saindo de uma renhida e desgastante
luta contra a ditadura, ajudaram a criar o PT. Jovens que se juntaram a uma
classe operária emergente, construindo assim o embrião daquilo que viria a se
consolidar como um novo sindicalismo [vale lembrar que preponderava até então o
chamado “peleguismo”]. Colocando, muitas vezes, em segundo plano suas vidas
pessoais e laços familiares – e em prejuízo de suas próprias carreiras
profissionais. É preciso relembrar que a estes jovens e operários se associaram
alguns intelectuais, religiosos e estudantes, que fundaram então o Partido dos
Trabalhadores. E que esse partido ajudou a mudar a cara do país. Alguém precisa
(re)contar e (re)lembrar ao país essa bela história.
É essa história que agora
pretendem corromper, negar, apagar. E junto com ela todas as suas conquistas.
Não se pode permitir.
Mas para isso, para contar
e defender a sua história, um partido, qualquer que seja, precisa de bons
quadros e de intelectuais à sua altura e/ou à altura de sua história.
Por isso, insisto na
pergunta: onde foram parar os intelectuais do PT? Pois, repito, vejo o partido
e suas lideranças sendo cotidianamente linchados em praça pública, sua história
sendo vilipendiada, achincalhada – e pasmo não vejo quase nenhuma reação! Será
que todos esses pecados que lhes imputam são devidos?! E as suas virtudes,
inexistem? O que pesa mais na balança de sua história: os erros ou os acertos;
os pecados ou as virtudes?
Repito a pergunta: onde
foram parar os intelectuais do PT? Ou os seus simpatizantes na academia, na
imprensa e na sociedade em geral? Pois é constrangedor e ensurdecedor o silêncio
que se ouve aqui na blogosfera e na mídia em geral. Estarão acomodados e
apaziguados em alguma sinecura, como dizem algumas línguas viperinas? Estarão
intimidados, acovardados; seriam pusilânimes? Ou estariam esperando para só ir
“na boa” e não entrar em bola dividida?
Por onde andarão os
intelectuais que ajudaram a construir essa história tão bonita e que agora se
ausentam do debate, se omitem?
Avança mais aquele que luta
mais, que caminha mais – e ainda há um longo percurso a percorrer. A bola,
caprichosa e sedutora, está nos pés do PT. Ele precisará dos seus craques, dos
seus melhores quadros. Pois a dívida social do país para com os seus filhos
ainda é colossal. Cabe-nos lembrar. E precisará lutar – muito. Iluminar os
caminhos. Formar. Informar. Criar fortes laços e raízes em todas as classes e
estratos sociais. E caminhar. E assim transformar aos poucos a sociedade.
Afinal, esse é o seu papel.
(*) Artigo publicado
originalmente no site Brasil
247.
Lula Miranda é poeta e
cronista. Foi um dos nomes da poesia marginal na Bahia na década de 1980.
Publica artigos em veículos da chamada imprensa alternativa, tais como Carta
Maior, Caros Amigos, Observatório da Imprensa, Fazendo Média e blogs de
esquerda.
Nenhum comentário:
Postar um comentário