segunda-feira, 12 de novembro de 2012

A DERROTA DOS JUROS ALTOS




Delúbio Soares (*)

O juro alto é o principal inimigo do desenvolvimento. Ele é tão nocivo quanto a inflação, que mina a estrutura sócio-econômica e desagrega as nações. O dinheiro caro, a falta do crédito compensatório que estimule o empreendedorismo, a atividade parasitária de um sistema financeiro sem qualquer compromisso com o progresso, deixou marcas profundas em nossa história.
Há casos impressionantes de pequenos e médios empresários, comerciantes com tradição, industriais arrojados e produtores agrícolas da melhor qualidade que fecharam as portas de seus negócios sufocados pelos estratosféricos juros praticados pela banca nacional. E, pior: no rastro dos que quebraram, o desemprego de milhões de brasileiros foi mais dramática das consequências. Cada fábrica que desmobilizava suas linhas de produção, cada pequeno comércio que fechava suas portas, cada agricultor que perdia seu trator, simbolizava a falência de um modelo que se exauriu faz tempo, enriquecendo muito poucos e levando milhares de empresários brasileiros às varas de falência e milhões de trabalhadores à miséria.
A partir da eleição do presidente Lula em 2002, quando a história começou a mudar para o povo brasileiro em praticamente todos os setores de sua vida, as iniciativas dos empreendedores, os trabalhos de nossa agroindústria, os esforços dos exportadores, o empresariado nacional como um todo, passou a receber redobrada atenção do governo federal e de seus agentes. O BNDES, a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil, notadamente, passaram a envidar seus melhores esforços no apoio à produção, solidários aos que tocam a impressionante engrenagem de nossa pujante economia.
Depois do verdadeiro paraíso na terra em que se constituiu o governo anterior – o de Fernando Henrique Cardoso e dos tucanos – para os banqueiros nacionais e internacionais, torrando bilhões de recursos públicos no Proer e cacifando a atuação de um sistema financeiro absolutamente divorciado dos interesses nacionais, sem qualquer compromisso com os que lutam e forjam no comércio, na indústria e na agricultura a riqueza do Brasil, o governo Lula priorizou a produção lastreada no crédito farto e o desenvolvimento baseado numa sociedade menos desigual, espelho de um país que passava a ser respeitado pelo resto do mundo.
Perdemos a década dos 90, especialmente pelo apoio absoluto dos governantes de então ao sistema financeiro, na medida inversa do apoio nenhum aos que produziam e produzem.  Lula não só recuperou o que se perdeu como provocou uma autêntica revolução pacífica em nossa sociedade, tirando da miséria e da pobreza 40 milhões de brasileiros, logo incorporados ao mercado consumidor, formando uma nova e poderosa classe média.
O Brasil do juro alto e do imenso poderio dos banqueiros passou a ser o Brasil do crédito a serviço do desenvolvimento. Uma classe média com mais 40 milhões de consumidores agregadores em menos de uma década dos governos de Lula e Dilma, passou a comprar automóveis, eletrodomésticos, materiais de construção, vestuário, alimentação de melhor qualidade, passou a consumir itens antes destinados apenas aos ricos, lotando os aviões e os centros comerciais. A massa de consumo também levou seus filhos às escolas, passou a viajar nas férias, a ler, a frequentar restaurantes e livrarias, a exercer plenamente uma cidadania esquecida e desprezada nos anos infames do tucanato.
Com o juro alto nada disso seria possível. E foi a determinação dos governos do PT e da base aliada, especialmente no primeiro semestre do ano de 2012, que possibilitou ao Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal – com a impressionante força econômico-financeira que detém, além de uma capilaridade sem igual em nosso território vastíssimo e no seio de nossa sociedade civil – passarem a trabalhar com taxas muito mais baixas do que aquelas praticadas pela banca privada. Enquanto os bancos particulares chegam a cobrar mais de 10% ao mês em simples operações de crédito rotativo (o cheque especial, por exemplo), o BB e a CEF passaram a praticar taxas em torno dos 3% a 4%, muito mais justas e aceitáveis.
Essa política de juros baixos, socialmente mais responsável e economicamente mais produtiva, desnudou a estúpida agiotagem praticada pelos bancos privados, que vem sufocando as atividades produtores e as forças vivas de nossa economia. Ainda assim, o Brasil ocupa um lamentável lugar no ranking dos países que se tornaram prisioneiros da cupidez do capital improdutivo: dividimos com a Turquia o lastimável título de país com os juros mais altos do mundo. Nações desenvolvidas como os Estados Unidos, Canadá, França e Japão, e mesmo o Chile, praticam uma política de juros reais, que servem de parâmetro para aquilatarmos o quanto os banqueiros sugaram nas décadas mais recentes em nosso país. O juro cobrado mensalmente de um cliente que tenha usado todo o seu limite de cheque especial, ou que faça um pequeno empréstimo num banco privado brasileiro, é quase o dobro do juro cobrado anualmente de um norte-americano que se sirva das mesmíssimas operações bancárias. Pagamos aqui em apenas num mês o mesmo que um cliente canadense pagaria durante todo um ano! Ou seja: um abuso inominável contra a economia popular.
As filas extensas de milhões de novos clientes nas agências do BB e da CEF, assim como os contínuos anúncios de baixa nos juros por bancos privados como o Bradesco e o HSBC, são indicadores insofismáveis de que foi acertada a decisão corajosa do governo petista de Dilma Rousseff, enfrentando a agiotagem institucionalizada na banca privada e financiando o desenvolvimento nacional com crédito farto e barato em nossas duas maiores instituições financeiras (o secular Banco do Brasil e a popularíssima Caixa Econômica Federal).
O Brasil decretou guerra ao capital improdutivo, ao sistema financeiro parasitário, aos que não tem compromisso com nosso desenvolvimento e progresso. E a vitória é de todos nós.

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