Delúbio Soares (*)
O juro alto é o principal inimigo do desenvolvimento. Ele é
tão nocivo quanto a inflação, que mina a estrutura sócio-econômica e desagrega
as nações. O dinheiro caro, a falta do crédito compensatório que estimule o
empreendedorismo, a atividade parasitária de um sistema financeiro sem qualquer
compromisso com o progresso, deixou marcas profundas em nossa história.
Há casos impressionantes de pequenos e médios empresários,
comerciantes com tradição, industriais arrojados e produtores agrícolas da
melhor qualidade que fecharam as portas de seus negócios sufocados pelos
estratosféricos juros praticados pela banca nacional. E, pior: no rastro dos
que quebraram, o desemprego de milhões de brasileiros foi mais dramática das
consequências. Cada fábrica que desmobilizava suas linhas de produção, cada
pequeno comércio que fechava suas portas, cada agricultor que perdia seu
trator, simbolizava a falência de um modelo que se exauriu faz tempo,
enriquecendo muito poucos e levando milhares de empresários brasileiros às
varas de falência e milhões de trabalhadores à miséria.
A partir da eleição do presidente Lula em 2002, quando a
história começou a mudar para o povo brasileiro em praticamente todos os
setores de sua vida, as iniciativas dos empreendedores, os trabalhos de nossa
agroindústria, os esforços dos exportadores, o empresariado nacional como um
todo, passou a receber redobrada atenção do governo federal e de seus agentes.
O BNDES, a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil, notadamente, passaram a
envidar seus melhores esforços no apoio à produção, solidários aos que tocam a
impressionante engrenagem de nossa pujante economia.
Depois do verdadeiro paraíso na terra em que se constituiu o
governo anterior – o de Fernando Henrique Cardoso e dos tucanos – para os
banqueiros nacionais e internacionais, torrando bilhões de recursos públicos no
Proer e cacifando a atuação de um sistema financeiro absolutamente divorciado
dos interesses nacionais, sem qualquer compromisso com os que lutam e forjam no
comércio, na indústria e na agricultura a riqueza do Brasil, o governo Lula
priorizou a produção lastreada no crédito farto e o desenvolvimento baseado
numa sociedade menos desigual, espelho de um país que passava a ser respeitado
pelo resto do mundo.
Perdemos a década dos 90, especialmente pelo apoio absoluto
dos governantes de então ao sistema financeiro, na medida inversa do apoio
nenhum aos que produziam e produzem.
Lula não só recuperou o que se perdeu como provocou uma autêntica
revolução pacífica em nossa sociedade, tirando da miséria e da pobreza 40
milhões de brasileiros, logo incorporados ao mercado consumidor, formando uma
nova e poderosa classe média.
O Brasil do juro alto e do imenso poderio dos banqueiros
passou a ser o Brasil do crédito a serviço do desenvolvimento. Uma classe média
com mais 40 milhões de consumidores agregadores em menos de uma década dos
governos de Lula e Dilma, passou a comprar automóveis, eletrodomésticos,
materiais de construção, vestuário, alimentação de melhor qualidade, passou a
consumir itens antes destinados apenas aos ricos, lotando os aviões e os
centros comerciais. A massa de consumo também levou seus filhos às escolas,
passou a viajar nas férias, a ler, a frequentar restaurantes e livrarias, a
exercer plenamente uma cidadania esquecida e desprezada nos anos infames do
tucanato.
Com o juro alto nada disso seria possível. E foi a
determinação dos governos do PT e da base aliada, especialmente no primeiro
semestre do ano de 2012, que possibilitou ao Banco do Brasil e a Caixa
Econômica Federal – com a impressionante força econômico-financeira que detém,
além de uma capilaridade sem igual em nosso território vastíssimo e no seio de
nossa sociedade civil – passarem a trabalhar com taxas muito mais baixas do que
aquelas praticadas pela banca privada. Enquanto os bancos particulares chegam a
cobrar mais de 10% ao mês em simples operações de crédito rotativo (o cheque
especial, por exemplo), o BB e a CEF passaram a praticar taxas em torno dos 3%
a 4%, muito mais justas e aceitáveis.
Essa política de juros baixos, socialmente mais responsável e
economicamente mais produtiva, desnudou a estúpida agiotagem praticada pelos
bancos privados, que vem sufocando as atividades produtores e as forças vivas
de nossa economia. Ainda assim, o Brasil ocupa um lamentável lugar no ranking
dos países que se tornaram prisioneiros da cupidez do capital improdutivo:
dividimos com a Turquia o lastimável título de país com os juros mais altos do
mundo. Nações desenvolvidas como os Estados Unidos, Canadá, França e Japão, e
mesmo o Chile, praticam uma política de juros reais, que servem de parâmetro
para aquilatarmos o quanto os banqueiros sugaram nas décadas mais recentes em
nosso país. O juro cobrado mensalmente de um cliente que tenha usado todo o seu
limite de cheque especial, ou que faça um pequeno empréstimo num banco privado
brasileiro, é quase o dobro do juro cobrado anualmente de um norte-americano
que se sirva das mesmíssimas operações bancárias. Pagamos aqui em apenas num
mês o mesmo que um cliente canadense pagaria durante todo um ano! Ou seja: um
abuso inominável contra a economia popular.
As filas extensas de milhões de novos clientes nas agências
do BB e da CEF, assim como os contínuos anúncios de baixa nos juros por bancos
privados como o Bradesco e o HSBC, são indicadores insofismáveis de que foi
acertada a decisão corajosa do governo petista de Dilma Rousseff, enfrentando a
agiotagem institucionalizada na banca privada e financiando o desenvolvimento
nacional com crédito farto e barato em nossas duas maiores instituições
financeiras (o secular Banco do Brasil e a popularíssima Caixa Econômica
Federal).
O Brasil decretou guerra ao capital improdutivo, ao sistema
financeiro parasitário, aos que não tem compromisso com nosso desenvolvimento e
progresso. E a vitória é de todos nós.
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