Segundo Carlos Zarattini, tabela com números incorretos levou
deputados a erro na votação do projeto sobre utilização recursos do petróleo
que são repassados aos estados
Por: Maurício Thuswohl, da Rede Brasil Atual
Rio de Janeiro – Relator do substitutivo sobre a divisão dos
royalties do petróleo na Câmara dos Deputados, Carlos Zarattini (PT-SP) acusa a
Confederação Nacional dos Municípios (CNM) de ter induzido ao erro os deputados
que, na terça-feira (6), votaram contra o projeto que destinava 100% dos
royalties do petróleo à educação.
Segundo ele, a confederação distribuiu em plenário uma
"tabela falsa" com a informação de que os municípios ganhariam mais
dinheiro com a proposta original aprovada no Senado. "Votaram um projeto
que não pensa os problemas do Brasil, principalmente por derrotar uma questão
fundamental que era vincular esses recursos ao gasto com a educação, que é uma
necessidade enorme que o Brasil tem", critica Zarattini.
Ela também viu falta de empenho do governo federal no
episódio. "Eu acho que por parte do Planalto poderia ter havido um apoio
maior e mais decisivo ao nosso projeto", afirmou.
Para além das questões nacionais, Zarattini convive hoje com
a especulação de que pode assumir a Secretaria de Transportes na administração
Fernando Haddad em São Paulo. Ele foi coordenador dessa área durante a
elaboração do programa de governo do petista.
Mesmo sem confirmar as movimentações, o deputado falou, em
entrevista à RBA, sobre algumas das principais propostas de Haddad para o
setor.
Leia a seguir a íntegra
da entrevista exclusiva:
A que o sr. atribui a surpreendente reviravolta na votação
sobre a divisão dos royalties do petróleo, com a retomada do projeto do Senado?
Na elaboração de seu substitutivo, o sr. cometeu um erro de avaliação política
ao não separar as áreas já licitadas das que estão ainda por licitar?
O problema que houve foi que nós fizemos um projeto que
buscou chegar a um consenso, a um equilíbrio que atendesse aos estados e
municípios produtores, mas que também transferisse recursos para os demais
estados do Brasil. Infelizmente, houve uma atuação tanto da oposição quanto da
Confederação Nacional de Municípios, que distribuíram uma tabela falsa que induziu
os deputados a um equívoco. Votaram um projeto que não pensa os problemas do
Brasil, principalmente por derrotar uma questão fundamental que era vincular
esses recursos ao gasto com a educação, que é uma necessidade enorme que o
Brasil tem.
O sr. acredita que a postura contrária das bancadas dos
estados produtores ao seu projeto acabou influenciando nesse resultado? A
postura das bancadas do Rio de Janeiro e do Espírito Santo, que unificou todos
os partidos, pode ter causado alguma distorção na avaliação política do projeto
na Câmara?
Evidentemente, a posição do governador Sérgio Cabral e da
bancada do Rio de não aceitar nenhum tipo de acordo prejudicou um pouco a
negociação. A bancada do Espírito Santo apoiava o nosso projeto, nós tivemos o
voto do Espírito Santo. Então, o Rio de Janeiro estava praticamente isolado.
Essa posição dos deputados do Rio evidentemente atrapalhou, mas,
fundamentalmente, eu acho que o maior equívoco foi a divulgação dessa tabela da
Confederação Nacional de Municípios.
Olhando para trás, o sr. faria algo diferente na condução
política desse processo, sobretudo no que diz respeito à relação com o Palácio
do Planalto?
Eu acho que por parte do Planalto poderia ter havido um apoio
maior e mais decisivo ao nosso projeto. Faltou um pouco de clareza em relação a
isso. O governo não se posicionou muito claramente em relação a essa questão,
mas ainda assim acabou levando consigo essa derrota, que é bastante grave.
O sr. foi um dos coordenadores do plano de governo do
prefeito eleito de São Paulo, Fernando Haddad, na área de transportes. Foi
convidado a integrar o secretariado? Já houve alguma sondagem em relação a
isso?
Não, ainda não houve nenhum convite aqui. O prefeito eleito
certamente ainda está pensando, analisando e discutindo os nomes que vai
convidar.
Qual será a melhor maneira de o prefeito Haddad realizar a
implementação do Bilhete Único Mensal? Como fazer as negociações necessárias
com o governo estadual?
Eu acredito que o prefeito vai dialogar com o governador
(Geraldo Alckmin, PSDB) para fazer o Bilhete Único Mensal valer no metrô e nos
trens. Agora, na outra vez que nós iniciamos o bilhete único, o governo do
estado não quis fazer junto, mas acabou aderindo depois. Eu acredito que é
inevitável que o estado acabe no fim das contas apoiando e introduzindo o
Bilhete Único Mensal no metrô e nos trens.
O sr. acredita que aí possa residir uma questão política que
dificulte esse acordo com o PSDB? Uma vez dando certo a iniciativa do Bilhete
Único Mensal, isso será mais um fator de fortalecimento do PT para as eleições
ao governo de São Paulo em 2014...
Evidentemente que pode existir essa visão política. Mas, se o
PSDB e o governo do estado tiverem uma visão política, se analisarem a questão
por esse ponto de vista, será pior ainda para eles, porque nós vamos implantar
o Bilhete Único Mensal em um ano de governo no máximo e isso vai beneficiar a
população. O povo quer que isso seja ampliado, então é evidente que eles vão
acabar ampliando.
Haddad falou na implementação de 150 quilômetros de corredores
de ônibus em São Paulo. Se o sr. pudesse sugerir ao prefeito eleito os locais
para essa implementação, quais sugeriria?
Nós ainda estamos em uma fase de análise. Estabelecemos 400
quilômetros de corredor que pretendemos fazer, mas não dará para fazer isso em
quatro anos. Desses 400 quilômetros, nós vamos fazer uma análise de
custo-benefício para ver onde que o investimento repercute e favorece o maior
número de pessoas. Em seguida, nós vamos selecionar a rede de 150 quilômetros.
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