No tempo em que surgem, em nome da cínica “isenção” dos
historiadores, os que tentam, na Alemanha e em outros países, rever os fatos e
desculpar Hitler e os seus seguidores, é bom relembrar a Batalha de
Stalingrado, encerrada há 70 anos, e reverenciar os que ali morreram. Graças à
sua bravura, conseguimos preservar alguns dos grandes valores do humanismo.
Mauro Santayana, na Carta Maior
Há setenta anos, depois de mais de dois milhões de mortos nos
dois campos (a União Soviética perdeu mais de um milhão e cem mil combatentes e
civis, só nesse combate) terminou a mais sangrenta de todas as batalhas da
História – a de Stalingrado.
Com a capitulação de von Paulus e mais 22 generais de Hitler,
e 91.000 de seus soldados remanescentes, a Segunda Guerra Mundial foi decidida
ali. Até então, o Fuehrer e suas tropas pareciam invencíveis. Em julho de 1942,
quando se iniciou a batalha na cidade, Hitler e Mussolini dominavam todo o
território continental europeu e parte da Escandinávia - com a exceção dos
paises neutros, como a Suíça e a Suécia. A Noruega, apesar de sua declaração de
neutralidade, foi invadida pelos alemães e resistiu com bravura à superioridade
bélica dos agressores durante 60 dias, sendo obrigada a capitular.
As Ilhas Britânicas resistiram, com estoicismo, depois da
dramática retirada de Dunquerque, aos bombardeios quase cotidianos de Londres e
de seus centros industriais pelas bombas voadoras, e pelos aviões da Luftwaffe.
Os americanos, que lutavam no Pacífico, adiaram por muitos meses o envio de
tropas ao teatro europeu. O seu desembarque, na Sicília, só ocorreu em julho de
1943, quando, com a virada de Stalingrado, os soviéticos já haviam iniciado a
contraofensiva, com a marcha sobre Berlim. Se Hitler vencesse a guerra na Europa,
seus simpatizantes norte-americanos, entre eles o seu maior industrial, Henry
Ford, e o seu herói nacional, Charles Lindbergh, seriam provavelmente
estimulados a liderar um movimento fascista na América.
O mais pesado dos tributos de sangue e bravura no confronto
com a Alemanha Nazista coube aos soviéticos e à resistência dos guerrilheiros,
entre eles os comandados por Tito, na Iugoslávia. No inventário dos
sacrifícios, o maior foi o do povo de Stalingrado e dos soldados soviéticos que
ali combateram e morreram.
Ainda que tenham sido comunistas os comandantes da
resistência à invasão alemã de junho de 1941, eles tiveram a inteligência de
não atribuir só ao regime os louros do triunfo. Assim, deram à sua luta o
título de A Grande Guerra Pátria.
Hitler e seus ideólogos, ao planejar a Operação Barbarossa,
supuseram que os eslavos iriam saudar as suas tropas como libertadoras. Embora
isso tenha ocorrido em certas cidades polonesas e, é claro, em antigos enclaves
germânicos perdidos na Primeira Guerra Mundial, os russos imediatamente
formaram seus grupos de guerrilheiros, com homens e mulheres, trabalhadores das
cidades e dos meios rurais, sob o comando dos comunistas, mas também dos
líderes nascidos no clamor da urgência, muitos deles bem jovens.
Não era só o regime socialista que se via ameaçado; era a
Pátria que estava sendo agredida por tropas estrangeiras. Stalingrado era um
ponto estratégico para a ofensiva de Hitler. Lutou-se naquela cidade, durante
seis meses e quinze dias, minuto a minuto, de bairro em bairro, de casa em
casa, até a derrota dos alemães. Ao heroísmo dos resistentes de Stalingrado,
civis e soldados soviéticos, cabe a parcela mais significativa dos sacrifícios
da Europa Oriental, que perdeu mais de vinte milhões de seus habitantes durante
o conflito.
No tempo em que surgem, em nome da cínica “isenção” dos
historiadores, os que tentam, na Alemanha e em outros países, rever os fatos e
desculpar Hitler e os seus seguidores, é bom relembrar a Batalha de Stalingrado
e reverenciar os que ali morreram. Graças à sua bravura, conseguimos preservar
alguns dos grandes valores do humanismo.
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