Delúbio Soares (*)
É na riquíssima região sudeste do Brasil, com sua opulência
econômica e altíssimo desenvolvimento social que, paradoxalmente, nossas
mazelas se manifestam de forma mais dramática. Vivemos no mesmo espaço, onde
convivem uma classe média sólida e evidentes bolsões de pobreza, uma síntese do
que ainda há por ser feito em se tratando de distribuição de renda.
O Estado de São Paulo, sempre denominada de “locomotiva da
Federação”, é um exemplo eloquente de que nem sempre o desenvolvimento social
acompanha a pujança econômica. E, ainda, de que o conservadorismo político é
uma trave nefasta para a evolução social e a diminuição da pobreza.
Faz cerca de duas décadas que o mais rico de nossos Estados
se encontra governado pelo mesmo partido. São os mesmos quadros dirigentes, os
mesmos dogmas, a mesma ineficiência no trato das questões sociais, a mesma
incompetência na gestão da saúde, a mesma displicência na educação básica, o
mesmo preconceito contra o novo, o mesmíssimo e arraigado sentimento
reacionário em relação ao Brasil melhor surgido a partir de 2003.
Os indicadores sociais paulistas são, a cada exercício, mais
pífios que no ano anterior, denotando o descaso para com os mais carentes e a
opção preferencial pelos ricos, pelos que em verdade não precisam do Estado,
numa contrafação que agride os brasileiros. Estados com muitíssimo menos
potencialidades que o mais rico Estado, alguns situados na Amazônia e no
Nordeste, regiões ainda carentes e com grandes entraves em seu desenvolvimento,
vem apresentando já há alguns anos – particularmente já no segundo mandato do
presidente Lula – indicadores econômicos e sociais que ultrapassam em muito os
de São Paulo. Como conseguiram isso, se tem bastante menos dotação orçamentária,
potencialidades e recursos naturais? Com governos mais sensíveis aos clamores e
necessidades da população, basicamente.
Enquanto longínquos Estados amazônicos ultrapassavam a
barreira dos dois dígitos em crescimento econômico na década passada, gigantes
como São Paulo e Minas Gerais caminhavam em ritmo desacelerado, acumulando
dívidas financeiras e sociais. Os tão celebrados “choques de gestão” dos
governos tucanos eram (e são…), nada mais nada menos, que uma reza com fé cega
no breviário ortodoxo do capitalismo selvagem, do descompromisso social, do
neoliberalismo levado às últimas consequências, do desinvestimento pleno em
saúde e educação, delegando ao capitalismo selvagem missões fundamentais da
administração pública na garantização do bem-estar da população.
E o rico Sudeste, com a concentração de cerca de 45% de nossa
população em apenas 1/10 do território nacional, com imensas capitais e dezenas de cidades grandes e médias que
apresentam elevados estandares de desenvolvimento em todas as áreas,
experimenta uma situação anódina: sociedades progressistas convivendo com
governos conservadores. À exceção do promissor Espírito Santo, com
potencialidades que tem sido exploradas de forma ordenada por governos que
dialogam bem com o governo federal, e do Rio de Janeiro, que tanto em sua
capital quanto em todo o Estado experimentam memorável fase de recuperação e
crescimento em todos os setores de sua vida institucional, os demais Estados
(Minas Gerais e São Paulo), exibem vitórias de suas sociedades civis, de seus
empreendedores, de suas iniciativas privadas, muito mais do que de suas
administrações públicas, incapazes de uma interlocução fluída e democrática com
a presidência da República e o aparelho do Estado Federativo.
O PSDB e o seu decantado “choque de gestão”, uma mentira
assemelhada ao conto da Carochinha, não tem indicadores sociais, econômicos ou
de qualquer espécie que lhe sejam favoráveis nos dois gigantescos e
importantíssimos Estados. A força de Minas Gerais e o gigantismo de São Paulo são
obra de suas sociedades organizadas, de suas populações de trabalhadores, de
seus empresariados. O adjetivo tomou conta dos governos de Minas e de São
Paulo, que não dispõe de avanços substantivos em qualquer área fundamental para
o crescimento do Estado ou para a atenção devida à população.
Na década passada, no final dela, enquanto Pernambuco
alegrava o Brasil e se fazia credor do respeito internacional com índices de
crescimento econômico que chegaram aos 16%, São Paulo patinava em números
medíocres, que não chegavam aos 3% anuais. Isso é o choque de gestão ou é a
gestão em choque?
O Sudeste brasileiro, com potencialidades que fazem inveja à
Nações ricas do hemisfério norte, começa a reagir, com o alinhamento dos
governos do Estado e do Município do Rio de Janeiro para com a presidenta Dilma
e seus ministros. São Paulo, dando um basta ao tucanato e sua maneira de
governar, socialmente excludente e economicamente neoliberal, elegeu o jovem e
competente Fernando Haddad para gerir uma das maiores metrópoles do mundo,
inaugurando uma administração municipal mais humana e mais democrática.
Não tenho dúvidas de que o papel a ser exercido pelos quatro
importantes Estados da região Sudeste não só não pode ser diminuído, como
crescerá baseado em governos comprometidos com a gestão eficiente e humana.
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