terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

O SUDESTE E O DESENVOLVIMENTO NACIONAL



Delúbio Soares (*)

É na riquíssima região sudeste do Brasil, com sua opulência econômica e altíssimo desenvolvimento social que, paradoxalmente, nossas mazelas se manifestam de forma mais dramática. Vivemos no mesmo espaço, onde convivem uma classe média sólida e evidentes bolsões de pobreza, uma síntese do que ainda há por ser feito em se tratando de distribuição de renda.
O Estado de São Paulo, sempre denominada de “locomotiva da Federação”, é um exemplo eloquente de que nem sempre o desenvolvimento social acompanha a pujança econômica. E, ainda, de que o conservadorismo político é uma trave nefasta para a evolução social e a diminuição da pobreza.
Faz cerca de duas décadas que o mais rico de nossos Estados se encontra governado pelo mesmo partido. São os mesmos quadros dirigentes, os mesmos dogmas, a mesma ineficiência no trato das questões sociais, a mesma incompetência na gestão da saúde, a mesma displicência na educação básica, o mesmo preconceito contra o novo, o mesmíssimo e arraigado sentimento reacionário em relação ao Brasil melhor surgido a partir de 2003.
Os indicadores sociais paulistas são, a cada exercício, mais pífios que no ano anterior, denotando o descaso para com os mais carentes e a opção preferencial pelos ricos, pelos que em verdade não precisam do Estado, numa contrafação que agride os brasileiros. Estados com muitíssimo menos potencialidades que o mais rico Estado, alguns situados na Amazônia e no Nordeste, regiões ainda carentes e com grandes entraves em seu desenvolvimento, vem apresentando já há alguns anos – particularmente já no segundo mandato do presidente Lula – indicadores econômicos e sociais que ultrapassam em muito os de São Paulo. Como conseguiram isso, se tem bastante menos dotação orçamentária, potencialidades e recursos naturais? Com governos mais sensíveis aos clamores e necessidades da população, basicamente.
Enquanto longínquos Estados amazônicos ultrapassavam a barreira dos dois dígitos em crescimento econômico na década passada, gigantes como São Paulo e Minas Gerais caminhavam em ritmo desacelerado, acumulando dívidas financeiras e sociais. Os tão celebrados “choques de gestão” dos governos tucanos eram (e são…), nada mais nada menos, que uma reza com fé cega no breviário ortodoxo do capitalismo selvagem, do descompromisso social, do neoliberalismo levado às últimas consequências, do desinvestimento pleno em saúde e educação, delegando ao capitalismo selvagem missões fundamentais da administração pública na garantização do bem-estar da população.
E o rico Sudeste, com a concentração de cerca de 45% de nossa população em apenas 1/10 do território nacional, com imensas capitais e  dezenas de cidades grandes e médias que apresentam elevados estandares de desenvolvimento em todas as áreas, experimenta uma situação anódina: sociedades progressistas convivendo com governos conservadores. À exceção do promissor Espírito Santo, com potencialidades que tem sido exploradas de forma ordenada por governos que dialogam bem com o governo federal, e do Rio de Janeiro, que tanto em sua capital quanto em todo o Estado experimentam memorável fase de recuperação e crescimento em todos os setores de sua vida institucional, os demais Estados (Minas Gerais e São Paulo), exibem vitórias de suas sociedades civis, de seus empreendedores, de suas iniciativas privadas, muito mais do que de suas administrações públicas, incapazes de uma interlocução fluída e democrática com a presidência da República e o aparelho do Estado Federativo.
O PSDB e o seu decantado “choque de gestão”, uma mentira assemelhada ao conto da Carochinha, não tem indicadores sociais, econômicos ou de qualquer espécie que lhe sejam favoráveis nos dois gigantescos e importantíssimos Estados. A força de Minas Gerais e o gigantismo de São Paulo são obra de suas sociedades organizadas, de suas populações de trabalhadores, de seus empresariados. O adjetivo tomou conta dos governos de Minas e de São Paulo, que não dispõe de avanços substantivos em qualquer área fundamental para o crescimento do Estado ou para a atenção devida à população.
Na década passada, no final dela, enquanto Pernambuco alegrava o Brasil e se fazia credor do respeito internacional com índices de crescimento econômico que chegaram aos 16%, São Paulo patinava em números medíocres, que não chegavam aos 3% anuais. Isso é o choque de gestão ou é a gestão em choque?
O Sudeste brasileiro, com potencialidades que fazem inveja à Nações ricas do hemisfério norte, começa a reagir, com o alinhamento dos governos do Estado e do Município do Rio de Janeiro para com a presidenta Dilma e seus ministros. São Paulo, dando um basta ao tucanato e sua maneira de governar, socialmente excludente e economicamente neoliberal, elegeu o jovem e competente Fernando Haddad para gerir uma das maiores metrópoles do mundo, inaugurando uma administração municipal mais humana e mais democrática.
Não tenho dúvidas de que o papel a ser exercido pelos quatro importantes Estados da região Sudeste não só não pode ser diminuído, como crescerá baseado em governos comprometidos com a gestão eficiente e humana.

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