As imagens em que um diretor dos Correios, Mauricio Marinho,
guarda uma propina de R$ 3 mil – divulgadas na Veja e reproduzidas no jornal
nacional – foram o início da crise política que resultou na queda do Chefe da
Casa Civil do Governo Lula, José Dirceu.
O então presidente do PTB, Roberto Jefferson, que controlava
os Correios, considerou que o Governo não o protegeu e ao partido de forma
adequada, e deu uma entrevista à Folha (*) em que, pela primeira vez, usou a
palavra “mensalão”, associada a Dirceu.
Quem mandou fazer a fita foi Carlinhos Cachoeira, para vingar
Demóstenes Torres.
Quem faz essa acusação é Ernani de Paula, ex-prefeito de
Anápolis, que foi derrubado da Prefeitura numa operação de grampos
desaparecidos, como os que parecem ter a marca de Carlinhos Cachoeira e
Demóstenes Torres.
Cachoeira foi preso na Operação Monte Carlo, da Polícia
Federal.
Ernani de Paula foi casada com uma suplente de
Demóstenes.
Ela assumiria o lugar dele no Senado, se Demostenes saísse do
PFL, entrasse no PMDB, e assumisse, como combinado, o cargo de Secretário Nacional de Justiça, uma
espécie de vice-Ministro da Justiça.
Demóstenes não foi nomeado e acredita que Dirceu foi quem
vetou o nome dele.
Este ansioso blogueiro entrevistou Ernani de Paula esta
semana.
Ele fala deste vídeo e do outro, que deu início ao
enfraquecimento de Dirceu: aquele em que Valdomiro Diniz, então funcionário da
Loteria do Rio, pede dinheiro a Cachoeira.
O vídeo foi exibido dois anos depois, quando Diniz trabahava
com Dirceu.
Ernani de Paula fala também de seu amigo de infância em Mogi
das Cruzes, São Paulo, Valdemar da Costa Neto.
Valdemar era do PR, partido de José Alencar, candidato a vice
de Lula.
Atingir Valdemar
passou a ser um dos objetivos – segundo Ernani –, porque era uma forma de
atingir Alencar, Lula e Dirceu, que particiou de reuniões com Valdemar, durante
a campanha.
Eis os trechos principais dessa conversa do ansioso blogueiro
com Ernani:
Como foi feita a fita em que um funcionário dos Correios
recebe uma propina de 5 mil reais de alguém que se passava por um empresário do
Paraná e estava interessado em uma concorrência dentro dos Correios?
Essa fita foi produzida pela equipe do Carlos Cachoeira. Que
fez essa fita para poder criar uma confusão e ser publicada, como foi. Porque a
fita do Waldomiro já tinha sido entregue ( à Veja ) através de um senador do
Mato Grosso e detonou um processo de corrupção dentro do palácio com essa fita
do Waldomiro. Então esse processo todo foi criado. E não foi o mensalão aquela
ideia de que a gente tem do mensalão de que todos os deputados receberam todos
os meses. Tanto é que isso não aconteceu. Tivemos um ou outro, enfim… Mas
pegaram ícones para que pudessem pegar o governo logo em seu início e
enfraquecê-lo.
Então a sua tese é de que a fita do Waldomiro, feita pelo
Carlinhos Cachoeira, é do mesmo objetivo, tem a mesma função da fita dos
Correios?
Com certeza. Com certeza. Até porque eu sofri isso quando fui
prefeito da cidade de Anápolis. Eles usaram não com câmera. Mas usaram com
fitas cassete.
De áudio?
De áudio, e depois desmentindo. Quem fez isso? Para ir na CPI
para inventar o factóide. Depois de feito o processo.
A versão que existe é de que a fita dos Correios teria sido
feita por um empresário, um suposto empresário do Paraná, que queria participar
de uma concorrência. Quem fez na verdade a fita dos Correios na sua opinião?
Na minha opinião foi feito por essa equipe do Carlos
Cachoeira.
Quem?
O nome não me recordo. … São pessoas que saíram do serviço
secreto de Brasília, de espionagem, dessa coisa toda, e estão aposentados, sem
ter o que fazer, ficam espionando a vida de todo mundo.
E essa pessoa, essa pessoa é ligada ao Carlinhos Cachoeira?
Sim. Sim. Ligada ao Carlinhos Cachoeira.
É funcionário do Carlinhos Cachoeira?
Não, funcionário eu não posso dizer de carteira assinada. Mas
deve ter sido feito um trabalho, um trabalho encomendado por ele. Para quem
interessasse. Para poder alimentar uma crise que ela não existia. O tal chamado
mensalão, que não existe o mensalão.
Essa reportagem
descrevendo esse esquema de corrupção e essa propina dos Correios foi publicada
na revista Veja por um jornalista chamado Policarpo. O senhor sabe se o
Policarpo tem ligações ou tinha ligações com o Carlinhos Cachoeira?
Eu o encontrei uma vez dentro de sua empresa em Anápolis
chamada …. (Vitapan), uma indústria farmacêutica ali no distrito
agroindustrial.
O senhor encontrou o Policarpo em uma empresa do…
Do Carlinhos Cachoeira, sim. E o Carlinhos Cacheira disse que
ele tinha vindo para conversar com ele. Eu me retirei. Fui embora. Eu perguntei
quem era. Ele falou quem era.
O Carlinhos Cachoeira tem que ligação com o senador
Demóstenes Torres?
Eles são bastante amigos e hoje, me parece, sócios, né.
Porque tudo o que a imprensa tem dito. As fitas gravadas, os
recursos. Enfim. Parece que aí há uma sociedade deles.
Qual é a sua preocupação em revelar esses fatos. Qual é o
interesse que o senhor pode ter em revelar esses fatos?
Olha, eu conheço e fui prefeito de Anápolis. Uma bela cidade.
Tive o prazer de governar lá por trinta meses. Mas eu sofri na pele o que está
acontecendo, o que aconteceu no mensalão. Eu nunca pude falar. Eu tive lá
problemas de gravações. Depois quem gravou foi e disse em uma CPI que eu teria
pego recursos dele. Desmentiu. Eu tenho documento disso, em cartório. E eu
sofri na pele. Quem é que fez, lá, esse trabalho? Para mim, são três pessoas
fundamentais no processo. Tem aquele que faz o trabalho em campo, no varejo,
aquela… O trabalho mais sujo. Subterrâneo. O espião, o esconderijo e tal.
Esse quem é no caso?
Carlinhos Cachoeira. Depois você tem uma equipe que é
política. Depois você tem aquela que vai explodir. Um setor da imprensa é
importante. E no meu caso específico eu tive um governador de Estado, Marconi
Perillo. Que, junto com o Demóstenes, já combinado, por interesses políticos no
futuro, não queria que eu fosse candidato a governador, fez uma intervenção no
município, aonde o vice-governador sentou na cadeira de prefeito, e eu tive o meu
mandato cassado.
O seu mandato foi cassado em Anápolis?
Foi cassado pela Câmara dos Vereadores, mas foi cassado pelo
Marconi Perilo primeiro. Só em Goiás acontece uma coisa dessas. Fazer uma
intervenção na maior cidade do Estado e ninguém falar nada.
A sua mulher é suplente do senador Demóstenes?
Ela foi suplente por oito anos, mas eu quero deixar claro que
ela nunca assumiu nenhum dia do mandato, coisa que a cidade lamentou muito,
porque queria ver a sua representante no Senado Federal. Eu acho até que não
queriam dar regalias, intimidades, e assumiram, porque não podia, né. Falavam
na época. Porque não fica bem um senador passar para um suplente a sua vaga.
Fica parecendo que teve negociata, teve isso, teve aquilo. Ela nunca assumiu,
porque nunca teve esse tipo de contato conosco, mas agora me parece que era
justamente para não ficar sabendo o que acontecia e aconteceu lá.
Existe a versão de que o senador Demóstenes era candidato a
um cargo muito importante, o cargo de Secretário Nacional de Justiça, no
Ministério da Justiça, no governo Lula, e que esse cargo daria a ele a
oportunidade por exemplo para lutar pela legalização do jogo no Brasil…
Exatamente. Como lutou. Teve um trabalho no Congresso nesse
sentido.
E ele não foi aceito para ocupar essa função?
Não. Essa negociação
política, eu fiquei sabendo de bastidores, até por um deputado federal lá do
meu Estado Ele (Demóstenes) estava cotado, e estava muito chateado porque teria
de sair do partido (PFL) , se tornando aí uma pessoa importante, um novo líder,
talvez. … E depois isso esfriou e não andou e aquela coisa toda… Então veio ali
do Palácio, da Casa Civil, algum tipo de veto, alguma coisa que incomodou ou
deixou esse pessoal incomodado. Porque era um cargo importante, né.
Nessa interpretação, o
senador Demóstenes estaria, nesse episódio dos Correios, se vingando do veto do
Zé Dirceu?
Claro, claro. Você vê,
eles estavam juntos desde o início, nós estamos sabendo pela imprensa, pelas
escutas da Polícia Federal. Não tenha dúvida de que nós tivemos aquele varejo,
nós tivemos a parte política que deu o start, no Congresso, no Senado, nós
tivemos a mídia, e depois tivemos outras pessoas que foram acionadas de acordo
com a necessidade para dar andamento e crescimento nesse tal do mensalão, nessa
CPI.
O senhor foi procurado de alguma maneira, conhecendo
Anápolis, conhecendo Valdemar da Costa Neto, foi procurado para dar informação
ou prejudicar o Valdemar da Costa Neto que se tornou um dos réus do mensalão?
Foi a ex-mulher dele Maria Cristina Mendes Caldeira me
procurou através de uma pessoa, um amigo em comum.
O senhor pode dizer quem é esse amigo em comum?
Posso, é um jornalista, chamado Hugo Stuart. Eu o encontrei
um dia na Câmara, ele falou: olha, eu estou fazendo determinada matéria, que
era enfim sobre esse assunto…
Ele de que órgão de imprensa era?
Era da revista Isto É. Ele falou olha, tem uma pessoa, que é
a Maria Cristina, que talvez te ligue. Vá te conhecer. Aquelas coisas. Ela
ligou mesmo, me procurou na Fazenda, passou lá dois dias, mas realmente querendo
que eu fosse depor contra o Valdemar nesse processo ou num processo de divórcio
que ela estava movendo contra ele. Enfim, queria que eu falasse mal do Valdemar
para poder alimentar esse processo. Tornei a encontrá-la aqui no escritório de
uma pessoa chamada Bolonha Funaro…
Que é considerado um doleiro e que depos numa CPI, na
qualidade de doleiro, e se beneficiou de um regime de delação premiada.
Exatamente, exatamente.
E qual era o papel do doleiro?
Pois é, eu também fui procurado por ele … Eu falei que estava
indo para a Universidade do meu pai, para capitalizar recursos, e ele tem lá
uma financeira. E ele disse que poderia viabilizar isso em algum banco. Então
ele foi a Goiânia conversar comigo. Mas eu vi que a intenção dele de verdade
era que eu falasse também mal do próprio Valdemar, em qualquer tipo de
processo, em qualquer tipo de depoimento.
Logo após essa conversa em Goiânia ele marcou um almoço aqui no Rodeio,
em São Paulo, e ele… Toca o telefone, eu vou atender, é um repórter da revista
Veja. E logo em seguida, almoçamos e tal… E à noite marcamos um jantar … Mas o
mais estranho desse episódio…
Mas só para não interromper. Nós temos aí o doleiro
participando da mesma operação para obter depoimentos seus contra o Valdemar
Costa Neto.
Para poder cada vez mais configurar que havia o mensalão. O
que eu achei mais estranho é que a minha ex-mulher recebeu um telefonema do
senador Demóstenes Torres dizendo que um reporter da Revista Veja tinha ligado
para ela e pedido o meu telefone para ela. Ela passou o telefone. A
coincidência é que no mesmo horário eu estou à mesa do Rodeio sentado com o
Bolonha Funaro e toca o telefone.
O senhor teme que essa denúncia possa lhe provocar algum tipo
de problema pessoal?
Em que sentido? De morte, política?
Qualquer uma.
Olha, hoje eu não faço parte de nenhum partido político. Eu
tenho uma história, eu tenho uma vida, esse processo feito por mim lá em
Anápolis, eu sei que nem todo mundo acerta aquilo que gostaria. Mas também nem
todo mundo erra para fazerem aquilo que fizeram. Eu acho que foi uma grande
injustiça. A população da minha cidade, o meu estado merecia, os meus amigos, a
minha família, mereciam ter esse esclarecimento. Você não tenha dúvida que isso
foi armado. Que isso nunca existou em termos de mensalão. Foi para
desestabilizar, foi uma represália. Só que ela pegou num volume, de tal forma,
que aí as coisas se complicaram.
O senhor não tem dúvida da relação entre Carlinhos Cachoeira
e Demóstenes Torres?
Nenhuma. Muito pelo contrário. Eu estive lá com ele junto.
Aliás aquele rádio de que tanto falam…
O Nextel?
Eu tive um na campanha dele em 2006.
Quem lhe deu?
Carlinhos Cacheira. Tive, ele me deu um, era uma cortesia
durante a campanha
O senhor chegou a pedir ao empresário Carlinhos Cachoeira,
dono de uma empresa de Genéricos, recursos para a sua campanha?
Não. Não. Não o conhecia. Eu conheci o Carlinhos Cachoeira
pessoalmente depois de eleito prefeito.
E o senhor não tem
dúvidas da relação entre eles e a revista Veja?
Eu acho que não tem
mais dúvida. Eu acho que quem duvidar de alguma coisa… Eu não sei se é
maliciosamente ou não. Se é comercialmente ou não. Porque o repórter a função
dele é buscar as notícias na hora em que ela é produzida. E as fontes às vezes
são aquelas não tão republicanas, vamos chamar assim.
E para reforçar. Aquele vídeo famoso, que deu origem ao
mensalão, deu origem à denúncia do Roberto Jefferson, contra o José Dirceu, o
senhor Marinho recebendo 5 mil reais de propina, aquele vídeo é obra do
Cachoeira?
Sim, claro.
Dito por ele?
Ele me contou.
( Ernani de Paula contou também que Carlinhos Cachoeira não
só disse que tinha mandado fazer o vídeo dos Correios, como mostrou a ele a
camêra que tinha sido usada, uma camera escondida na lapela do paletó. )
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