O golpe e a ditadura
militar no Brasil foram aplicação direta da Doutrina de Segurança Nacional.
Esta foi a doutrina elaborada pelos EUA e que comandou suas ações durante a
guerra fria.
Seu conteúdo totalitário
vem das concepções positivistas, que buscam transferir modelos da biologia para
as sociedades contemporâneas. O modelo de funcionamento de um corpo humano
saudável daria o critério para o funcionamento harmônico das sociedades, com
seu critério finalista, em que cada parte contribui para o bom funcionamento do
todo. Como consequência, qualquer segmento que não esteja nessa lógica, estaria
sabotando o funcionamento harmônico da totalidade e deveria ser extirpado.
Essa lógica deu numa
proposta totalitária, que não comporta o conflito, a divergência, a
diversidade. A Doutrina de Segurança Nacional recolheu essa concepção e lhe deu
um caráter militar, em que as FFAA de cada país – e as dos EUA no plano
internacional – seriam os responsáveis pelo funcionamento harmônico das
sociedades.
Inserida na lógica da
guerra fria, significava que qualquer divergência faria o jogo dos que queriam
destruir o corpo social, sua ação deveria ser atribuída a uma inserção de vírus
de fora para dentro do organismo social, deverá ser combatida com toda a força
e ser extirpada.
A harmonia interna
estava identificada com economias de mercado e com os valores da ideologia
liberal. As ameaças, aos perigos do comunismo internacional, a que deveriam ser
associadas todas as ações, organizações e pessoas que objetivamente estivessem
obstaculizando o livre funcionamento do mercado e das instituições liberais.
Na sua aplicação
concreta no Brasil, os opositores eram catalogados como agentes da subversão
internacional, patrocinada pela URSS, pela China e por Cuba. Os editoriais do
Estadão usavam a expressão de governo “petebo-castro-comunista” para catalogar
o governo do Jango. Os outros órgãos da mídia seguiam a mesma linha,
consideravam que a democracia estava em risco e pregavam uma ação militar para
resgatar a liberdade. As marchas que todos apoiavam se auto intitulavam
“Marchas da família com Deus pela propriedade” e organizavam rezas domésticas
com o lema “Família que reza unida, permanece unida”. Estariam em perigo os
valores mais tradicionais do país: a família (as crianças poderiam ser mandadas
para a Rússia e Cuba), a religião (que seria perseguida e proibidas as escolas
religiosas) e a propriedade (que seria abolida e expropriada pelo Estado).
A concepção
funcionalista desembocou no lema da ditadura: Brasil, ame-o ou deixe-o”, com
plásticos em carros dos adeptos do Brasil apropriado pelos militares. O Estado
foi militarizado e transformado no quartel general das FFAA, desde onde
controlavam o país através do SNI – Sistema Nacional de Informaçoes –, buscando
transformar o país numa caserna sob controle dos militares.
Foi em nome dessa
concepção totalitária que a ditadura militar buscou expurgar os que considerava
riscos para seu controle militar do país. Prendia arbitrariamente, interrogava
com os mais brutais métodos de tortura, fuzilava e fazia desaparecer os corpos
dos que considerava opositores.
Essa mesma doutrina
comandou a golpe e a ditadura na Guatemala, desde 1954, fazendo do país o mais
massacrado de todo o continente. Valeu para as ditaduras militares no Chile, no
Uruguai, na Argentina e orientou a ação da direita por todo o continente.
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